“A informação científica ajuda a tomar decisão de hábitos da vida.” Foi a essa conclusão que o epidemiologista mineiro Maurício Gomes Pereira chegou quando confrontado com pesquisa que elencava os danos à saúde causados pelo tabagismo. O episódio se deu no período em que fazia especialização na Europa, entre 1963 e 1966. À época, o médico era fumante. Face os dados, largou o cigarro. E percebeu o impacto da qualidade da informação científica para a vida as pessoas. De lá para cá, Pereira dedicou parte de seu trabalho a ensinar “a fazer uma boa informação”, como ele, que é autor dos livros referência Epidemiologia: teoria e prática e Artigos Científicos: como redigir, publicar e avaliar, descreve.
Especialista em Clínica Médica e Nutrição, na Espanha, em Saúde Pública, na Bélgica, e em Pediatria, no Brasil, com quase 150 artigos publicados, a jornada profissional alcança novo marco na noite de terça-feira (25), quando Perreira tomará posse como membro titular da Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro. Ocupará a cadeira 16 da Seção de Medicina. Além disso, será o único da região Centro-Oeste na Academia.
Professor da UnB desde 1968, Maurício Gomes lecionou para a primeira turma graduada em Medicina da instituição. Em 2012, recebeu o título de Professor Emérito da UnB. “Achei a UnB a melhor coisa da minha vida. Sou um intelectual”, conta.
Graduado em medicina em 1962, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pereira tornou-se doutor em epidemiologia em 1977, pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. “Quando voltei para o Brasil, vi que ninguém estudava epidemiologia”, diz.
“As pessoas não entendem bem o que é a epidemiologia. Trata-se de maneira sistematizada de estudar as doenças nas populações”, explica. "Como entender o que é risco, como a informação é produzida e como é o aparecimento de doenças", continua. Por dez anos, o professor dedicou-se na produção da obra Epidemiologia: teoria e prática, publicada em 1995. O livro é referência nos cursos de graduação de Medicina e tem mais de 30 mil exemplares vendidos, marca relevante para livros acadêmicos desta extensão – são 600 páginas. Até meados de 2016, a obra contabilizava 1.840 citações do Google Acadêmico.
Pereira levou outros dez anos para escrever Artigos Científicos: como redigir, publicar e avaliar, voltado a todos os campos de pesquisa. Atualmente, ensina método, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, na UnB. “A informação que se recebe é tomada como verdadeira. É preciso ter avaliação crítica. Existe uma coisa chamada viés de publicação. Nela, publica-se o que o pesquisador crê que é o mais aceitável para a academia. Isso é uma falha na avaliação que a gente faz quando está na academia”, ensina. "A maior quantidade de informação que recebemos não é boa. A opinião não interessa. Cada um tem a sua. O importante é a verdade. É a busca da verdade, da informação com credibilidade", encerra.