TECNOLOGIA NA PANDEMIA

Estudo desenvolvido auxilia a demonstrar como técnicas científicas podem contribuir para a determinação de medidas para intervir no cenário da pandemia

O sistema pretende descrever, de maneira simplificada, a disseminação de um vírus. Imagem: Reprodução

 

Estudantes de graduação e de pós-graduação do Instituto de Ciências Exatas (IE/UnB) implementaram um sistema computacional com o objetivo de ajudar no entendimento da propagação do novo coronavírus, causadora da covid-19. O estudo também ajuda a demonstrar como a adoção de medidas protetivas podem auxiliar a reduzir o impacto da pandemia.  

 

O projeto foi realizado por discentes da disciplina Métodos Computacionais Intensivos para Mineração de Dados, que é ofertada pelo Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada do Departamento de Ciência da Computação (PPCA/CIC). O sistema computacional descreve, de maneira simplificada, a disseminação de um vírus. Como exemplo, foram utilizados os dados populacionais da cidade de Santana do Jacaré (MG). Ainda que o semestre tenha sido suspenso, os alunos decidiram seguir em frente, dada a importância do tema. O trabalho foi conduzido pelo professor Guilherme Rodrigues, do Departamento de Estatística (EST/UnB). 

 

"O trabalho buscou aplicar técnicas de simulação para mostrar os padrões de propagação do vírus em determinados contextos (com e sem isolamento social). No entanto, é importante lembrar que vários fatores foram assumidos para simplificação da realidade, o que por si só, poderia comprometer uma aplicação prática dos estudos. Precisaríamos aprofundar as análises para eventuais recomendações técnicas sobre o tema", pondera Leonardo Ferreira, aluno de pós-graduação que participou do projeto.

 

DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA – Para explicar o modelo, estudantes da Estat, empresa júnior do curso de estatística, produziram um vídeo que ilustra a simulação desenvolvida na disciplina de Métodos. A Estat já tem experiência em facilitar a divulgação de dados em análise estatística: recentemente, criaram um vídeo mostrando o fluxo do uso de bicicletas compartilhadas no Distrito Federal durante a partida entre Brasil x Bélgica, nas quartas-de-final da Copa do Mundo de Futebol daquele ano.

 

>> Assista ao vídeo aqui

 

"A ideia da simulação surgiu com o propósito didático de colocar em prática alguns conceitos estatísticos. No âmbito da empresa júnior, além da abordagem didática, a proposta acrescentou o teor social e o desafio de narrativa (tanto verbal quanto visual) que resultaram no vídeo em questão", afirma Laura Cristina Melo Teixeira, aluna de graduação em estatística e integrante da Estat.

 

MÉTODO – "O modelo computacional não leva em consideração alguns cenários factíveis na vida real. Por exemplo, os pontos simulados são referentes ao tamanho da população no município, mas não leva em conta a possível entrada de pessoas de outras cidades na região, ou a saída de pessoas do município", explica a estudante Laura Cristina Melo. "Além disso, o tempo  que uma pessoa permanece com a covid-19 até se curar é uma constante no modelo (dez dias), e uma vez curada não pode se infectar novamente. São cenários possíveis, mas que simplificam a dinâmica real, bem mais ampla que a simulada", detalha.

 

"Nas simulações apresentadas, a cada intervalo de uma hora, cada cidadão se desloca com uma probabilidade pré-especificada. Os destinos são também sorteados aleatoriamente, com maior probabilidade alocada a um conjunto de pontos de interesse. Em resumo, um conjunto de regras probabilísticas permite ao analista simular o deslocamento dos habitantes da cidade", comenta o professor da disciplina de pós-graduação e supervisor da Estat, Guilherme Rodrigues.

 

"Igualmente, a contaminação dos cidadãos suscetíveis se dá de forma não determinística. O procedimento funciona como se o computador estivesse rolando dados e, dependendo do resultado, definindo o rumo da pandemia. Daí, ao alterar as regras que guiam este processo, podemos investigar o impacto na progressão da crise", continua.

Professor Guilherme Rodrigues, da disciplina de pós-graduação e supervisor da Estat, detalhou a metodologia do projeto. Foto: Arquivo Pessoal

 

CIÊNCIA EM AÇÃO – O professor Guilherme Rodrigues explica que o projeto pode ajudar na sensibilização da população quanto às medidas de distanciamento social. "A ilustração da disseminação do vírus em diferentes cenários apela ao expectador a partir de um elemento visual, na medida em que mostra como as ações de prevenção reduzem a velocidade de contaminação de novos indivíduos", aponta o docente.

 

"Não menos importante, a descrição justa das capacidades e limitações das técnicas científicas pode colaborar para um debate mais sereno e fundamentado sobre o papel da ciência no enfrentamento da crise", avalia.

 

"Eu enxergo que o ponto-chave do vídeo está em exemplificar o impacto dessas medidas de forma relativamente simples e fazer isso de maneira visual. Assim conseguimos atingir mais pessoas e, além de reforçar os cuidados, frisar a importância que a ciência e as pesquisas em geral têm nessa discussão", completa Laura Cristina Melo.

 

O objetivo da Estat é divulgar amplamente o vídeo de forma que alcance o máximo de pessoas. "Na Estat, temos o pensamento focado em como podemos usar a estatística para causar um impacto social positivo. Esse projeto é uma boa exemplificação disso. Nosso objetivo número um é levar essa mensagem de cuidado e embasamento científico, por isso quanto maior a divulgação, mais próximos estaremos de realmente contribuir nessa pauta. Tanto Estat como empresa júnior, quanto UnB carregam essa missão em comum de trazer um retorno pertinente à sociedade", conclui a estudante.

 

*Matéria atualizada em 28 de agosto, para correção de informação

 

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