Das memórias com direito a licença poética ao concreto de uma construção real. Esta foi a diversidade dos projetos de estudantes e professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília contemplados em distintos prêmios do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU/DF) no último dia de agosto deste ano.
No 4° Prêmio TCC CAU/DF, destinado a alunos que concluíram o curso em 2022, a UnB teve seis vencedores dentre os oito premiados. Já no Prêmio CAU/DF Docentes – Práticas Inovadoras de Ensino 2023, a Universidade dominou e venceu com dois projetos, e também recebeu menção honrosa.
Segundo a professora Ana Paula Gurgel, premiada pelo projeto “Hoje a minha escola vai desfilar”: proposta lúdico-didática de um Baile de carnaval, o bom desempenho da Faculdade já é tradição em concursos como o do CAU.
“O acesso à universidade pública garante essa transversalidade de saberes e acho que esses prêmios trazem a oportunidade de ver que esse conhecimento que a gente produz aqui não deve ficar só aqui, né? Conhecimento só vale quando a gente contribui, quando a gente doa, quando a gente divide”, declara.
A docente fala sobre o estímulo que as premiações geram nos estudantes. “Tenho certeza de que os nossos alunos, cada vez que veem os colegas sendo premiados, ficam estimulados. E a cada semestre temos temas mais interessantes que os outros, sempre trazendo essas reflexões. Então, eu acredito que isso não vai parar por aqui não.”
Leandro de Souza Cruz, que leciona História da Arquitetura Contemporânea, ganhou menção honrosa pelo trabalho Glossários do Contemporâneo, desenvolvido em parceria com a professora Elane Peixoto. A iniciativa, tida durante muito tempo como uma experiência interna da FAU, agora ganha publicidade com o prêmio e estimula novas ideias.
“A premiação foi como se lançar para o mundo e ter um retorno crítico. É um incentivo. Isso é algo que não me ocorria no começo do projeto, que era quase como uma brincadeira nossa, e, agora, é algo que precisa de fato ter um retorno do público externo”, pontua.
TCCs – O reconhecimento dado pelo CAU/DF ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado Da Amnésia à Anamnesis – Altares da memória no Rio São Francisco renovou as energias de Carolina Guida Teixeira para seguir na pesquisa. Hoje, como mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPG-FAU/UnB), ela aprofunda o tema que trata da sobrevivência de três cidades – Petrolândia (PE), Itacuruba (PE) e Rodelas (BA) –, que tiveram de ser realocadas para dar lugar à construção da usina hidrelétrica de Itaparica.
“O ímpeto do projeto foi, de alguma maneira, recuperar essa memória e dar luz e ressaltar essas sobrevivências que foram deixadas ao longo da calha do rio”, explica a pós-graduanda. “O trabalho tem como base essas sobrevivências e busca interligar onde eram as antigas cidades às novas cidades. Então eu faço interferências para consolidar circuitos”, continua.
Carolina propõe a construção de um museu, um mirante e uma galeria flutuante em cada uma das três cidades, que representariam um olhar para o passado, para o presente e para o futuro; também propõe rotas a serem seguidas em um saveiro, tipo de embarcação que existe há mais de 400 anos e que foi originalmente trazida ao Brasil pelos colonizadores portugueses.
“Esses circuitos que criei são realizados na água, mas são inspirados nos circuitos cerebrais. Fariam uma analogia às memórias, porque são maleáveis e abarcam muitas conexões possíveis pela água. São como caminhos que vão sendo reforçados, moldados, apagados e reconstituídos pela nossa mente e pelo tempo. Então é como se esses circuitos fossem a própria memória”, detalha Carolina.
Juliana Albuquerque também fez um TCC em que trabalhou a memória de uma localidade. No caso, a Vila Telebrasília, parte da Região Administrativa do Plano Piloto, e com tudo o que este local já foi no passado, é no presente e pode vir a ser no futuro.
As propostas da egressa da FAU vão desde o desassoreamento da margem do lago Paranoá até o uso de VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos) na região. “Eu vi que Brasília tem a quarta maior frota náutica do Brasil, então será que a gente não consegue usar esse transporte como transporte público? Por que não aproveitar aquela adjacência com o aeroporto e se chegar em Brasília pelo lago?”, provoca a arquiteta.
A partir do resgate das atividades exercidas na Vila no passado, como a pesca, Juliana também propôs espaços multiuso para aproveitar todo o potencial do lugar.
E, nesta linha de criação, Ariel Freire do Amaral também foi contemplado no prêmio. Ele, então graduando, foi o arquiteto responsável pelo projeto de construção de um centro de convivência ecológico na Cidade Estrutural para crianças entre seis e 14 anos.
No início do trabalho, a proposta era uma oficina-escola para mulheres com creche, onde os filhos ficariam; depois, mudou para apenas uma creche voltada a crianças de até cinco anos de idade e, por fim, o que perdurou foi a ideia do centro de convivência.
“Digo que o que foi premiado não foi nem a criatividade, nem a capacidade técnica, porque isso a grande maioria de nós temos aqui na FAU; pra mim, foi a índole de botar a força de trabalho, a força intelectual, a serviço de projetos sociais. Mesmo que eu tenha que me virar do avesso para resolver”, reflete. Ariel hoje cursa pós-graduação EAD latu-sensu em Reabilitação Ambiental Sustentável Arquitetônica e Urbanística (Reabilita/PPG-FAU/UnB).
“São coisas que a gente não aprende diretamente na sala de aula, mas aprende a pesquisar essa legislação, aprende a ir atrás dessas coisas, então foi um aprendizado bem intensivo, porque teve a referência de creche, o processo participativo, aí depois o centro de convivência. Foi bem enriquecedor mesmo, afinou meu olho para saber pegar referência para fazer outra coisa, porque foram três vezes no mesmo ano que tive que ver coisas bem diferentes. Isso foi bem legal”, rememora.
PREMIAÇÃO – Os três melhores trabalhos de estudantes recebem do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal o valor de R$ 1.250 cada; já os orientadores desses trabalhos recebem R$ 400. Na categoria dos docentes, o prêmio é de R$ 1.500 por projeto. A solenidade de premiação está prevista para ocorrer em 5 de outubro.
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