TRIBUTO

Cerimônia é marcada por cantos e danças indígenas e depoimentos emocionados de colegas, amigos e ex-alunos

Foto: Luís Gustavo Prado / Secom UnB

 

Penachos e cocares coloriram o prédio da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) na tarde da última sexta (5). O auditório da entidade foi palco de emocionante homenagem a um dos mais renomados estudiosos das línguas indígenas do Brasil, o ex-professor da UnB Aryon Dall’Igna Rodrigues, falecido em 2014.

 

Cânticos guarani-kaiowá abriram o tributo, que contou com a presença de colegas e amigos do linguista, além de ex-alunos indígenas. Na sessão de depoimentos, a saudade apareceu nos discursos. “Gostaríamos que essa homenagem tivesse sido feita com Aryon ainda vivo”, disse a coordenadora do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas da UnB (Lalli), Ana Suelly Arruda Câmara Cabral, responsável pela organização do evento.

 

Fotografias e cartas trocadas com pesquisadores brasileiros e estrangeiros, como o próprio Darcy Ribeiro e o etnólogo suíço Franz Caspar, recontaram parte da vida e obra do professor que veio para a UnB em 1962 a convite de Darcy para ajudar a criar o curso de letras brasileiras. O curitibano já era PhD em linguística na época e lecionava etnografia na Universidade Federal do Paraná. Em uma imagem de 1964, Aryon aparece classificando a língua dos cinta-larga na Amazônia.

 

Indígenas dançam o guaxiré. Ao fundo, cenas do confronto entre índios e fazendeiros ocorrido em junho na aldeia Caarapó (MS). “Lutamos pela nossa terra e nossa língua, que não está escrita em nenhum lugar”, disse Rosileide Barbosa de Carvalho, da etnia guarani-kaiowá. Foto: Luís Gustavo Prado / Secom UnB

 

“A gente aprendeu com ele a importância das línguas na defesa dos direitos indígenas e na demarcação de terras dos índios”, destacou a antropóloga Betty Mindlin. “Agora é preciso reunir e divulgar sua imensa obra. Acho que todos os brasileiros deveriam conhecê-la."

 

Professor da Faculdade Intercultural Indígena da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Hemerson Catão conta que decidiu trabalhar com formação de professores indígenas por influência do docente. “Ele me disse: ‘por que você não trabalha com ensino, o problema está no ensino.’”, lembra. “O professor Aryon era uma figura ímpar, uma pessoa muito humana, que se preocupava com os outros."

 

A professora do Instituto de Letras (IL) Ana Rossi falou sobre o que aprendeu com o mestre. “Venho de uma tradição de ensino muito hierarquizada. Um dia perguntei por que todos trabalhavam juntos no Lalli. Ele respondeu: 'para que uns ensinem aos outros'. Tento levar para os meus alunos o que ele transmitiu, de ser humano para ser humano, de maneira muito humana. Sou muito grata ao professor Aryon por ter compartilhado sua experiência de vida conosco.”

 

Apresentação da Orquestra Brasília Sopro Sinfônica. Foto: Luís Gustavo Prado / Secom UnB

 

Maria Luísa Ortiz, também professora do IL, contou como conheceu Aryon. “Minha história com o professor Aryon começou em 1999, quando decidi escrever sobre a influência das línguas indígenas no português do Brasil e no espanhol de Cuba. Aryon é um exemplo. Ele era incansável, trabalhava de domingo a domingo."

 

Sob regência de Fernando Morais, a orquestra Brasília Sopro Sinfônica fechou a tarde de homenagens com O guarani de Carlos Gomes e as Bachianas Brasileiras no 2 de Heitor Villa-Lobos. Durante sessão de depoimentos, houve apresentação da dança típica guaxiré.

 

Organizado pelo Lalli, o evento aconteceu durante o V Encontro Internacional sobre Línguas e Culturas dos Povos Tupí e o II Encontro Internacional de Arqueologia e Linguística Histórica das Línguas Indígenas Sul-Americanas.

 

Foto: Luís Gustavo Prado / Secom UnB

 

"Os índios do Brasil
não são um povo,
são muitos povos,
diferentes de nós
e diferentes entre si"
 
Aryon Dall´Igna Rodrigues (1925-2014)

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