INTERNACIONALIZAÇÃO

Imunizante já testado na Europa chega ao Brasil por meio de cooperação entre a Universidade e o laboratório Vaxinano

Pesquisadores aplicaram o imunizante intranasal contra a toxoplasmose em oito macacos do Centro de Primatologia da UnB, na Fazenda Água Limpa. A vacina já foi testada em centenas de primatas na Europa e agora será avaliada em animais no Brasil. Foto: Beatriz Herren 

 

Por meio da colaboração entre pesquisadores da Universidade de Brasília e da empresa de biotecnologia Vaxinano, teve início na última semana de abril um experimento piloto de vacinação de macacos contra a toxoplasmose. Oito macacos-prego (Sapajus libidinosus) do Centro de Primatologia da Universidade de Brasília (UnB), localizado na Fazenda Água Limpa (FAL), receberam a primeira dose do imunizante intranasal VXN-Toxo, produzido pela startup francesa. As doses foram patrocinadas pela Phileo by Lesaffre.

“A expectativa é que nos próximos meses possamos ampliar o número amostral, primeiro para o Zoológico de Brasília, depois com parcerias para vacinar animais de cativeiro de outros estados, que tenham interesse em participar da pesquisa”, afirma a professora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) Liria Hirano, coordenadora do projeto.

O estudo da imunização contra toxoplasmose em primatas não humanos cativos é pioneiro no Brasil e na América do Sul e tem grande relevância para a proteção de primatas brasileiros, bem como para a conservação da fauna nacional. Testagens foram feitas antes e após a vacinação, para acompanhamento da resposta imunológica e da saúde dos animais.

Os exames serão realizados após cada aplicação, com 30 dias, seis meses e um ano de intervalo da primeira aplicação. “A gente ficou muito feliz em participar do projeto pois, além de fazer a análise da saúde desses animais e da eficácia da vacina, também receberemos a transferência dos protocolos de análise da resposta imune gerada pela Vaxinano nos animais”, detalha Giane Paludo, coordenadora do Laboratório de Patologia Clínica Veterinária (LPCV).

Da esquerda para a direita, equipe responsável pela pesquisa na UnB: Juliane Lanza, Marcela Scalon, Mariana Mattioli, Giane Paludo, Liria Hirano,Taiã Mairon. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

PESQUISA – “Ainda é uma vacina em desenvolvimento mas é também a única disponível, que foi estudada especificamente para primatas neotropicais”, pontua a pesquisadora Juliane Lanza, coordenadora de projetos da Vaxinano. “A gente já testou na Europa em mais de 600 animais, sem nenhuma morte e podemos afirmar que ela tem várias características que a destacam, sendo mais fácil de ser aplicada, eficiente na geração de uma resposta imune relacionada à proteção dos animais contra o parasito e não-tóxica”, explica a especialista.

“Na Europa, havia surtos em zoológicos, que hoje já podem adquirir essa vacina por meio de autorização especial. Aqui no Brasil, onde o número de animais é muito maior, a ideia é expandir os estudos por meio da colaboração científica, ampliando o número de testagens e a confiabilidade dos dados já obtidos, para depois conseguir a licença”, complementa Juliane.

Segundo ela, a Vaxinano é especialista no desenvolvimento pré-clínico e clínico de vacinas intranasais, com tecnologia baseada em nanopartículas de base biológica utilizada para a entrega dos antígenos através da mucosa. "Há cerca de 10 anos foram desenvolvidos a formulação, a nanopartícula e o antígeno, que se diferem das outras vacinas que contêm adjuvantes, substância adicionada para potencializar a resposta imunológica e podem causar reações tóxicas. Agora, estão sendo testados em diferentes modelos", detalha.

"Já vacinamos diversos animais contra a toxoplasmose e também estamos desenvolvendo, em paralelo, projetos em outros estados no Brasil. Em Santa Catarina, para a vacinação de toxoplasmose em gatos; em Curitiba contra a colibacilose em aves; em Pernambuco contra a leishmaniose em cães e com a Fiocruz do Rio de Janeiro, contra a esporotricose em gatos", enumera a cientista.

A pesquisadora mineira Juliane Lanza é farmacêutica. Ao longo do doutorado desenvolveu uma formulação com nanopartículas para vacina contra a leishmaniose. Após um estágio pós-doutoral em Paris, foi contratada pela empresa francesa Vaxinano. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

TOXOPLASMOSE – Bastante conhecida pelas restrições feitas a mulheres gestantes, a doença é causada por meio da infecção pelo protozoário chamado Toxoplasma Gondii, capaz de infectar animais de sangue quente, como aves, mamíferos e humanos.

O protozoário pode estar presente na natureza e causar a infecção de pessoas por meio das fezes de felinos infectados e também pela ingestão de carne mal cozida de animais contendo cistos do protozoário. Geralmente, a toxoplasmose não apresenta sintomas graves e não é contagiosa.

Por outro lado, ela pode representar um sério risco para pessoas com sistemas imunológicos enfraquecidos (HIV, câncer, transplantes) e para mulheres grávidas. Durante a gravidez, essa infecção é grave porque pode causar abortos, afetar o desenvolvimento do feto e, posteriormente, do recém-nascido, causando danos irreversíveis ao cérebro ou aos olhos.

No mundo animal, surtos de toxoplasmose mortal são regularmente relatados em zoológicos de todo o mundo, ameaçando muitas espécies, inclusive primatas em extinção. Não há vacina ou tratamento preventivo para essa doença. Nesse contexto, a Vaxinano desenvolveu a primeira vacina nasal inativada contra a toxoplasmose.

“Nos casos dos primatas, a vacinação não interfere no ciclo de transmissão humana. Eles são hospedeiros intermediários, como nós. Mas os primatas neotropicais são muito mais sensíveis à doença e morrem de forma aguda, sem possibilidade de tratamento, o que é muito triste”, explica Mariana Mattioli, veterinária do Zoológico de Brasília e egressa da FAV.

“Não há forma eficaz de prevenir a infecção de primatas em cativeiro, principalmente em locais urbanos, onde eles podem ser facilmente infectados por solo, alimento ou fezes de felinos contaminados”, explica Mariana. “Por isso, quando a Vaxinano entrou em contato com o Zoológico de Brasília, há mais ou menos dois anos, tivemos interesse e buscamos a UnB para nos ajudar”, relembra a pesquisadora.

 

 

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