INCLUSÃO

Resultado da seleção foi publicado no início do mês. Curso existe há um ano

Foto: Júlio Minasi/Secom UnB


Para atender a uma demanda específica da sociedade e em sintonia com as políticas de inclusão de pessoas com deficiência a Universidade de Brasília (UnB) lançou, em 2015, o curso de graduação Licenciatura em Língua de Sinais Brasileira - Português como Segunda Língua. Neste ano, o vestibular para esse curso aprovou nove candidatos com deficiência auditiva para ingressar na UnB. Os estudantes começaram as aulas na última semana.

 

Entre os detalhes específicos desse vestibular, destaca-se o oferecimento da prova em dois formatos: o tradicional – impressão em papel – e o visual, com a gravação da avaliação em Libras, realizada no computador. O inscrito poderia, inclusive, optar por utilizar ambos os formatos durante a aplicação.

 

Para a professora Enilde Faulstich - do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP) - esse é um sonho que se tornou realidade. Ela esteve à frente do processo de criação do curso e da supervisão do vestibular. "O trabalho exige equipe altamente especializada, que conheça o conteúdo da matéria a ser abordada e saiba como os surdos pensam na língua de sinais, que é a primeira língua deles", afirma Enilde.

 

EXPERTISE – Não é a primeira vez que o Cebraspe cria provas adaptadas para pessoas com deficiência auditiva, utilizando a Língua Brasileira de Sinais. Segundo o diretor Acadêmico, Marcus Vinícius Soares, a instituição tem se aprimorado no trabalho de elaboração desse tipo de avaliação. "O processo vem se modificando, de modo que a tradução de material elaborado em Língua Portuguesa para Libras tem dado lugar à concepção direta em Libras", explica Marcus.

 

Segundo o professor Clayton Quirino, essa foi uma atividade que permitiu atentar para uma situação pela ótica de uma pessoa com deficiência auditiva. "Foi um trabalho minucioso. Nossa maior preocupação era pensar na prova em Libras que fosse fiel ao conteúdo da mesma questão na Língua Portuguesa", explica.

 

Entre a primeira e a segunda edições do Vestibular de Libras, os critérios de seleção e classificação foram modificados: a bonificação na pontuação dos candidatos surdos deu lugar à reserva de vagas, dentro dos Sistemas de Cotas já utilizados pela UnB. "Na sistemática de distribuição e de migração de vagas entre os diferentes sistemas, tivemos a preocupação de priorizar as pessoas surdas, conforme preconiza o Decreto n. 5.626/2005, e o resultado foi muito positivo", ressalta Marcus Vinícius.

 

A professora Enilde completa: "Tudo que é novo exige aprendizado e esse direito também cabe aos responsáveis pelo longo processo de preparação do material a ser aplicado no vestibular, para, cada vez mais, acertar", finaliza.

 

EXPECTATIVAS – Os aprovados para a graduação da UnB não poderiam estar mais felizes. De acordo com eles, além da alegria de passar em um vestibular, a conquista também representa uma vitória. "Quero poder ajudar outros que enfrentam dificuldades no período escolar, assim como eu tive", conta Antonio Cesar Fleuri, um dos selecionados. Heloise Magalhães Alves, também aprovada, explica a importância para eles: "Sempre quis ser professora e ensinar outras pessoas. Agora, sinto-me feliz em poder estudar na minha língua materna, a Libras", pontua.

 

Ambos atestaram o avanço tecnológico e social que é ter a oportunidade de realizar as provas de maneira adaptada à realidade de deficientes auditivos: "Gostei da forma como a prova foi elaborada, criando acessibilidade para os surdos. É inovador e, ao mesmo tempo, nos sentimos incluídos", declara Heloise.

 

Para Antonio, o vestibular é um importante momento para a parcela da comunidade da qual ele faz parte: "Só quem tem alguma deficiência sabe quão difíceis são os desafios do cotidiano, principalmente na vida acadêmica e profissional", ressalta Antonio, que completa que "o processo diferenciado de aplicação de provas ajuda a corrigir as lacunas deixadas por uma educação ineficiente às pessoas com deficiência". Para ele, o nível de qualidade das avaliações não mudou. "Foi uma típica prova do Cebraspe. Exigiu muito raciocínio e cuidado ao responder as questões", comenta.

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