Estar entre as melhores instituições de ensino superior do mundo é motivo de orgulho para a comunidade acadêmica da Universidade de Brasília. Com apenas 57 anos, ela já figura em rankings acadêmicos internacionais, disputando com universidades milenares, como a de Cambridge, no Reino Unido, e a de Salamanca, na Espanha.
Recentemente, a UnB foi classificada novamente como a nona melhor do país no Ranking Universitário Folha (RUF). De acordo com o Global Ranking of Academic Subjects (Gras), da China, a Universidade destacou-se em dez áreas do conhecimento. No Times Higher Education (THE), avançou mais uma posição em 2019, ficando entre 15 mais bem-conceituadas instituições da América Latina. Outra avaliação em que teve melhoria no desempenho foi no Webometrics Ranking of World Universities, que mede mais de 28 mil universidades a partir de sua presença e impacto na internet.
A instituição também foi destaque nas classificações por áreas de conhecimento: Ciência da Computação e de Engenharia e Tecnologia; Psicologia, Ciências Físicas e Clínica, Pré-Clínica e Saúde, e Ciências da Vida; Ciências Sociais, Administração, Economia; Artes e Humanidades. No ano passado, passou a integrar os rankings internacionais de jovens universidades da “época de ouro” e de países emergentes, ambos do THE. Na avaliação do Center for World University Rankings (CWUR), de 2018, subiu mais de 200 posições em relação ao ano anterior.
Estima-se que existam hoje cerca de 20 rankings globais de universidades e mais de 60 nacionais, realizados por empresas de consultoria, veículos jornalísticos e instituições governamentais. As avaliações podem divergir, mas no geral elas consideram indicadores relacionados à produção científica de cada instituição, nível de formação dos docentes, taxa de evasão dos alunos, entre outros.
Para acompanhar e avaliar o desempenho, a Universidade de Brasília atua de forma sistemática, especialmente por meio da Diretoria de Avaliação e Informações Gerenciais (DAI), do Decanato de Planejamento e Orçamento (DPO), com apoio da Comissão Própria de Avaliação (CPA).
“A divulgação desses resultados, tanto para gestores dos decanatos e das unidades acadêmicas quanto para a comunidade em geral, busca garantir que as ações na UnB continuem promovendo uma posição de excelência nos diversos rankings”, informa a diretora da DAI, Andrea Cabello.
Sob seu ponto de vista, os rankings universitários “são insumo para o processo de autoavaliação que, quando analisados de forma articulada com outras informações, permitem uma postura de transparência frente à comunidade e indicação de intervenções que permitam assegurar a qualidade da Universidade”.
Além disso, Cabello afirma que esses resultados permitem comparação com outras instituições: “É um meio de acompanhar a atuação de uma perspectiva global, considerando a inserção da pesquisa em periódicos internacionais, suas redes de cooperação e o seu desempenho acadêmico relativo em geral”, explicita.
ORIGEM – Um dos primeiros rankings internacionais surgiu há pouco menos de duas décadas. “Em torno de 2003, o governo chinês queria saber como estava o sistema universitário do país em relação às universidades clássicas do mundo”, comenta o presidente do Observatório de Rankings Acadêmicos e de Excelência (Ireg – na sigla em inglês), ligado à Unesco, professor Luiz Cláudio Costa.
Vale destacar que rankings próprios de países começaram a surgir nos anos de 1980. O primeiro deles foi criado em 1983 pelo jornal U.S. News (EUA), o U.S. News & World Report. O objetivo era orientar alunos estrangeiros que buscavam estudar em instituições americanas. Foi também nessa época que apareceram os primeiros processos de acreditação e avaliação da qualidade na educação superior.
Após o ranking de Xangai, vários outros surgiram, como o THE, o QS World University Rankings e o World Ranking Universities. “É assim que nascem os rankings, numa tentativa de se verificar o que se faz em uma universidade de excelência”, define Luiz Cláudio, que já foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no período de 2012 a 2014.
O Ireg confere certificados para os rankings, sendo verificada a transparência com relação aos critérios e indicadores. Para o pesquisador, o observatório também é espaço para as universidades apresentarem suas inquietações. “Quando se conhece as premissas de avaliação, é possível participar mais. É uma discussão muito aberta, neutra e qualificada”, complementa.
CLASSIFICAÇÕES NACIONAIS – Um dos mais tradicionais do país, criado pelo jornal Folha de S. Paulo em 2012, o RUF classifica as 196 instituições brasileiras, realizando também uma avaliação por cursos. São utilizados cinco indicadores: pesquisa, ensino, mercado, internacionalização e inovação.
Existem também outros tipos de avaliações anuais, como as pesquisas de opinião e aquelas realizadas pelo próprio Governo. No âmbito do Ministério da Educação (MEC), o Índice Geral de Cursos (IGC) sintetiza em um único indicador a qualidade de todos os cursos de graduação, mestrado e doutorado da mesma instituição de ensino. Desenvolvido pelo Inep, ele é construído a partir de média ponderada das notas dos cursos de graduação e pós-graduação de cada instituição.
“O IGC avalia várias métricas, em especial o Enade – Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – que segue o ciclo avaliativo”, explica o coordenador de Informações Gerenciais (CIG), Guilherme Viana. A UnB recebeu nota máxima no resultado mais recente, de 2018, ao lado de outras 35 instituições do país.
INSTRUMENTOS – Tanto os rankings quanto as avaliações, sejam nacionais sejam internacionais, estão embasados em diversos tipos de informações relacionadas à qualidade das instituições de ensino superior. No entanto, cada entidade avaliadora define seus próprios instrumentos para levantamento e análise de dados.
Os indicadores podem ser categorizados de duas formas: quantitativos e qualitativos. “No caso dos rankings internacionais, por exemplo, a UnB repassa dados sobre número de estudantes, de docentes e de formados”, relata o estatístico do DPO.
Grande parte dos dados quantitativos relacionados à produção científica são obtidos em bases científicas, tais como Scopus, Web of Science, Scielo. No contexto nacional, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) também têm plataformas que possibilitam esse levantamento, especialmente voltado para citações e publicações.
Com relação à parte qualitativa, as próprias entidades de cada ranking fazem pesquisas de opinião, sendo que cada uma define sua metodologia. Por conta disso, esse dado acaba sendo muito questionado. No entanto, o presidente do Ireg pondera que o julgamento das pessoas segue a reputação de determinada instituição. “É subjetivo, mas é expressivo, quando, por exemplo, um grande número de entrevistados indica Harvard como a melhor instituição do mundo. O importante é que essa amostra não seja viciada”, aponta Luís Cláudio.
Recentemente, os rankings têm desenvolvido classificações específicas, com base em três principais focos: regional, por áreas de conhecimento e por instituições ou países emergentes. “Isso abre uma janela da comparação, pois em um ranking mundial são considerados os desiguais”, defende Sônia Nair Báo, diretora de avaliação da Capes.
Opinião compartilhada por Luís Cláudio Costa, que acredita ser essa uma tendência natural. “Começa a ter uma regionalização, estratificação e por áreas, porque no final das contas, o objetivo é mostrar para a sociedade e ao estudante quais as universidades estão com prestígio naquele cenário”, elucida.
DESAFIOS – Mesmo aparecendo nos rankings internacionais citados, as universidades brasileiras ainda ficam atrás de outros países, particularmente os Estados Unidos e as nações da Europa.
A diretora de avaliação da Capes acredita que o Brasil não tem instituições com finalidades específicas, em geral, elas abarcam todas as áreas. Além disso, uma limitação das instituições nacionais é o idioma. “A linguagem científica é o inglês, e essa divulgação na língua tornaria nossa atuação mais visível e consequentemente contribuiria para melhorar os parâmetros.” Para a diretora, as universidades devem investir em planejamento e autoavaliação para conquistar mais espaço nessas avaliações.
Cabello esclarece que “muitos dos indicadores são fortemente baseados em pesquisa que depende de orçamento consistente e previsível”, e algumas classificações consideram de forma explícita o investimento anual. “O Brasil fica muito atrás nessas classificações mundiais, por conta do contexto nacional e do baixo valor investido, se comparado com os países desenvolvidos”, pontua Viana.
A decana de Planejamento, Orçamento e Avaliação Institucional da UnB, Denise Imbroisi, concorda e aponta as discrepâncias orçamentárias entre as instituições avaliadas como importante fator explicativo para o posicionamento de universidades brasileiras em rankings internacionais.
Imbroisi também cita a necessidade de se ampliar os olhares para rankings mais abrangentes, como o U-Multirank europeu, por exemplo, que apresenta diferentes possibilidades de ranqueamento, dependendo do objetivo da análise.
É importante destacar, ainda, a missão constitucional das universidades públicas brasileiras, que obedecem ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão: “Essa missão se traduz no forte compromisso social dessas instituições no Brasil, o que não é contemplado por esses rankings internacionais”.