Levantamento mais recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que o Brasil tem a população mais ansiosa do mundo. O psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da UnB, Leonardo Sodré, falou sobre o tema no programa UnBTV Entrevista. “Não é nem um pouco surpreendente essa informação. Há vários fatores que contribuíram para isso, tanto do ponto de vista ambiental, quanto inclusive do ponto de vista biológico”, analisa.
Ele afirma que o ambiente social no Brasil, onde há muita insegurança sobre a proteção das pessoas e das estruturas sociais, está ligado intimamente, de forma inconsciente, com os limites individuais e a sensação de proteção. Como fator biológico, ele cita a pandemia da covid-19, que causou alterações.
“O vírus traz uma alteração biológica mesmo em pessoas que tiveram quadros leves. Há um efeito pró-inflamatório no sistema nervoso central onde células da glia (presentes no sistema nervoso central) estão hiperativas e isso predispõe ao adoecimento mental”, explica o professor.
Medo de infecção, isolamento social, sobrecarga de notícias são fatores que aumentaram ainda mais a sobrecarga mental e emocional durante a pandemia. No período, a procura por atendimento em saúde mental pela primeira vez aumentou. Mas quando a ansiedade é considerada normal e quando ela se torna patológica?
“A ansiedade vem naturalmente dos animais e é biologicamente adaptável. É normal ter um sistema de proteção para fugir de perigos. Acontece que a gente evoluiu e hoje os nossos predadores não são mais animais, são as inseguranças”, pontua Sodré. “Às vezes, a gente tem que ter um pouquinho de medo e inquietude para a gente levantar e ir trabalhar, o problema é quando o medo deixa de ser propulsor e torna-se imobilizador”, salienta.
Segundo ele, pesquisas mostram que mais de 90% das preocupações rotineiras nunca vão acontecer. Mesmo assim, as pessoas que sofrem de ansiedade ficam continuamente sentindo medos e é nesse ponto que surgem sintomas como instabilidade de humor, esgotamento físico, taquicardias, insônia e falta de ar.
“Um ponto que marca o quadro patológico é justamente quando há perda da funcionalidade, além do sofrimento. Que precisa ser tratado o quanto antes”, ressalta o psiquiatra. Ele ainda cita opções de tratamento, com e sem uso de medicamentos, além de como evitar que a ansiedade se torne patológica.
SOBRE – A UnBTV é o canal de televisão da Universidade de Brasília. UnBTV Entrevista é o programa de entrevistas sobre temas diversos de interesse da comunidade acadêmica. Os episódios podem ser conferidos no canal da UnBTV no YouTube.
Confira o diálogo no UnBTV Entrevista: