A Universidade de Brasília, com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), desenvolveu o protótipo de um tipo de respirador mecânico com custo-benefício bem mais em conta que os equipamentos vendidos atualmente no mercado.
O Ticê, como foi apelidado, deve custar até 65% a menos que o mesmo tipo de produto considerado de primeira linha no mercado. Um respirador mecânico é oferecido ao preço que varia entre R$ 60 mil a R$ 100 mil. “Nós fizemos um produto para que possa ser vendido na faixa dos R$ 30 a R$ 35 mil”, estima o coordenador do projeto, Sanderson César Macêdo Barbalho.
Professor do Departamento de Engenharia de Produção da UnB, Sanderson disse que utilizou mais de 300 componentes eletrônicos no respirador mecânico. As peças foram adquiridas no mercado pela Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), instituição parceira da pesquisa além da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), do Instituto Federal de Brasília (IFB), da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS) e da Universidade de São Paulo (USP).
A novidade nesse tipo de respirador em relação aos outros é a introdução de um descontaminador com uso de luz ultravioleta. Segundo Sanderson, o equipamento já faz o trabalho de limpar o ar que sairá do equipamento durante o seu uso. “O acompanhante ou o profissional de saúde pode ficar perto, que não será contaminado”, acrescenta. O dispositivo de descontaminação foi projetado com apoio da USP.
O protótipo do Ticê é todo automatizado. O futuro respirador será controlado por um programa, a partir de parâmetros de volume, pressão, fluxo e oxigênio especificados pelo médico que acompanha o paciente. O programa pode ser baixado para o celular e, assim, o equipamento pode ser monitorado a distância. É justamente esse sistema de controle, por software, que está sendo testado para então ser aplicado em seres vivos. Primeiro, em animais. Depois, em humanos.
“O impacto é, de fato, a gente conseguir fazer um projeto desse tipo gerando um produto de alto nível. A gente está introduzindo tecnologias de IoT [internet das coisas], desenvolvendo aplicativo para o médico – isso não existe no mercado”, ressalta Sanderson Barbalho.
Carlos Llanos, professor do Departamento em Engenharia Mecânica, explica que o desenvolvimento envolveu diferentes áreas do conhecimento. “É um tipo de projeto multidisciplinar, que envolveu projeto mecânico, projeto eletrônico, projeto de interface homem-máquina e projeto de software. Adicionalmente, teve a parte de engenharia de produto, uma área de engenharia que visa gerar um equipamento que possa ser catalogado de 'protótipo' de um produto. Tudo isso prevê métodos específicos, bem definidos na engenharia de produção”, detalha.
CERTIFICAÇÃO E PATENTE – Segundo Carlos, a expectativa é que o produto possa ser utilizado em diferentes modos de ventilação – atendendo ao modo controlado a volume e pressão – e também na modalidade de home care. A ideia é que esteja disponível não só para o tratamento de pacientes com covid-19. “O ventilador pode ser usado pelas equipes médicas para patologias que exigem tratamento usando este tipo de dispositivo”, frisa o docente.
O Ticê já foi testado segundo as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e agora está em preparação para obter a certificação junto ao órgão. Tanto a parte física quanto o programa desenvolvido serão patenteados pela UnB.
Guillermo Bestard, professor da Faculdade UnB Gama (FGA) envolvido no projeto, explica que “os próximos passos estão focados em aprimorar o desenvolvimento em parceria com empresa ou startup, para ser possível a produção de vários equipamentos e para passar pelos demais testes necessários”. A empresa que se interessar em adquirir o projeto e arcar com os custos da fabricação em grande escala deverá procurar a Agência de Inovação da UnB e obter a transferência de tecnologia.
O projeto, chamado de Desenvolvimento de respirador decânico de baixo custo com sistemas de controle de volume e pressão e adequado às condições sanitárias para pacientes em UTI devido à covid-19, recebeu investimento de R$ 1,1 milhão. O valor foi repassado pela FAP-DF no âmbito do Convênio 03/2020, que conta com orçamento global de R$ 30 milhões para apoiar projetos e ações de pesquisa, inovação e extensão destinadas ao combate à covid-19.
A gestão desse recurso ficou a cargo da Finatec. Para o professor Sanderson, esse tipo de ajuda é essencial no andamento do projeto, sobretudo por permitir ao pesquisador o foco na parte prática da pesquisa, deixando a gestão com uma equipe especializada. “A Finatec viabiliza a gestão financeira do projeto, o pagamento das bolsas dos alunos. Nosso trabalho [o do professor] é técnico, a gente quer desenvolver o produto. É muito importante ter alguém cuidando desse lado burocrático, sem isso a gente não consegue trabalhar”, afirma.
*Com informações da Secretaria de Comunicação da UnB.
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