DENÚNCIA

Documento deve ser apresentado à conferência da ONU sobre o tema que se encerra nesta sexta (24), em Nova Iorque

Manifesto foi lido no encerramento do Seminário Internacional Grito das Águas do DF. À esquerda, com microfone, o secretário-geral do Comitê da Bacia Hidrográfica do Paranaíba no DF, Maurício Laxe, e, ao lado oposto no palco, Marcos Santarosa, da Associação dos Produtores do Lago Oeste. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB


Para fazer mais uma vez um alerta sobre a situação preocupante das águas no Distrito Federal, a Universidade de Brasília, em conjunto com um grupo de entidades públicas e movimentos socioambientais, lançou um manifesto nesta quarta (22). O documento, em defesa dos recursos hídricos da região, foi apresentado durante o encerramento do Seminário Internacional Grito das Águas do DF, promovido no Auditório Dois Candangos da Faculdade de Educação na semana em que é celebrado o Dia Mundial da Água.

O evento, assim como o manifesto, colocou em evidência as ameaças provocadas pela urbanização e pela ocupação indevida do solo a regiões produtoras de água como Serrinha do Paranoá, Águas Emendadas, bacia do Descoberto, Chapada da Contagem e rio Melquior.

"Estamos vivenciando uma série de ataques ao meio ambiente no Distrito Federal. A especulação imobiliária é uma grande ameaça à preservação da própria água", citou a deputada federal Erika Kokay ao lembrar que a região onde está localizado o DF é berço de centenas de nascentes que abastecem importantes bacias hidrográficas no Brasil e na América do Sul.

"No Distrito Federal, as águas estão sendo caladas com asfalto, esgoto e veneno", disse a professora da Faculdade de Educação e coordenadora do Seminário, Rosângela Azevedo Corrêa. "O Seminário Internacional Grito das Águas do DF, organizado pelo Fórum de Defesa das Águas do DF e pela Universidade de Brasília, denunciou o que está acontecendo com nossas águas. Basta de projetos imobiliários e expansão urbana para o ganho de grupos econômicos e ao custo da vida das gerações de hoje e futuras. Basta de parcelamentos irresponsáveis e criminosos de nosso território, que destroem o cinturão verde do DF e criam bolsões de miséria nos quais milhares de pessoas vivem sem acesso à água e ao saneamento", defende o manifesto.

>> Leia a carta na íntegra

O documento, que ainda terá uma versão estendida, estará disponível nos canais oficiais de diferentes movimentos socioambientais que participaram de sua elaboração, como as associações Alternativa Terrazul e Preserva Serrinha.

A expectativa é que o manifesto seja apresentado à Conferência da ONU sobre a Água, que se encerra nesta sexta (24) em Nova Iorque. A carta foi traduzida e entregue para o diretor-geral do Centro Internacional de Água e Transdisciplinaridade (Cirat) Sérgio Ribeiro, que está no evento em Nova Iorque, onde será repassada aos movimentos e autoridades presentes.

No Brasil, o manifesto será entregue a diferentes entes públicos, entre eles, Ministério do Meio Ambiente e Agência Nacional de Águas, ministérios públicos Federal e do Distrito Federal, Frente Parlamentar Ambientalista, Frente Parlamentar em Defesa da Serrinha na Câmara Legislativa do DF, Companhia de Saneamento Ambiental do DF, Secretaria do Meio Ambiente do DF e Instituto Brasília Ambiental.

Yuri Salmona: "A gente já perdeu cerca de 15% da vazão desses rios e a tendência é ter uma perda total de 34%, é bastante preocupante". Foto: Arquivo Pessoal

 

ALERTA – Apresentada na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), no Egito, no ano passado, a pesquisa do doutor em Ciências Florestais e ex-aluno da UnB Yuri Salmona mostrou que houve uma redução drástica no volume das águas nos rios do Cerrado. A principal causa dessa redução, segundo o estudo, são mudanças no uso do solo, sendo o desmatamento responsável por 56% da alteração. Os outros 44% resultam de mudanças climáticas. “Quando a gente foi olhar para o futuro do Cerrado em um cenário tendencial, percebemos que o cenário vai se agravar. A gente já perdeu cerca de 15% da vazão desses rios e a tendência é ter uma perda total de 34%, é bastante preocupante”, diz Yuri.

O professor de Engenharia Florestal da UnB e coautor da pesquisa, Reuber Brandão, chama a atenção para o fato de que os próprios proprietários de terra têm notado uma redução da água na região. “É unanimidade entre eles que as nascentes estão diminuindo, que a quantidade de água está diminuindo, lagoas que enchiam não estão enchendo mais ou estão secando”, destaca.

Ele detalha os impactos da remoção da vegetação nativa do bioma sobre o ciclo das águas. "Quando você remove a vegetação nativa e troca essa vegetação de raízes fortes, compridas e profundas, com matéria orgânica do solo, por substrato agrícola com vegetação de raízes rasas e, usualmente, em um cenário de uso de maquinário, você tem menor percolação de água no solo. A mecanização da agricultura eventualmente causa um espelhamento no solo, isso diminui a capacidade da água de penetrar e, em larga escala, a substituição da vegetação nativa vai interferir na saúde do ciclo hídrico, na capacidade da água retornar ao lençol freático. Isso diminui a água disponível no sistema”, explica.


Sob orientação do professor Eraldo Matricardi do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais, a pesquisa analisou dados de 81 bacias do Cerrado, de 1985 a 2022. "Nossos resultados também indicam um potencial de descontinuidade do fluxo das águas dos rios nos próximos anos, o que afetará a produção agrícola e de energia elétrica, além do abastecimento de água", acrescenta o professor. "É provável que os atuais conflitos sociais por recursos hídricos sejam intensificados num futuro breve", aponta. "Portanto, é muito importante a reorientação das políticas de uso da terra no bioma Cerrado, definindo instrumentos legais e medidas políticas para conter o desmatamento e mitigar os impactos atuais da expansão agrícola e das pastagens na região”, ressalta.

 

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