Em meio à pandemia de covid-19, uma equipe multidisciplinar comandada pelo médico cirurgião plástico Marconi Delmiro, no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), realizou, em seis meses, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), 60 cirurgias de lábio leporino e fenda de palato. O profissional destaca que o desafio é imenso, pois, a cada ano, nascem cerca de 4.500 bebês com má formação de lábio e palato no país. E, em função da pandemia, as cirurgias eletivas foram prejudicadas.   

“A questão é política e social, pois a ocorrência de lábio leporino e fissura de palato é a segunda maior causa de malformação congênita no país, atrás apenas do pé torto congênito”, aponta o cirurgião, coordenador do Ambulatório de Fissurados do Hran. No fim de abril, o médico conversou pela internet com estudantes da Faculdade de Comunicação da UnB que cursam a disciplina Oficina de Texto, do Departamento de Jornalismo. Na oportunidade, ele expôs o trabalho feito no Serviço Multidisciplinar de Atendimento aos Fissurados do Hran.

“Estes problemas têm reflexos diretos no convívio social destas crianças, porque muitos se tornam retraídos e acabam sendo excluídos socialmente”, observou o especialista. A equipe comandada por Marconi Delmiro foi responsável por transformar o Hran em hospital referência no tratamento de fissura labiopalatina em toda a região Centro-Oeste.

O ideal, de acordo com Delmiro, é que as cirurgias no lábio sejam realizadas a partir dos seis meses de vida do bebê e a partir de um ano e meio no caso do palato. “Quando a cirurgia é feita no tempo correto, conseguimos trabalhar melhor o prognóstico”, disse.

A ausência de intervenção cirúrgica pode levar a diversas sequelas, como dificuldades para falar, mastigar, ouvir, deglutir. Em casos mais graves, outros órgãos podem ser acometidos, como o coração. “A prevenção passa pelos pais, que devem redobrar os cuidados durante a gestação, evitando a ingestão de drogas, álcool, tabaco e suprir a deficiência de ácido fólico”, recomenda o médico.  

Os estudantes da disciplina Oficina de Texto, sob orientação da professora Ana Carolina Kalume, interagiram com o médico, indicando a relevância de detalhar os serviços de excelência oferecidos pelo SUS e destacando o papel social da imprensa.

Marconi Delmiro concordou que a disseminação do conhecimento sobre causas e consequências da má formação é fundamental para esclarecer a população sobre medidas preventivas e o tratamento adequado. “A desinformação faz com que pouco mais da metade das crianças afetadas tenham acesso à cirurgia”, acrescentou o médico cirurgião, lembrando que as fissuras de lábio e palato ocorrem, sobretudo, em famílias em situação de vulnerabilidade, no Brasil e no mundo.

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