Pesar, tristeza, indignação, machismo, segurança. Essas foram algumas das palavras mais ditas na tarde desta segunda-feira (14), quando a comunidade acadêmica se reuniu para homenagear a estudante Louise Ribeiro, assassinada na última quinta-feira, dia 10. O colega de curso Vinícius Neres Ribeiro confessou o crime.
Descrita pelos amigos como alguém incansável, dedicada e com interesse em conhecer de tudo um pouco, Louise era estudante do quarto semestre da graduação em Ciências Biológicas.
A homenagem à Louise começou com a apresentação musical de Mariana Camelo e do grupo Caju Lilás. O repertório das artistas, que cursam licenciatura em Música e trabalham com a temática do empoderamento da mulher, foi escolhido para estimular a reflexão sobre o ocorrido.
Sophia Luduvice, representante do DCE, chamou a atenção para o estabelecimento de uma cultura de paz na Universidade e fora dela. "Não devemos ter raiva e sim vontade de mudança", disse.
Segundo Joana Chagas, gerente de programas da ONU Mulheres, Louise foi vítima de um crime com características de feminicídio, morte caracterizada pela presença de menosprezo ou discriminação à condição de mulher, entre outros fatores. O assassinato ocorreu no aniversário de um ano da publicação da lei que caracteriza esse tipo de homicídio.
"No Brasil, uma mulher é morta a cada duas horas. São quinze por dia, quase cinco mil por ano", informou a gerente. Ao falar do Eles por Elas, movimento pela igualdade de gênero do qual a UnB é parceira, Joana Chagas lembrou a importância da academia na diminuição da violência. "É muito simbólico que esse assassinato tenha ocorrido dentro de uma instituição de ensino pública, porque a educação é o nosso principal meio de prevenir agressões", desabafou.
A deputada federal Erika Kokay, que também estava presente na cerimônia, aproveitou o momento para chamar a atenção para tantos outros casos de violência contra a mulher, como o de Jane Cunha, assassinada no Distrito Federal pelo ex-namorado no fim de semana. "Quantas mulheres têm medo de voltar para casa ou que nem voltarão?", perguntou.
Bruna Lisboa, amiga de Louise, e outros três amigos próximos, usavam uma faixa rosa, cor favorita da amiga, para lembrá-la. "Nada vai trazê-la de volta, mas se a morte da Louise puder evitar de alguma forma que isso aconteça com outras pessoas, saberemos que ela continuou ajudando o próximo", disse saudosamente.
A coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher, professora Lourdes Bandeira, convocou a comunidade para mobilizar-se para combater a violência contra a mulher. "Não queremos que a morte de Louise seja esquecida; mas que seja lembrada como a última vez em que uma tragédia como essa aconteceu na UnB. É necessário que a Universidade se comprometa com ações pedagógicas e transformadoras das relações de gênero em todas suas instâncias institucionais", defendeu.
Representantes da Universidade fizeram pronunciamentos sobre segurança e pediram que a comunidade se organize para discutir o tema. Consternado com a tragédia, o reitor Ivan Camargo disse que é preciso levar a bandeira do combate à violência contra a mulher para as salas de aula. Ao defender o aumento do efetivo de segurança, o gestor foi vaiado por estudantes que gritaram palavras de ordem contra a polícia militar. Confira na íntegra o discurso do reitor.
Também falaram na cerimônia, a secretária de segurança do Distrito Federal, Márcia de Alencar Araújo, a diretora do Instituto Médico Legal, Cíntia Nascimento, o presidente do Sintfub, Mauro Mendes, o 1º vice-presidente da ADUnB, Virgílio Arraes, e a representante da Secretaria de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Gabriela Ferraz.
OPINIÕES - Anna Clara Nunes, estudante de Serviço Social e militante do movimento feminista na UnB, descreve que o sentimento que teve ao receber a notícia foi de identificação. "Pensei imediatamente em todas as mulheres da minha vida. Não a conhecia, mas foi como se tivesse acontecido com alguém muito próximo de mim", diz.
Luisa Carvetti, estudante de Ciência Política esteve presente no ato e comentou a iniciativa. "Essas homenagens são importantes, mas queremos mais. Porque não é um problema só de segurança, é um problema cultural", disse.
Nicolau Costa, estudante de Filosofia, apoiou a iniciativa da homenagem organizada pela UnB. "Achei muito bacana a Universidade ter se posicionado contra esse acontecimento. Muito legal a instituição ter proporcionado esse momento e ter liberado os alunos das aulas para poderem comparecer".
INICIATIVAS - Após a homenagem, uma reunião de mulheres foi convocada na entrada do ICC Norte com o objetivo de discutir soluções para aumentar a segurança no campus. A ideia é formalizar as propostas em um documento que será apresentado à administração da Universidade.
Os representantes do Centro Acadêmico de Biologia (Cabio) estão recebendo mensagens para montar um painel em homenagem à Louise. "A ideia é colocá-lo na entrada do ICC Sul para ficar em exposição e depois encaminhar as mensagens para a família", afirma Matheus da Costa, presidente do Cabio. "Disponibilizaremos cartolinas e canetas para quem quiser vir escrever aqui", completa Marcos Reis, membro da gestão do CA.
Os interessados em participar da homenagem, podem entrar em contato com os organizadores pelo email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Texto alterado em 15/3 para inclusão de informações.