O projeto da Universidade de Brasília responsável pela criação de ventilador mecânico com descontaminação de ar transformou-se em uma startup. Com a mudança, o foco agora é levar o produto para o mercado. O protótipo surgiu em março de 2020 durante a pandemia de covid-19, época marcada pela falta de respiradores nos hospitais devido a alta demanda de internações causadas pela contaminação do vírus.
Nomeado Ticê, o ventilador mecânico consegue reduzir infecções respiratórias por vírus ou bactérias em ambientes hospitalares e domiciliares. Docente do Departamento de Engenharia de Produção (EPR/FT/UnB), Sanderson Barbalho coordena a ação e aponta o diferencial do aparelho.
“Ele [ventilador mecânico] tem um descontaminador de ar e o paciente com problema respiratório, seja uma pneumonia prolongada ou a própria covid-19, não vai contaminar as pessoas que estejam próximas a ele. E o ar que o paciente vai inserir, também não vai ser contaminado com o do hospital”, descreve.
O produto feito na UnB é composto em maior parte por materiais projetados e construídos pelos integrantes da ação. O doutorando em Engenharia Mecatrônica (ENE/FT/UnB) Guilherme Tabatinga informa que “mais de 70% do ventilador foi idealizado pela equipe de Mecânica. Isso ajudou a baratear mais o nosso projeto e tirou a dependência de peças que poderiam ser importadas”.
MUDANÇAS – A startup surgiu quando o projeto Desenvolvimento de respirador mecânico de baixo custo com sistemas de controle de volume e pressão e adequado às condições sanitárias para pacientes em UTI devido à covid-19 estava terminando e o coordenador da ação percebeu a necessidade de continuar e tornar o ventilador Ticê um equipamento comercial.
“A gente estava bem próximo [do produto] e, se a equipe se desmobilizasse, ficaríamos com um protótipo no laboratório quase pronto e sem chegar nos finalmentes”, diz o professor Sanderson Barbalho.
A solução encontrada foi submeter o ventilador mecânico a edital do Programa Centelha, promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Com a aprovação, a empresa recebeu investimentos do Programa e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMPRAPII), junto ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), nos valores de R$ 60 mil e R$ 500 mil, respectivamente.
“O objetivo da startup é desenvolver esse mercado para as características específicas do ventilador Ticê, que são inovadoras“, destaca o coordenador.
Sanderson Barbalho deseja que o ventilador Ticê chegue ao mercado e que a equipe consiga realizar mais pesquisas: “Nessa área de ventilação mecânica no Brasil, não há muitas pesquisas realizadas. Existem algumas empresas que fazem ventiladores mecânicos, mas não há uma grande parceria com hospitais e Universidades especificamente para desenvolver a tecnologia, novos métodos de ventilação e utilização de inteligência artificial”, conta.
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NOVIDADES – O projeto criou também um aplicativo móvel que permite aos médicos acessarem os dados sobre a ventilação mecânica do enfermo.
O professor Fábio Henrique Oliveira do Instituto Federal de Brasília (IFB) explica os benefícios do uso do app, que permite ao profissional de saúde ter “a possibilidade de acompanhar o paciente na ventilação e receber os alarmes.” E conclui: “Se você tem um alarme que pode ser atendido em menos tempo, é melhor para o paciente, que certamente vai ficar com menos sequelas”.
O docente Sanderson Barbalho revela a realização de pesquisas de protótipo para implementar o modo de respiração não invasiva. A previsão é que as atualizações sejam concluídas em um ano. “Vamos ter um produto que atende a todas as demandas de ventilação”, completa.
Saiba mais sobre o ventilador mecânico com descontaminação de ar em matéria da UnBTV:
*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.