RECONHECIMENTO

Docente aposentada alcançou posição eminente pelas ações desenvolvidas na academia. Luta pela defesa de direitos das minorias foi destaque em cerimônia 

 

Reconhecida internacionalmente, Rita Segato recebeu título de Professora Emérita da UnB. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

“Não é a UnB que está reconhecendo Rita Segato, é a UnB que está sendo reconhecida por ela”, afirmou a reitora Márcia Abrahão durante solenidade de outorga do título de Professora Emérita a Rita Segato. A distinção foi aprovada na 449ª reunião do Consuni, em março deste ano. A cerimônia ocorreu no auditório da Reitoria, campus Darcy Ribeiro, na tarde de 6 de novembro.

 

Natural da Argentina, a antropóloga Rita Segato lecionou na UnB por mais de 30 anos, tendo se aposentado em 2017. A docente foi co-autora da primeira proposta de cotas para negros e índios na instituição, junto com o professor José Jorge de Carvalho, ainda nos anos 1990. Este ano, o sistema de cotas raciais para ingresso na UnB completa 15 anos.

 

A produção acadêmica de Segato tem contribuições reconhecidas internacionalmente para os estudos sobre violência contra mulheres e direitos humanos. A docente defende que crimes sexuais contra mulheres sejam nomeados como crimes da dominação e da submissão. Ademais, colaborou com organizações da sociedade civil do México, El Salvador, Nicarágua e Honduras sobre o tema.

 

A pesquisa sobre assassinatos de mulheres na cidade mexicana Juárez (notória pela violência decorrente dos cartéis de droga) rendeu a Rita um livro e ameaças de morte, forçando-a a deixar a cidade.

 

Ao longo da jornada pela UnB, Segato orientou 71 trabalhos de pós-graduação. Desses, oito orientandos hoje são professores em universidades federais e cinco lecionam em instituições no exterior. 

Professor Volnei Garrafa descreve biografia da homenageada. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Bioética (NEPeB), Volnei Garrafa destacou a longa jornada acadêmica de Segato. “Não que seja maior que nossa instituição, mas é do exato tamanho. É uma grande pesquisadora”, elogiou o integrante da comitiva da homenageada, que também já foi congratulada com três títulos Honoris Causa em universidades argentinas.

 

>> Confira as fotos da solenidade

 

CASO ARI — Ao comentar sobre a biografia e trajetória acadêmica de Segato, Volnei Garrafa ressaltou o que ficou conhecido como “caso Ari” sobre a reprovação de Arivaldo Lima Alves, estudante negro e homossexual, em uma disciplina obrigatória em seu semestre inicial no doutorado em Antropologia, em 1998. Segato empenhou-se em reverter a reprovação, percebida como racismo institucional. Como resultado, Arivaldo conseguiu concluir o doutorado e hoje é professor na Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Segato enfrentou críticas dos colegas do departamento e transferiu-se para NEPeB. Foi o episódio que ensejou os esforços da docente para a formulação da política de ação afirmativa para estudantes negros e indígenas.

 

“Rita contaminou o NEPeB com as ciências sociais. Promoveu uma virada, a partir dos estudos de descolonialidade, direitos humanos, bem como pensamentos sobre estigma, segregação e solidariedade crítica de transformação”, frisou Volnei Garrafa. Em 2015, a professora defendeu a banca de professora titular no núcleo.

 

“Estou feliz por receber o título das mãos de uma reitora mulher”, comentou a docente em discurso de agradecimento. Relembrando a jornada pela UnB, Segato conclui que “vale a pena lutar”. “Tive muitas inimizades no Departamento de Antropologia (DAN), depois de 25 anos lá, por causa da questão Ari. Não perceberam a importância de combater o racismo; acho que agora perceberam. Foi duro”, confessou.  

Reitora Márcia Abrahão declarou ser admiradora de Segato. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

“Demorou para a injustiça se desfazer, mas hoje estou feliz porque este é o reconhecimento da minha casa. Isso mostra que vale a pena lutar”, disse. Segundo a reitora, a concessão do título a Segato foi um momento em que a UnB se reencontrou, reafirmando seus princípios de promover ensino, pesquisa e extensão de excelência, e seu compromisso social. “Esperamos honrar a sua história e todos seus ensinamentos na UnB”, ressaltou Márcia.

 

Jocelina Laura de Carvalho, filha da homenageada, e a professora Tânia Mara Campos de Almeida completaram a comitiva de Segato. Também compuseram a mesa da solenidade os professores Laudimar Alves de Oliveira e Maria Cristina Soares Rodrigues, diretor e vice-diretora da Faculdade de Ciências da Saúde (FS).

 

Vídeo produzido pela Universidad Autónoma de Entre Ríos (UADER), Argentina, quando a instituição lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa: 

 

 

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