No dia seguinte ao aniversário de dez anos da lei Maria da Penha, a UnB recepcionou os calouros do 2o semestre de 2016. Dois palestrantes da área de Direito propuseram aos novos alunos que pensem sobre o combate às diferentes formas de violência contra a mulher.
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Os convidados da manhã desta segunda-feira (8) foram a vice-presidente da OAB e ex-aluna da Universidade Daniela Teixeira e o juiz Ben-Hur Viza, titular do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do TJDFT. Com mediação da diretora de Diversidade da UnB, Inez Montagner, a aula magna teve a presença de cerca de 2 mil alunos, além de integrantes da administração superior.
“A cada sete minutos uma mulher é agredida. A cada 11, uma é estuprada. Em sete de dez mortes, a vítima conhecia o assassino. A sociedade permite que esses crimes ocorram por banalizar as situações de agressão contra a mulher”, informou Daniela Teixeira.
A advogada explicou que essa forma de violência é amplificada pelo machismo presente nas pequenas e grandes coisas. “É preciso combater a piada que diminui a mulher e deixar as mudanças acontecerem no nível subconsciente. Essas situações de depreciação da mulher não podem ser naturalizadas”, defende.
Ben-Hur Viza explicou que a violência não se resume às agressões físicas e está presente em diversos níveis. Para o magistrado, é preciso identificar a violência e denunciar para que o Judiciário possa agir.
"Depois das audiências, muitas mulheres contam que nunca mais apanharam e, por isso, se acham livres de ações agressivas. E eu pergunto: ‘mas ele parou mesmo? Não te bate, não te xinga?’. Algumas respondem: ‘Nunca mais triscou em mim. Xingar ainda xinga, mas faço que não vejo’. Essa é a violência moral, que naturaliza a situação e destrói a autoestima daquela mulher”, esclareceu.
Durante a conversa, os convidados recordaram o caso Louise e pediram aos homens que tenham mais respeito e que se lembrem que as companheiras não são propriedade. “Crescemos aprendendo que o príncipe é quem dá à mulher a oportunidade de sair do caixão. Esse é um discurso machista e sequer o questionamos”, diz Ben-Hur. “É importante mostrarmos que há uma porta de saída para a vítima, sua família e seus amigos”, afirmou Daniela.
Na fala de abertura, o reitor substituto Luís Afonso Bermúdez ressaltou a importância da nova etapa que se apresenta diante dos estudantes e abordou o tema UnB Diversa e Plural. “A UnB nos dá a oportunidade de trilhar um caminho com diversas opiniões. Aqui se constrói o Brasil por meio de um caminho que será continuado por vocês”, disse. “Sejam bem-vindos à melhor universidade do país, essa que é construída por nós todos os dias”, finalizou.
BOAS-VINDAS – Durante a cerimônia, a decana de Assuntos Comunitários, Thérèse Hoffmann, citou os programas de assistência estudantil e lembrou que “respeito é algo gravado na Constituição Federal do nosso País”, ao falar das políticas de combate ao trote violento na Universidade. “Calouros têm o mesmo direito que qualquer veterano, o trote não é bem-vindo, e, sim, a integração da comunidade acadêmica”, reiterou.
O decano de Pesquisa e Pós-graduação, Jaime Santana, chamou atenção para a presença de pesquisas de excelência na UnB. “Sejam protagonistas da Universidade e cuidem dela, sejam UnB. É um momento inesquecível”.
Para o coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Vitor Aguiar, os calouros agora fazem parte da família UnB. “A primeira grande vitória é inesquecível. É fruto de muito trabalho, persistência e suor. Sentem-se onde tantos outros grandes sentaram e também façam desse mundo um lugar melhor”.
O decano de Ensino de Graduação, Mauro Rabelo, agradeceu o empenho dos servidores que atuaram na organização de todas as etapas de recepção aos novos alunos. Rabelo pediu comprometimento com a instituição e fez um apelo para combate ao trote violento. “Não aceitem ser humilhados, nem por brincadeira. Não desperdicem o tempo, potencializem-no”, concluiu.
A caloura de Museologia Ana Clara Costa foi com o pai e a avó à cerimônia. "O evento serviu para plantar uma semente em cada um, a UnB está fazendo o papel dela de conscientizar. Agora espero que a mensagem seja espalhada", afirmou a estudante. "Os homens eram acostumados a ser os donos da bola e não se conformavam com o não. Isso tem mudado", lembra a avó Nilza Soares. "Pensamos que só acontece com quem tem menos entendimento, mas é a partir daqui que se forma o cidadão, por isso, esse evento é tão importante", opina o pai, Edson Carvalho.
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