Entre abril e maio de 2020, o Laboratório de Estudos em Turismo e Sustentabilidade (LETS/CDS/UnB) e o Laboratório de Psicologia Social (Lapsocial/IP/UnB) formularam um estudo para acompanhar o planejamento de viagens dos brasileiros em 2020 e 2021, tendo em vista a pandemia de covid-19.
A pesquisa surgiu de iniciativa conjunta das doutorandas Jéssica Farias, do Instituto de Psicologia (IP/UnB), e Anastasiya Golets, do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS/UnB). E foi apoiada pelos professores Helena Costa, do Departamento de Administração (ADM/UnB) e Ronaldo Pilati, do IP.
De acordo com a professora e coordenadora do LETS Helena Costa, a equipe buscou compreender a mentalidade e reação dos viajantes. "Se está cancelando, se está adiando, quais são as preferências, como é a percepção de riscos, o que seria importante para voltar a viajar”, comenta. A docente reforça que a pesquisa foi um esforço interdisciplinar na UnB e que fez pontes com o setor produtivo do turismo. “Devido ao diálogo estabelecido, conseguimos compreender quais as necessidades da sociedade, das empresas e do mercado” aponta.
MUDANÇA DE PLANOS – Por meio de coleta on-line, o estudo alcançou 1.136 participantes de todo o território nacional, composto, majoritariamente, pelo público feminino na faixa média de 41 anos, com nível superior completo ou com pós-graduação, e com alta experiência de viagens, especialmente nacionais. Nas questões, a pesquisa buscou identificar como o turista percebe a pandemia e seus riscos, se acredita haver maior exposição durante esse período e a sua intenção de manter os planos de viagens. O estudo aponta que as alterações nos planos de viagens será maior em 2020 do que em 2021.
Entre os 70% dos entrevistados que planejavam viajar neste ano, 60% alteraram os planos. Desse total, 56% pediram adiamento e 36% cancelaram as viagens. O nordeste do Brasil destaca-se como principal destino nos planos revelados pelos entrevistados em 2020, seguidos pela regiões sudeste e sul do país.
De acordo com o levantamento, no próximo ano, os números serão bem diferentes: dos 82% respondentes que fizeram planos de viagem para 2021, apenas 23% havia feito alterações e 51% deste número optou pelo adiamento diante de 12% que cancelou as viagens. Em relação ao ano que vem, apareceu uma forte indecisão sobre a manutenção dos planos e, entre os planos revelados, a maioria era para viagens a destinos internacionais. Para a docente, além da segurança em saúde pública esperada pelo público para embarcar numa viagem, a estabilidade econômica aparece como um fator relevante aos respondentes.
Segundo Jéssica Farias, doutoranda do Instituto de Psicologia (IP/UnB) e participante do estudo, a leitura científica, apresentada de forma simplificada, oferece informações a população num período de incertezas. “Não sabemos quando a pandemia vai acabar, quando o risco vai diminuir e, por isso, fizemos perguntas para captar a percepção de riscos, do grau de severidade da doença”, diz.
Para Jéssica, o estudo reflete o comprometimento da ciência para emissão especializada de informações. “Quando fazemos uma pesquisa e falamos com mais de mil pessoas sobre determinado assunto, já não fica mais na base de nossa opinião. Conseguimos assim, inferir medidas com maior proximidade com a realidade estudada”, afirma.
“A contribuição do estudo foi, principalmente, mostrar às operadoras e agências de viagens, além de gestores de políticas públicas e autoridades locais ou nacionais, que o mais importante nesse momento, para o turista, é a segurança”, destaca a doutoranda do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) Anastasiya Golets, também participante da pesquisa.
ANÁLISE – Segundo o estudo, a maioria dos entrevistados tinha planos de viajar, que foram fortemente afetados pela pandemia, e enxerga a situação com severidade. De acordo com a docente Helena Costa, o público analisado está inserido num perfil mais alocêntrico, ou seja, valorizam novas aventuras e experiências genuínas, ao invés de locais considerados por eles como excessivamente turísticos. Apesar disso, a insegurança sentida – em razão dos riscos à saúde – destaca-se entre os aspectos que podem influenciar a intenção de realizar turismo. “Em segundo lugar, eles ressaltam a necessidade de uma vacina contra a covid-19, seguida por estabilidade econômica, além de protocolos sanitários”, acrescenta a professora.
Para a docente, o resultado da pesquisa pode oportunizar às agências de turismo adequação ao novo cenário. "Quando você fala em cancelamento, existem tarifações e reembolsos, existe uma lógica. Quando se fala em adiamento, ainda existe a promessa dessa viagem, de que a pessoa vai fazer num futuro próximo. Para o setor que organiza as viagens é uma expectativa importante”, explica.
A pesquisa foi apresentada no painel Impactos da pandemia sobre operadores e viajantes brasileiros, em webinário organizado pela Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (Braztoa), em parceria com o LETS e com a consultoria em inovações de turismo Amplia Mundo. A Braztoa e o Ministério do Turismo colaboraram com a divulgação do instrumento de pesquisa. O estudo integra os esforços desenvolvidos pela Universidade para o enfrentamento da pandemia.
*estagiário de Jornalismo na Secom/UnB
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