COMUNICAÇÃO

Criado em disciplina, o perfil Coisa de Cientista visa simplificar informações sobre pesquisa e saúde, além de divulgar projetos de combate à covid-19 da UnB

O perfil Coisa de Cientista foi criado por estudantes como produto da disciplina Pesquisa Básica de Interesse Médico. Imagem: Divulgação

 

As mídias digitais têm sido utilizadas como importantes ferramentas para a circulação de informações relacionadas à pandemia de covid-19. Administrado por alunos de diversos cursos da UnB, o perfil no Instagram Coisa de Cientista (@coisa_de_cientista) reforça essa premissa, ao abordar o tema da ciência e dar visibilidade a projetos da UnB de combate à covid-19.

 

Conteúdos diversos sobre assuntos em voga na atualidade, como a importância das vacinas, os testes clínicos de efetividade dos imunizantes, mecanismos de ação e desenvolvimento de medicamentos, além de outros sobre saúde, são publicados na página. A ideia é que o público em geral entenda mais sobre a ciência e qual o impacto dela na sociedade, além de interpretar de forma mais fácil as informações científicas. O perfil também auxilia no combate às fake news e fomenta a interação entre população e estudantes e profissionais da área da saúde.

 

“No perfil do Coisa de Cientista, eu e meus colegas, com a ajuda dos professores, tentamos colocar em uma linguagem acessível informações importantes sobre ciência e saúde. Ter a informação correta e clara, ainda mais no momento em que vivemos, é essencial para manter a saúde das pessoas”, resume uma das administradoras da página, a estudante Giulia Soares, do oitavo período de Jornalismo. 

 

O perfil na rede social foi criada como produto da disciplina optativa Pesquisa Básica de Interesse Médico, que incentiva discentes a aprender sobre o método científico ao ensiná-lo para outras pessoas. Ministrada pelos professores André Nicola, da Faculdade de Medicina (FM), e Dione Moura, da Faculdade de Comunicação (FAC), a disciplina passou a ser ofertada, desde o primeiro semestre letivo de 2020, de forma remota.

 

As atividades são divididas em duas partes. Na primeira, são discutidos temas como estatística, leitura e interpretação de artigos científicos e o processo de publicação de artigos. Já na segunda, os alunos produzem conteúdos para divulgação em diversas plataformas, em especial o Instagram.

Para André Nicola, a melhor forma de aprender algo é ensinando para outra pessoa. Foto: Arquivo pessoal

 

Neste semestre, 19 estudantes dos cursos de Medicina, Biotecnologia, Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Audiovisual se matricularam. A turma foi dividida em grupos para trabalhar temas específicos nas postagens. 

 

“Essa disciplina foi criada para ser 100% prática, com poucos alunos indo ao laboratório para fazer pesquisa e apresentando artigos científicos para aprender como se faz ciência. Mas aí veio a pandemia, e não era mais seguro receber alunos no laboratório. Lembrei-me do quanto eu aprendi sobre imunologia quando tive que, pela primeira vez, dar aulas sobre o tema. Inclusive, muito mais do que num doutorado”, comenta André Nicola.

 

A atividade também tem apoio da equipe da Assessoria de Comunicação (Ascom) da Fundação Oswaldo Cruz de Brasília (Fiocruz), que conversa com a turma sobre os conteúdos desenvolvidos pelos grupos. Fernanda Marques, jornalista da Ascom da Fiocruz, aponta que é um momento interessante de interação, diálogo e trocas. “Na minha opinião, alcançamos principalmente a convergência de olhares sobre a importância da divulgação científica, a necessidade de planejamento das estratégias de comunicação, a atenção voltada para os diferentes públicos e a importância de avaliar constantemente as ações realizadas”, diz.

 

Diego Nardotto, estudante do sétimo semestre de Medicina, decidiu cursar a disciplina por ter afinidade com a capacitação em estatística oferecida. “Já completei todos os meus créditos de optativas e atividades complementares do currículo, então estou fazendo por gosto, depois de saber das discussões por um calouro. Quero ser infectologista e trabalhar na área de epidemiologia com bioestatística, então é sempre muito bom participar de encontros assim, raros no meu curso”, conta o discente.

Giulia Soares destaca que o projeto é uma ótima oportunidade para trabalhar com a comunicação científica e em saúde. Foto: Arquivo pessoal

 

Já Giulia Soares decidiu participar da disciplina a pedido da professora da FAC Dione Moura. “Ela é minha professora em pré-projeto em Jornalismo. Comecei a elaborar meu TCC, que vai ser sobre comunicação e ciência, então ela achou que essa disciplina ia acrescentar algo para minha formação. E realmente acrescentou”, compartilha ela, que também estagia em uma organização social de ciência, tecnologia e inovação.

 

CIÊNCIA E COMUNICAÇÃO – Os estudantes têm encontros virtuais uma vez por semana, às sextas-feiras, nos quais apresentam o conteúdo produzido ao longo da semana para o perfil aos professores e profissionais da Fiocruz.

 

André Nicola pontua que os resultados obtidos com a disciplina, em dois semestres remotos, têm sido excelentes. “Os alunos são extremamente talentosos, produzem conteúdos de altíssima qualidade. O número de seguidores no Instagram continua subindo paulatinamente, um mérito deles e de profissionais de comunicação que os ajudaram bastante a entender como se comunicar de maneira mais efetiva.”

 

Para Nathália Gameiro, jornalista da Ascom Fiocruz, a divulgação científica é essencial e é preciso mostrar às pessoas que a ciência se faz presente em tudo. A jornalista acredita que, nesse momento em que a ciência e as instituições de saúde ganham destaque, o conteúdo científico deve ser divulgado com uma linguagem simples e acessível. “É preciso também descomplicar a ciência, e eu acredito que as mídias sociais têm um grande papel nisso, já que elas facilitaram o acesso à informação.”

 

PÚBLICO INFANTO-JUVENIL – Estudantes da disciplina, Diego Nardotto, do curso de Medicina, e Samanta Vieira, de Publicidade e Propaganda, decidiram focar em conteúdo para o público infanto-juvenil. Eles buscaram, por conta própria, estabelecer parceria com a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF), que possui, junto ao projeto Conexão Científica – voltado à popularização da ciência e iniciação científica nas escolas, canal no YouTube destinado a alunos de escolas públicas do DF.

 

Agora, a iniciativa irá replicar o conteúdo produzido pelos discentes da UnB. “O trabalho com a produção dos vídeos começou em abril. Corri atrás do networking com a UnB e o projeto Conexão Científica, que tem parceria com a SEEDF, e ajudei com os roteiros, enquanto minha colega Samanta, aluna da FAC, produz os vídeos com base nisso. Tem sido assim desde então, com muita ajuda do pessoal do Conexão Científica”, relata Diego.

 

Segundo o graduando, a proposta de produzir conteúdo com esse foco partiu do professor da Faculdade de Medicina Hervaldo Sampaio, que é um de seus orientadores de pesquisa. “A ideia do professor Hervaldo, desde o início, foi usar as crianças como motor de divulgação científica para os pais, avós, tios, amigos, enfim, e fomentar o debate [sobre ciência]. A parceria com a SEEDF tem sido a realização de uma vontade muito grande nossa”, comemora. 

 

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