Quem passa hoje pelo Instituto Central de Ciências (ICC) na Universidade de Brasília pode observar o grande jardim composto por flores secas. O que poucos sabem, é que, conhecendo algumas técnicas de manejo, é possível criar belos arranjos com esses exemplares, seja para enfeitar suas casas ou seus locais de trabalho.
Com a intenção de capacitar servidores e terceirizados da UnB nesse sentido, integrantes do projeto de extensão Jardim de Sequeiro, premiado internacionalmente em 2022, ofereceram uma oficina no ICC Sul na última terça (23).
“Já tinha tempo que estávamos namorando essa oficina. Agora abriu uma exclusiva pra servidores, aí resolvemos fazer todo mundo”, afirma a servidora da Editora UnB Ana Alethea, que fez o curso ao lado de cinco colegas de setor. Sofia Rosa é uma delas. A servidora se declara apaixonada pelos jardins e afirma que faria a oficina novamente, se possível.
"Conhecemos algumas das espécies, conhecemos um pouco do processo da plantação. Teve o florescer, agora está secando, aí vai ter que tirar tudo mesmo para ‘limpar’ o jardim pra replantar. E nesse ‘limpar o jardim’ que estamos aqui aproveitando pra fazer nossos arranjos, é genial”, avalia Sofia.
“A cada etapa eles fazem vários workshops que nos deixam inspiradas e apaixonadas nesse jardim. Da próxima vez, trago um vaso bem grande! É muito legal o efeito, não importa o que se faça, tudo fica lindo”, reforça a assistente em administração da Editora.
Sem nenhum conhecimento prévio sobre arranjos, o servidor do Departamento de Música Alexsandro Bandeira resolveu se arriscar na oficina. Para ele, foi muito interessante dar um novo uso para as flores secas.
“Alguém plantou, teve todo o cuidado de cuidar pra manter verdinho e agora estamos pegando a parte seca do jardim e dando um novo uso. E achei muito interessante aqui a convivência com os insetos, tivemos que ter o cuidado de tirar as aranhas. Também pegamos um gravetinho de flores e quando balançamos, fez barulho de um chocalhozinho, que na verdade era a semente. Então já fomos jogando assim com esse cuidado pra replantar o que estamos colhendo, né? É uma troca”, ensina.
Na condição de estagiária do Departamento de Música, a estudante de pedagogia Mandora Gomes também participou da oficina. Além de descobrir mais sobre os tipos, cores e texturas das flores, ela se sentiu mais integrada à Universidade a partir desta iniciativa.
“Sempre passamos por aqui vemos esse jardim, mas não sentimos que pode mexer. Não sentimos que é uma coisa nossa, sabe? Tem o cercado, parece que não pode entrar. Então essa oficina foi muito boa pra isso, pra nos sentirmos parte da UnB, integradas e sentir que é nosso, que podemos ir e cuidar”, destaca.
Para a pesquisadora colaboradora da Fazenda Água Limpa (FAL) e aluna do Programa de Pós-Graduação da FAL Kamila Karen, o momento da oficina foi ao mesmo tempo lúdico e desafiador.
"Me diverti bastante e teve o conhecimento sobre as plantas, que a gente acaba adquirindo com a confecção dos arranjos, aprendendo um pouquinho mais sobre as plantas secas, sobre o Cerrado e como é que esses arranjos podem ficar funcionais e bonitos. Não precisa ser só uma planta verde sempre dentro de casa, os arranjos secos também são bonitos”, defende Kamila.
INICIATIVA – O Jardim de Sequeiro foi idealizado em 2019 e começou a ser implementado em 2020, a partir de parceria entre a Prefeitura da UnB e a Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV). O intuito era repaginar os canteiros do ICC com alternativa paisagística experimental de baixo custo.
"A partir do Jardim de Sequeiro, desenvolvemos melhor algumas técnicas de semeadura direta em jardins mistos, que estão sendo utilizadas também em outros canteiros e em rotatórias. Então tem contribuído pra aprendermos a fazer um jardim mais barato, com bom retorno e principalmente pra dar visibilidade a essa área do paisagismo como campo em que é possível inovar, em que é possível fazer pesquisa, extensão”, explica o professor da FAV e coordenador do projeto, Júlio Pastore.
“Hoje temos alunos de vários cursos da UnB envolvidos, então mostra uma pluralidade de visões e de campos”, acrescenta o docente. Todos os anos há seleção de voluntários para tocar o projeto. Maria Eduarda Picorelli, graduanda do curso de Engenharia Florestal, e Marco Porto, egresso dos cursos de Artes Plásticas e Arquitetura, compõem a equipe atual.
“Já tinha organizado a oficina de arranjo para os voluntários, mas foi a primeira vez que participei da oficina de arranjos secos pra servidores e pra pessoas que não eram integrantes do projeto. É uma experiência incrível! E é muito importante essa valorização do jardim seco. Moramos num bioma que por seis meses no ano está seco, né? Então é super importante essa oficina e ainda poder trazer um pouco do jardim para as salas, as secretarias”, acredita a coordenadora da oficina para servidores e terceirizados, Maria Eduarda Picorelli.
Há um mês como voluntário, Marco Porto observa as mudanças da UnB em dez anos, seu tempo de formado. "Voltar pra UnB é muito gostoso, é muito bom. Chegando aqui fui começando a perceber coisas. Tem muita coisa diferente e uma delas é o jardim do sequeiro, que não tinha, ali não tinha praticamente vegetação nenhuma e agora está todo bem cuidado, de uma forma tão diferente, tão bonita”, avalia Marco.
AGENDA – O projeto Jardim de Sequeiro está com a programação sortida neste fim de maio e início de junho. Uma nova edição da oficina de arranjos secos voltada exclusivamente para servidores e terceirizados estava marcada para 30 de maio, mas foi cancelada para que o público possa aderir às manifestações em frente ao MEC, previstas para o mesmo dia.
Nos dias 1 e 2 de junho, está prevista oficina aberta também para estudantes, e ocorrerá das 9h às 11h, no ICC Norte. No dia 30 de maio haverá a oficina de Coleta de Sementes, das 15h30 às 17h30 no ICC Sul, aberta ao público. Todas as iniciativas são gratuitas. Para se inscrever e acompanhar a agenda do projeto, clique aqui.
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