A Editora Universidade de Brasília (EDU) e a Biblioteca Central (BCE) estão com ações voltadas à comunidade acadêmica para discutir, divulgar e facilitar o acesso aos trabalhos de escritoras negras brasileiras. As iniciativas envolvem desde ajustes no acervo da BCE até concursos e encontros para valorizar a produção intelectual e ficcional de mulheres negras.
INDEXAR É FACILITAR – Indo além do incentivo à leitura, a Biblioteca Central realiza o projeto Visibilidade na BCE – Escritoras negras no catálogo da BCE: um foco na literatura brasileira. A iniciativa promove a indexação (organização em formato de índice) de obras literárias brasileiras de autoria de mulheres negras do catálogo Pergamum e do Sistema de Bibliotecas (SIB) da UnB. O intuito é buscar melhores formas de categorizar estas produções e facilitar a busca pelo público.
“Queremos atualizar de maneira pontual, assertiva e propositiva a indexação de obras de literatura, buscando por um lado, construir engajamento com os temas, e por outro, ampliar o vocabulário controlado do catálogo, de maneira a expandir a indexação de literatura progressivamente”, explica a bibliotecária e idealizadora, Fernanda Cordeiro.
A iniciativa está dividida em três etapas. A primeira é voltada para a identificação de escritoras negras brasileiras de ficção. “O nosso catálogo não aponta a autoria negra, então, se você não conhecer nenhuma autora negra e chegar na biblioteca procurando um livro, não o encontrará facilmente. O projeto pretende colocar essas obras de ficção em evidência, fazendo um aprimoramento, para conseguirmos encontrá-las mais facilmente”, conta.
O segundo momento será de indexação, ou seja, de categorização da obra dessas autoras em um grupo (escritoras negras), para facilitar o consumo desse material com busca mais rápida e abrangente. Atualmente, os livros são classificados somente como literatura brasileira.
A parte final é a verificação e especificação do assunto que essas obras tratam. Um exemplo dado pela bibliotecária Fernanda Cordeiro é de obras de autoras negras que abordam o racismo: este termo poderá aparecer como descritor (palavra-chave) dos livros, o que permitirá que estudantes e pesquisadores façam buscas a partir da palavra e encontrem, além de obras acadêmicas, as ficcionais para embasar suas pesquisas.
A iniciativa já apresenta resultados preliminares. Até o momento, foram identificadas, com base em teses, dissertações, pesquisas e outras fontes, 121 autoras negras de ficção existentes no Brasil. Destas, 48 estão com obras na BCE. Ao tentar buscá-las por nome, no entanto, apenas 25 eram encontradas no catálogo de fácil acesso.
Desde o início do projeto, 23 autoras tiveram o registro ajustado ou foram incluídas nos cadastros da Biblioteca. "Agora, as 48 autoras já podem ser encontradas em buscas por nome no nosso catálogo. Como colocamos 23 autoras, podemos dizer que temos um aumento de 92% de visibilidade. Ainda teremos mais formas de aumentar a visibilidade das obras em si, mas, no momento, estamos tratando apenas de buscas por nome", detalha Fernanda.
Sobre a motivação para conduzir o projeto, ela explica que “a literatura é um direito essencial. Ela nos leva a lugares fantásticos. Mas ela pode nos levar a um mundo muito mais magnífico, que é o mundo que queremos alcançar enquanto sociedade. Um mundo com mais igualdade, mais plural, mais diverso e para todos”.
Segundo Fernanda, o projeto piloto limita-se à literatura brasileira, mas há perspectivas que, no futuro, o mesmo trabalho seja feito com escritoras negras de todas as nacionalidades.
CELEBRAR A LITERATURA – Para chamar a atenção da comunidade interna e externa à UnB para a produção intelectual de mulheres negras no Brasil, além de fomentar a manutenção da cultura e do conhecimento por meio de inquietações e debates que possam provocar mudanças na sociedade, a Editora UnB (EDU) realiza, ao longo do ano, o projeto cultural Pensadoras e Autoras Negras Brasileiras: uma Reescritura do Brasil.
“A intenção é ser um convite à reflexão sobre nossa realidade a partir do olhar dessas mulheres que transmitem, na sua literatura, pensamento, filosofia, uma visão de mundo, uma visão de Brasil, bastante particular. Elas olham para o país a partir de um ponto de vista daquelas que costumam ficar à margem, que não ocupam as posições hegemônicas”, explica a professora Germana Henriques, diretora da EDU.
Entre as ações previstas, está o Clube do Livro, que realizará nove encontros para debates de obras acadêmicas e de ficção escritas por mulher negras. As atividades serão sempre às terças-feiras, às 17h, na Livraria da Editora UnB, localizada ao lado do Banco do Brasil, no campus Darcy Ribeiro, e vão de abril a dezembro.
Incentivar a produção artística que valorize pensadoras e autoras negras é proposta do I Concurso de Ilustrações, que selecionará dez ilustrações inéditas de alunos da Universidade, na temática, para exposição durante a 1ª Festa do Livro da UnB, com realização de 19 a 21 de setembro. As inscrições vão até 12 de maio.
A 1ª Festa do Livro da UnB reunirá editoras do país para atenderem ao público acadêmico da região, além de prever uma programação cultural. “Tudo isso para fortalecer e divulgar os textos das pensadoras e autoras negras brasileiras, a fim de mergulhar numa realidade que é escamoteada todos os dias”, expõe Germana Henriques.
Já o II Concurso de Ensaios selecionará 32 ensaios autorais para integrar uma coletânea única e digital, a ser disponibilizada em acesso aberto pelo Portal de Livros Digitais da UnB. As inscrições estão abertas até 16 de junho e o resultado será divulgado durante a Festa do Livro da UnB. As produções do Concurso de Ilustrações também irão compor a publicação.
Podem participar de ambos os concursos estudantes regularmente matriculados em cursos de graduação e pós-graduação na Universidade; já o de ensaios também é aberto a servidores técnico-administrativos e docentes.
Além destas iniciativas, a Editora UnB desenvolveu um planner para o ano de 2023 que homenageia a literatura de mulheres negras. O material está disponível para download gratuito. A versão impressa, com capa dura, pode ser comprada na Livraria Editora UnB, no campus Darcy Ribeiro.
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