Inovadora e com forte identidade local, assim é a cerveja Turma da Colina, desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (IB) e do Instituto de Química (IQ). A bebida foi lançada em fevereiro, por transferência de tecnologia para a fabricante de cerveja brasiliense Bracitorium. A parceria se deu por intermédio do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT).
A ideia nasceu no trabalho de conclusão de curso (TCC) do egresso de Química Igor Carvalho, que resultou na publicação do artigo: Uma nova fonte de microorganismos para produzir cervejas Catharina Sour, em 2022. O estudo também é assinado pelos professores Grace Ghesti (IQ), Talita Carmo (IB) e Paulo Suarez (IQ).
“No início, a ideia era fazer um hidromel, mas ele ficou super azedo e com baixo teor alcoólico. Com as análises, vimos que tinha a presença de lactobacilos, o que possibilita a fermentação láctica, importante etapa para a produção desta cerveja”, conta Igor.
“Foi aí que vimos o potencial do estudo e a possibilidade de levar isso para a indústria. Como Universidade, temos a missão de produzir conhecimento e formar pessoas, mas também de levar tudo o que produzimos para a sociedade”, destaca o orientador do estudo, professor Paulo Suarez.
INOVAÇÃO – Considerada a bebida mais antiga consumida pelo homem, a cerveja se caracteriza por suas famílias e estilos. O modelo utilizado na pesquisa exalta a produção brasileira, isso porque a Catharina Sour foi reconhecida, em 2018, como o primeiro estilo de cerveja do país, pelo Beer Judge Certification Program (BJCP).
Leve e refrescante, ela é caracterizada pela acidez láctica equilibrada por frutas frescas. Assim, a Turma da Colina destaca-se entre as cervejas tradicionais devido ao tipo de acidificação com lactobacilos, advinda do pólen da abelha Frieseomelitta varia (marmelada), espécie tipicamente brasileira, sem ferrão, e do bioma Cerrado.
A espécie possui uma microbiota rica, incluindo microrganismos capazes de realizar a fermentação láctica, como explicam os pesquisadores. “Essas abelhas misturam o pólen com o mel e, depois de fermentada, serve de alimento. Foi exatamente este material que utilizamos como fonte de microorganismos para a cerveja, pela primeira vez”, explica o docente.
O professor lembra a importância de proteger a biodiversidade do Cerrado, pois “temos mais de duas mil espécies responsáveis pela polinização da vegetação”. Quanto ao nome escolhido, Paulo Suarez revela as duas referências: a região onde ficam os prédios residenciais da UnB, no campus Darcy Ribeiro (Asa Norte), chamada Colina; e, também, os grupos de jovens que ali se reuniam nos anos 1970 para ouvir música e que deram origem a grandes bandas que marcaram o rock nacional, como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude.
COMERCIALIZAÇÃO – “Fizemos esse primeiro lote experimental da cerveja em chope, com a ajuda dos pesquisadores da UnB. A apresentação comercial foi realizada em nosso bar na Asa Norte e por alguns parceiros comerciais que também venderam para nos ajudar no lançamento”, conta o proprietário da cervejaria, Glauber Cruz.
“Vendemos o copo entre 15 e 20 reais e o lote já está praticamente finalizado. Agora, vamos produzir o rótulo e novos lotes para engarrafar, com a possibilidade até de usar outras frutas. Mas a gente ainda tem que fazer cálculos em relação a custos para a viabilidade econômica desse produto no mercado”, revela Cruz.
O empresário explica que a aceitação tem sido boa, muito pela leveza e gosto singular da nova bebida. Ele lembra que a comercialização só foi possível pelo contrato da UnB com a cervejaria para a transferência de tecnologia, que garante o direito a royalties sobre o produto por um período determinado e os créditos em relação ao processo de produção.
“A equipe técnica e científica de pesquisadores é importante para criar novos produtos, com mais qualidade, custo reduzido e matéria-prima regional. Isso fomenta o comércio, a indústria e a relação com o mercado”, diz Glauber sobre a parceria.