SÉRIE DIREITOS HUMANOS

Projeto de graduandos em antropologia é a adaptação em áudio de pesquisa sobre a grilagem de terras no território da comunidade Kalunga

 

A temática dos direitos humanos está sempre pulsando na Universidade de Brasília. Em 27 de março, o ministro da pasta no governo federal, Silvio Almeida, abre o semestre letivo no #InspiraUnB. O bate-papo com a comunidade acadêmica acontece às 17h, no auditório da Associação dos Docentes da Universidade (ADUnB). Em 2022, foram instituídas a Câmara e a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), para liderar as ações institucionais relacionadas ao assunto, debaixo da Política de Direitos Humanos da Universidade. Os Prêmios Anísio Teixeira e Mireya Suárez reconheceram iniciativas da comunidade acadêmica que promovem os direitos humanos. Nesta série de reportagens, você lê detalhes sobre cada um desses projetos vencedores. O quinto material é sobre o Se o grileiro vem, pedra vai.

Podcast Se o grileiro vem, pedra vai denuncia crimes em território quilombola e inova ao disponibilizar em áudio conteúdo de TCC. Imagem: Divulgação

 

O podcast pioneiro Se o grileiro vem, pedra vai, desenvolvido por estudantes de graduação da Universidade de Brasília, transformou uma monografia em conteúdo de áudio. Dessa forma, o projeto democratizou o acesso à produção científica sobre a grilagem de terras no território da comunidade quilombola Kalunga, no interior de Goiás.

Vencedor da categoria Democracia e Participação do Prêmio Anual de Direitos Humanos Anísio Teixeira, Se o grileiro vem, pedra vai foi idealizado por quatro estudantes do curso de Antropologia da UnB, de forma voluntária e sem apoio financeiro ou vínculo formal com outros projetos da Universidade. Ele é a adaptação em áudio da pesquisa realizada por Francisco de Sousa, iniciada em 2020. O trabalho trata do processo de grilagem de terras no território do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga (SHPCK). No estudo, Francisco tinha a intenção de observar o processo por lentes da antropologia, descrevendo com precisão os indícios de grilagem encontrados, as entrevistas, as idas a campo, entre outros.

De acordo com a equipe do podcast, os interlocutores – como são chamados os grupos – possuíam certo receio com a presença dos pesquisadores na comunidade, pois estes adentravam à rotina deles, colhiam o que precisavam e iam embora sem devolutiva. Os interlocutores não tinham contato com o resultado do estudo. Isso se daria, em parte, pelo fato de boa parte da comunidade ser analfabeta. Assim, surgiu a ideia de disponibilizar a monografia em áudio, de forma gratuita e acessível e em uma linguagem agradável e simples, sem jargões e palavras técnicas.

A comunidade Kalunga participou de todos os processos, desde questões como formato dos episódios e escolha das plataformas nas quais disponibilizá-los até a participação direta nos programas, com depoimentos e falas. “Ter a primeira monografia de antropologia totalmente em áudio premiada nesses moldes demonstra a potência da graduação, a capacidade de tornar o que é produzido na Universidade mais acessível e, sobretudo, a valorização dos interlocutores – do Valdir, da Dona Antônia, do Seu Naboa –, expondo que o pesquisador é apenas mais um entre vários interessados nos fatos que observa e analisa”, afirma Francisco de Sousa.

O estudante diz que alguns dos maiores percalços e ambições do projeto são alcançar sujeitos para além de pessoas que consomem conteúdo acadêmico. “Esse foi e é um dos maiores desafios: fazer chegar a uma massa enorme de pessoas, que têm lutado diariamente pelo acesso à terra. A gente quer que eles se apossem do conteúdo produzido, que entendam das fraudes e empreguem o conhecimento nessa batalha cotidiana”, ressalta Francisco.

No evento de premiação, Francisco de Sousa discursou ao lado de colegas da Antropologia. Foto: Mozaniel Silva/Secom UnB

 

CONQUISTAS – O podcast acabou ampliando as metas. Deixou de ser uma iniciativa que visava apenas alcançar os interlocutores da pesquisa e passou a buscar a divulgação dos conflitos observados no território Kalunga para o maior número de pessoas, dos mais diversos nichos sociais. Disponível gratuitamente nas plataformas YouTube e Spotify, o conteúdo foi reproduzido mais de 10 mil vezes. No Instagram, a iniciativa alcançou mais de 400 contas, incluindo perfis internacionais.

Francisco comenta que a divulgação gerada com o Prêmio Anísio Teixeira coopera com esse objetivo, criando uma corrente científica de entrega de produtos e resultados para além da escrita. “Como parte desse coletivo, acho que um resultado prático importantíssimo é o fortalecimento do fazer científico implicado, com foco em produzir mudanças significativas através do trabalho com os interlocutores. Nosso trabalho e esse prêmio demonstram que há outras possibilidades para além do TCC clássico e abrem espaço para pesquisas com produtos dos mais diversos”, avalia.

O estudante comemora os efeitos práticos que surgiram a partir do projeto Se o grileiro vem, pedra vai. “Temos a honra de dizer que contribuímos, ao menos um pouco, com as vitórias que a comunidade conseguiu, como a reintegração de posse na Bonito [fazenda em área Kalunga] e, mais recentemente, o inquérito aberto contra o estado de Goiás por omissão na titulação das terras para a Associação Quilombo Kalunga”, detalha Francisco.

>> Ouça o episódio piloto do podcast


PRÊMIO – O Prêmio Anual de Direitos Humanos Anísio Teixeira reconhece ações de excelência realizadas no ensino, na pesquisa e na extensão universitária. São três categorias: Igualdade, Diversidade e Não Discriminação; Saúde, Meio Ambiente e Bem-estar; e Democracia e Participação. Na edição de 2022, os projetos vencedores em cada área, respectivamente, foram: Negras Antropologias: promovendo epistemologias antirracistas e o protagonismo negro na produção do conhecimento antropológico; Cravinas – prática em direitos humanos e direitos sexuais e reprodutivos durante a pandemia de covid-19; e Se o grileiro vem, pedra vai: pra todo mundo ouvir.

 

Leia também:

>> UnB divulga seleção para cursos de licenciatura a distância

>> Oficinas dão instrumentos para fortalecer direitos indígenas

>> UnB celebra o Dia Mundial da Água

>> CAD aprova Política de Prevenção e Combate ao Assédio Moral e Sexual, Discriminações e Outras Violências

>> UnB realiza parceria para reestrutura Setor de Importação da Ufal

>> Cravinas é reconhecido pela defesa dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres

>> Museu de Biologia ganha site e exposição de longa duração

>> Atividade abre semestre letivo na Universidade do Envelhecer

>> Reitoria da UnB e presidência da FAPDF reúnem-se para discutir projetos de 2023

>> Projeto da UnB ensina mediação de conflitos em escolas públicas do DF

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.