Nesta semana, a ala sul do Instituto Central de Ciências (ICC), o Minhocão, no campus Darcy Ribeiro, virou palco de uma série de atrações, que despertam a atenção do público que passa por ali. As atividades integram a Semana da África, evento que promove o intercâmbio cultural por meio de uma programação diversificada.
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Há apenas quatro meses no Brasil, a estudante de Letras na UnB, Kevine Shutihe, elogiou a oportunidade de interação com outros estudantes africanos. “Muitos de nós temos dificuldades para adaptação à cultura do Brasil e esse acolhimento é muito importante.”
A novidade desta edição é a feira de produtos africanos. Bolsas, roupas, bijuterias, lenços e sapatos estão nas vitrines. Segundo o coordenador do Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G), Rogério Almeida, houve uma procura muito grande de interessados em expor. Ao fim, foram selecionados oito expositores, que trabalham exclusivamente com itens típicos da África.
Natural de Gana, Gladys Edem está há cinco anos no Brasil. A principal fonte de renda da família é a venda dessas peças, todas de fabricação própria. Participando da Semana pela primeira vez, ela se diz satisfeita com a divulgação de sua arte. “Eu estou achando tudo muito legal, é um espaço de muita troca”, comenta.
As oficinas de danças, trança e turbante, na quarta-feira (20), registraram um público de 70 pessoas. Os organizadores estimam que todas as atividades devem envolver centenas de pessoas. Desfiles, encenações teatrais e apresentações de dança foram o grande atrativo de quinta-feira (21), no campus Darcy Ribeiro. Na sexta-feira (22), as atividades aconteceram na Faculdade de Ceilândia (FCE) e na terça-feira (19), quem recebeu a programação foi a Faculdade do Gama (FGA).
O encerramento acontece no domingo (24), com o Torneio de futsal das nações africanas, no Centro Olímpico da UnB.
PERSPECTIVA HISTÓRICA — A África na imaginação histórica foi tema para uma das discussões previstas na programação. O professor de História Delmo Arguelhes abordou o preconceito em relação ao continente como parte integrante da própria História mundial, comumente tratada sob uma ótica eurocêntrica.
“Uma das consequências do colonialismo europeu no continente africano foi a omissão da identidade desses povos”, lembrou o docente, ressaltando que a resistência contra domínios externos sempre foi marca do povo africano.
Arguelhes frisou que o neocolonialismo do século XIX era motivado por um mito justificador: o de levar civilização e cultura a povos tidos como selvagens. “Durante muito tempo, a África foi vista na percepção evolucionista como um local sem história e primitivo.”
Para ele, esse pensamento tem se transformado nas últimas décadas. O palestrante indicou aos presentes diversos historiadores africanos que têm ajudado a contar uma nova versão da África. Como exemplo positivo brasileiro dessa iniciativa, Arguelhes citou a Lei nº 10.639/2003, que instituiu o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas.