A condição de pessoas em situação de rua sempre foi preocupante no contexto das grandes cidades brasileiras. Agora, além das ameaças corriqueiras, pessoas que vivem em vulnerabilidade social estão enfrentando uma realidade ainda mais difícil: lidar com a propagação do Sars-CoV2.
O Observa PopRua, coletivo de extensão e pesquisa da Universidade de Brasília, tem contribuído com a divulgação de informações sobre a covid-19 à população em situação de rua. O grupo atua desde 2016 na geração e disseminação de conhecimento sobre as condições em que esse público se encontra e os cuidados que necessita.
À época, o professor Pedro Jabur, da Faculdade UnB de Ceilândia (FCE), uniu-se à mestranda em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da Saúde (FS) Tâmara Rios e ao mestrando em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) Cássio Henrique de Oliveira – ambos egressos do curso de Saúde Coletiva da FCE – para, juntos, iniciarem o trabalho de abordar mais profundamente essas questões e viabilizar um projeto de expansão da comunicação fora das redes sociais.
Já no início da pandemia da covid-19, com a evidência do grande contingente populacional que não tem acesso à internet, além de focar a população de rua, o coletivo passou a mirar todos os que não são alcançados pela comunicação digital. “O projeto não é voltado especificamente para a população em situação de rua, mas é, sim, um projeto de comunicação de rua, para rua e na rua”, aponta o docente da FCE.
A iniciativa inclui a disponibilização de materiais impressos, como cartazes e folhetos explicativos, nos espaços públicos e de anúncios em carros de som, além de concursos e outras formas de divulgação em massa de informações para proteção contra o novo coronavírus que falem diretamente com quem está nas ruas. Dessa forma, o alcance pode ser mais eficiente em camadas não atingidas pelo meio digital. As mensagens incluem recomendações gerais sobre distanciamento social, uso de máscara e higiene respiratória.
Os integrantes do coletivo consideram que a atual situação de emergência em saúde pública tem escancarado as desigualdades presentes no país há séculos. Devido ao cenário de alta disseminação do Sars-CoV2 em áreas mais periféricas de Brasília, o projeto decidiu investir fortemente em regiões, como Ceilândia, Taguatinga e Samambaia. Segundo Pedro Jabur, foi dada “prioridade por perceber que são regiões que andam sofrendo com número grande de infectados e de mortes pelo novo coronavírus”.
A equipe pretende iniciar a comunicação afixando e distribuindo materiais, bem como propagando informações com carros de som nessas regiões administrativas. No entanto, não está excluída em definitivo a possibilidade de atuação no Plano Piloto, já que os materiais abordam assuntos gerais voltados à pandemia, contexto que também impacta a região mais central do Distrito Federal.
“Em razão das mudanças de cenário que o contexto social da pandemia traz e em se tratando de um projeto de comunicação, a todo o momento se faz necessário planejar novas ações”, afirma o coordenador da iniciativa.
Um dos objetivos é formar uma rede de parceiros que possa promover novas formas de comunicação em saúde dedicados a quem está nas ruas, ampliando ainda mais o alcance das mensagens. “Criamos um diálogo fértil para a produção de material conjunto com colegas de um projeto de extensão de Feira de Santana (BA); a ONG Médicos do Mundo; um grupo de médicos e enfermeiros que trabalham na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro; movimentos sociais; entre outros”, relata Jabur.
PERSPECTIVAS – Os pesquisadores apostam que o impacto social promovido pelo projeto pode ser expressivo, à medida que há uma ressonância na comunicação quando as informações são compartilhadas oralmente por cada indivíduo em uma rede ampla de amigos, parentes ou conhecidos.
O professor Pedro Jabur acredita que há dois impactos importantes. Um deles está relacionado à como uma pessoa recebe a mensagem em circulação.“Ele é medido quando alguém vê um cartaz ou ouve uma mensagem nossa e faz algum tipo de sentido para ela. Essa ressonância de sentidos nas pessoas é o que se espera." O outro está relacionado com os próprios envolvidos na formulação dessas mensagens.
“Tem a ver com a possibilidade de estarmos juntos, mesmo que separados, de pensarmos juntos, de quebrar a cabeça, pipocando ideias e possibilidades de como fazê-las. Essa potência “pedagógica" livre é um impacto de que se pouco fala, mas de fundamental importância para a trajetória dos que estão envolvidos”, acrescenta o docente.
Cerca de dez pesquisadores das áreas de saúde coletiva, fisioterapia e terapia ocupacional da FCE, além de graduandos e mestrandos estão envolvidos na iniciativa. A expectativa da equipe é alcançar o maior número possível de transeuntes por meio da comunicação na rua, explorando cenários e fluxos múltiplos. “Acho que os resultados são, nesse sentido, o de ir fazendo e produzindo essas experiências de comunicação”, completa Jabur.
Espera-se ainda que a proposta tenha potencial para auxiliar no combate à disseminação da covid-19 entre pessoas em situação mais vulnerável. Para a equipe, em um momento em que parte das atenções e das tensões se volta aos testes que o campo científico e tecnológico são capazes de realizar, na tentativa de criar vacinas e tratamentos para amenizar ou até mesmo acabar com a crise, os resultados e informações que o coletivo produz estão em estado permanente de teste.
APOIO – O projeto foi aprovado em edital da FCE e na chamada prospectiva de projetos e ações contra a covid-19 realizada em conjunto pelos decanatos de Pesquisa e Inovação (DPI) e de Extensão (DEX) e pelo Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de combate à covid-19 (Copei) da UnB. Até o momento, a iniciativa não recebeu financiamento. No entanto, por envolver custos relativamente baixos em comparação a outros projetos de intervenção na comunidade – inclusive por seu alcance específico –, o coletivo já deu início às atividades.
Segundo o docente Pedro Jabur, os materiais impressos já estão prontos. O projeto também foi contemplado em editais externos. “Ganhamos dois editais fora do contexto acadêmico da UnB que estão nos ajudando nesse momento”, conclui. É possível acompanhar a atuação do Observa PopRua pelo canal do coletivo no YouTube.
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