HISTÓRIA

Com sistematização de dados sobre a territorialização no período colonial, achados podem atender às demandas indígenas por terra e cidadania plena

O VIP é um projeto colaborativo de produção e sistematização de dados e informações geolocalizadas sobre a territorialização de diferentes povos e sociedades indígenas durante a vigência das reformas pombalinas e do Diretório dos Índios. Arte: Divulgação

 

Romper a história regionalizada e resgatar fatos apagados pela memória brasileira sobre a cultura indígena do século XVIII. Esse é o mote do projeto Vilas Indígenas Pombalinas (VIP), apresentado pelo Departamento de História (HIS/ICH/UnB), durante o evento Humanidades Digitais, Pesquisa Histórica e Direitos dos Povos Indígenas.

 

Realizado no auditório do Programa de Pós-Graduação em História (PPGHIS/HIS), o evento teve propósito de debater a territorialização dos povos indígenas ao longo do tempo, compartilhar conhecimentos sobre diversos povos, grupos étnicos e suas estruturas sociais e incentivar a pesquisa histórica com foco no protagonismo indígena. O encontro ocorreu no campus Darcy Ribeiro, nos dias 15 e 16 de maio.

 

“Nosso objetivo foi reunir a comunidade acadêmica para discutir coletivamente o tema da presença indígena na história e a necessidade urgente de reconhecer o lugar dessas comunidades como parte integrante da nossa sociedade e do povo brasileiro. Além de incentivar a agenda contemporânea dos direitos dos povos indígenas”, conta o colaborador do projeto VIP, professor José Inaldo Chaves.

Os colaboradores do projeto VIP, oriundos de diferentes instituições de pesquisa e ensino especialistas no tema, apresentaram as informações coletadas, durante o evento realizado pelo Departamento de História da UnB. Foto: Arquivo pessoal

 

Durante a ocasião, acadêmicos compartilharam conhecimentos e puderam aprender sobre os trabalhos de autores indígenas e pesquisadores renomados, como Rosilene Tuxá, Elisa Pankararu, Pedro Cardim, João Pacheco de Oliveira e Sulieté Baré. Também foram apresentados resultados da pesquisa realizada pelo VIP.

 

RESULTADOS – “Lançamos o banco de dados com informações históricas relativas à experiência urbana dos povos indígenas no passado colonial. Isso só foi possível por causa da equipe multidisciplinar que uniu um conjunto grande de dados e permitiu à sociedade ter uma dimensão mais exata e qualitativa da presença indígena”, explica o pesquisador.

 

A equipe levantou e sistematizou dados sobre, pelo menos, 191 vilas, além de missões religiosas e aldeamentos indígenas, durante a vigência do Diretório dos Índios – lei redigida em 1755 e implementada por Marquês de Pombal. Foram investigadas 19 capitanias da América portuguesa, entre os estados do Brasil, Grão-Pará e Maranhão.

 

Como muitos dados são locais, a maior parte da pesquisa era regionalizada e, por isso, foi essencial colaboração para produzir tantos dados, como pontua a coordenadora do projeto, professora Vânia Moreira. “Foram mais de 40 pesquisadores que se envolveram no preenchimento desses dados”, diz.

 

As informações foram organizadas em dois instrumentos: a Planilha/Banco de Dados VIP e o Mapa VIP. Ambos estão disponíveis para consulta no site do projeto e servem para estimular e inspirar novas pesquisas e atender às demandas indígenas por terra e cidadania plena.

 

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MAIS SOBRE O VIP – Em síntese, o período do recorte cronológico da pesquisa faz referência à territorialização de povos indígenas durante as mudanças implementadas pelo Marquês de Pombal, as chamadas reformas pombalinas, e o Diretório dos Índios, iniciados em 1755. Essas reformas criaram novos direitos e territorialidades indígenas, com efeitos que perduraram por décadas após a independência do Brasil do reino português, em 1822.

 

O professor José Inaldo Chaves salienta que, por mais que os indígenas tenham sido vítimas da colonização portuguesa, o estudo revela curiosidades sobre a presença daquela população na sociedade da época. A exemplo, as vilas formadas por maioria indígena, em plenas cidades aportuguesadas do século XVIII.

 

“Eles resistiram e se adaptaram ao contexto e tiveram experiências muito importantes dentro da colonização. Pensávamos que ocupavam áreas rurais, mas estavam em cidades. Com a união desses dados, também descobrimos a presença política deles, ocupando cargos até de vereador”, comenta José Inaldo.

 

Entre os desafios futuros, os pesquisadores destacam a necessidade de estabelecer sínteses com balanços sobre essa participação, até então desconsiderada. Além de ampliar a pesquisa para outros períodos em que há uma história vaga sobre a contribuição e participação dos povos indígenas.

 

“A historiografia do século XIX tendia a ignorar a presença indígena ou a restringia a uma área rural e isolada. Eles não estão fora do processo histórico nacional e o VIP rompe com essa imagem e mostra que estavam presentes e, por isso, precisamos de uma revisão”, reforça a coordenadora.

 

O VIP integra um projeto maior chamado Os Brasis e suas memórias: os indígenas na formação nacional, vinculado ao Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mais amplo, ele visa produzir e divulgar novos dados e interpretações sobre a contínua presença indígena no Brasil, desde o período colonial até o presente, e conta com a colaboração de pesquisadores indígenas e não indígenas, para construir uma nova narrativa sobre o Brasil, desafiando estereótipos e oferecendo fontes ricas de pesquisa. 

 

Ambos os projetos contam com financiamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

 

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