ENTREVISTA

Prioridade são o cuidado com a comunidade e os esforços para a UnB se recuperar da pandemia, sem deixar de lado excelência e modernização

Márcia Abrahão é a primeira mulher eleita para o cargo máximo da instituição. Agora reeleita pela comunidade, planeja os próximos quatro anos de gestão. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

De redução orçamentária e posterior contingência e bloqueio de verbas à necessidade de realizar, pela primeira vez na trajetória institucional, um semestre letivo emergencial 100% em modo remoto. Os desafios enfrentados por Márcia Abrahão Moura como reitora da Universidade de Brasília, entre 2016 e 2020, não foram poucos.

 

Também não foram poucos os avanços e conquistas no período. Crescimento na excelência acadêmica; simplificação e modernização de processos; expansão da infraestrutura; mais articulação com a sociedade e com o parlamento são destaques do quadriênio. 

 

Com trajetória ligada à UnB desde 1982, quando ingressou como estudante do curso de Geologia, Márcia segue atrelando sua história à da instituição: é a primeira mulher eleita para ocupar o cargo máximo da Universidade. E, agora, reeleita, a reitora se prepara para o novo quadriênio. 

 

Em entrevista à Secretaria de Comunicação (Secom), ela fala sobre os desafios de gerir a UnB em tempos de pandemia de covid-19 e resgata a difícil situação orçamentária enfrentada ao assumir o primeiro mandato, em 2016, quando se deparou com “uma queda de 45% no orçamento discricionário”, além dos bloqueios e contingenciamentos de verba impostos à Universidade. 

 

Com olhar no futuro, a reitora aponta prioridades para os próximos anos: “seguir avançando em excelência acadêmica”; “ampliar a simplificação de processos”; continuar com foco “na promoção da saúde mental, especialmente no futuro contexto de recuperação da pandemia”. Confira, a seguir, a entrevista na íntegra.

 

Neste último ano, a senhora esteve à frente da UnB em um cenário completamente inesperado: a pandemia da covid-19, que resultou em demandas administrativas e acadêmicas inéditas, como a decisão de realizar o semestre em modo emergencial 100% remoto. Como foi e como tem sido para a gestão enfrentar esse quadro?

 

Foi desafiador. A pandemia nos empurrou para uma situação nunca antes vivida. As instituições de ensino, em todos os níveis, ainda estão aprendendo a lidar com o novo quadro. Mas posso dizer que a UnB tem sido exemplar. Logo no começo, por exemplo, colocamos a Universidade à disposição da sociedade. Nossos docentes, técnicos, residentes e estudantes foram para a linha de frente no Hospital Universitário, que integra o plano de contingência da Secretaria de Saúde do DF. A comunidade também propôs dezenas de projetos de pesquisa, inovação e extensão de combate ao novo vírus e, nós, na gestão, organizamos as propostas. Lançamos duas chamadas públicas, articulamos apoios para a viabilização de algumas delas.

 

Com responsabilidade e embasamento em dados, preparamos a retomada das atividades letivas, dando condições para que estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica pudessem acompanhar as aulas. Todas as decisões foram tomadas de maneira colegiada, com debate, ouvindo todos os segmentos. A UnB é muito diversa; cada unidade acadêmica tem uma realidade. O Ccar [Comitê de Coordenação das Ações de Recuperação], presidido pelo vice-reitor, organizou todo esse processo e está fazendo um acompanhamento de excelente nível, que seguirá nos próximos semestres. Todas as decisões foram tomadas pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão, órgão colegiado superior da UnB.

 

Em mensagem recente à comunidade acadêmica, a senhora falou que “os quatro próximos anos trarão desafios significativos”. Quais as perspectivas que a senhora tem em mente nesse sentido?

 

Embora ainda não tenhamos uma data para que a situação se normalize ou mesmo para que possamos ter algum tipo de atividade presencial nos campi (além das essenciais), precisamos deixar a Universidade pronta para isso. Estamos nos preparando para a fase de recuperação, com o trabalho do Ccar, que coordena todas as adaptações acadêmicas e administrativas necessárias. Mas os desafios estarão presentes também em termos conjunturais. Nosso país precisará de muito tempo para se recuperar. Como isso será feito? Precisaremos de muita articulação para garantir a manutenção de recursos para a ciência e a educação, que são, afinal, áreas estratégicas para o desenvolvimento de qualquer país. Na UnB, precisaremos avançar ainda mais na graduação, na pós-graduação, na pesquisa e na extensão, mesmo em um cenário político e econômico desafiador.

 

As situações relacionadas à pandemia estão na vida de todos, mas, para além dela, outros desafios estiveram presentes ao longo do primeiro mandato de gestão. Quais foram os principais, em sua avaliação?

 

O enfrentamento da situação orçamentária. Quando assumimos o primeiro mandato, no final de 2016, nos deparamos com uma queda de cerca de 45% no orçamento discricionário. Foi preciso fazer uma série de ajustes, adotar medidas difíceis. Procuramos fazer isso da maneira mais franca junto à comunidade. Abrimos os dados, expusemos o problema em câmaras e conselhos. Depois disso, também enfrentamos – assim como outras instituições federais de ensino – os bloqueios e contingenciamentos orçamentários, que prejudicam muito a realização das atividades. Mesmo com esse cenário, conseguimos importantes avanços. O orçamento das unidades acadêmicas teve aumento de cerca de 38%, em média. Nossa execução orçamentária também foi ótima, de quase 100% no ano passado. Outros desafios importantes foram a segurança dos campi, que melhorou significativamente, e a conclusão de obras que estavam paradas.

 

Quais os principais avanços e conquistas que ficam como legado deste primeiro mandato?

 

Com o direcionamento de recursos para as atividades-fim – com ações como o lançamento de mais editais de apoio à publicação de livros, à participação em eventos científicos, mais bolsas de iniciação científica, entre outras tantas medidas – conseguimos avançar em excelência acadêmica. Saltamos posições em rankings e avaliações nacionais e internacionais e pretendemos seguir nesse caminho. Também avançamos em simplificação e modernização. O SIG, ainda em fase de implantação dos módulos acadêmicos, trouxe muitas vantagens e permitiu que pudéssemos realizar atividades durante o isolamento social, sem colocar as pessoas em risco.

 

Melhoramos a nossa interlocução com a sociedade, seja por meio de articulação institucional com o Congresso, com parlamentares de todas as legendas, seja aproximando a Universidade da vida das pessoas, com as campanhas e projetos como o UnB Perto de Você e o Conversas com a Reitora. Além disso, ampliamos as políticas de inclusão na graduação e na pós-graduação e cuidamos das pessoas. A criação da Dasu [Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária], vinculada ao Decanato de Assuntos Comunitários, é um exemplo disso. Também ampliamos o mestrado profissional para os técnicos, fortalecendo o vínculo deles com a Universidade.

 

Quais são as prioridades da gestão para os próximos quatro anos?

 

A primeira será ultrapassarmos a fase de pandemia com o mínimo de perdas acadêmicas e de vidas na nossa comunidade. Ainda, seguir avançando em excelência acadêmica, com transparência e diálogo com a comunidade. Houve avanços significativos em modernização, gestão acadêmica e administrativa, mas podemos fazer ainda mais. A simplificação de processos, por exemplo, deve ser ampliada, para que as pessoas possam ter acesso aos serviços da Universidade de maneira cada vez mais rápida. A promoção da saúde mental continuará sendo uma de nossas preocupações, especialmente no futuro contexto de recuperação da pandemia. Por fim, seguiremos fazendo a defesa da UnB, de nossa autonomia universitária, em diálogo com todos os setores da sociedade.

 

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