ACOLHIMENTO

Aulas de Terapia Comunitária e Práticas Integrativas estimulam cuidado mútuo e bem-estar no ambiente acadêmico. Atividade é ofertada nos quatro campi

Acima, estudantes da Faculdade UnB Gama (FGA) trabalham com um dos pilares da disciplina: a antropologia cultural. Foto: Arquivo pessoal


Construir um espaço de diálogo igualitário: esta é a proposta das aulas de Terapia Comunitária e Práticas Integrativas (TCI). Ofertada em todos os campi da UnB e aberta à comunidade, a disciplina visa promover cuidados em saúde mental entre os estudantes na Universidade. A TCI é ofertada pelo Departamento de Saúde Coletiva (FS/UnB) em uma parceria com a Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária, do Decanato de Assuntos Comunitários (Dasu/DAC).

 

A participação garante dois créditos curriculares aos discentes. As aulas são guiadas por um terapeuta, que acolhe os participantes com músicas e leituras. Após esse momento inicial, os estudantes sugerem um tema a ser contextualizado e inicia-se uma roda de perguntas sobre o assunto. Eles podem trazer para a discussão questões que os incomodam, como problemas familiares, experiências da vida acadêmica ou o que estiver os afligindo no momento.

"Um tema muito recorrente entre os participantes durante a pandemia foi o cansaço e a fadiga; já no retorno presencial, a sobrecarga do semestre e demandas como a dificuldade de ser mãe dentro da Universidade", observa a coordenadora de Articulação de Redes para Prevenção e Promoção da Saúde da Dasu, Josenaide Engracia.

Ela explica que essa dinâmica fortalece as relações grupais e favorece o desenvolvimento individual e coletivo. E destaca algumas regras para participar: sempre falar em primeira pessoa, fazer silêncio e não julgar.

O semestre é encerrado com uma partilha da experiência nas atividades em diferentes meios de expressão, como pintura, vídeo ou texto.

Josenaide cita alguns benefícios compartilhados pelos participantes da disciplina: "Diminui o nível de ansiedade, as relações interpessoais ficam menos conflituosas. É muito comum ouvir isso na TCI: 'parei de ter tanta tensão dentro de casa com meus pais, comecei a me ver de outra forma, me cobrar menos, dizer que eu posso parar aqui'".  

Para Cynthia Bisinoto, vice-diretora da Faculdade UnB Planaltina (FUP) e docente que irá supervisionar a disciplina na unidade, a iniciativa traz a oportunidade de "construir coletivamente um espaço no qual os estudantes possam cuidar de si e do outro".

As vagas para as turmas nos quatro campi já estão preenchidas este semestre. Para quem tiver interesse, a disciplina deve voltar a ser disponibilizada no 1º/2024.

>> Conheça as atividades ofertadas pela Dasu 

Ao final do semestre, os alunos expressam em pinturas, textos ou vídeos como foi participar da disciplina. Foto: Arquivo pessoal


PRINCÍPIO –
A TCI é uma das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Pics), recursos terapêuticos adotados para prevenção de doenças e que estimulam a escuta acolhedora, o desenvolvimento do vínculo terapêutico e a integração com a sociedade e o ambiente.

Na UnB, antes de ser ofertadas como disciplina, as práticas de TCI eram promovidas junto à comunidade no âmbito de um projeto criado em 2019 pela diretora da Dasu Larissa Polejack, junto à psicóloga da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) Doralice Oliveira Gomes. A proposta da iniciativa era viabilizar o cuidado e o bem-estar mental dos estudantes com a realização de rodas de acolhimento.

 

“Na terapia comunitária, compartilhamos as dificuldades enfrentadas no cotidiano e as estratégias para lidar com esses problemas, como histórias pitorescas e coisas interessantes, para a pessoa lembrar da sua vida de uma forma ampla e refletir”, detalha Doralice Oliveira Gomes, coordenadora de TCI na SES-DF.

 

O interesse em ampliar a adesão à atividade motivou a transformação do projeto em disciplina. “Eu pensei em uma estratégia para aproximar a comunidade da TCI. A ideia foi transformar em disciplina, porque uns dos problemas que os alunos enfrentam dentro da Universidade são os créditos. Então ela poderia diminuir essa ansiedade [da vida acadêmica] e, na mesma linha de pensamento, os participantes seriam cuidados, o que é propósito da Terapia Comunitária”, relata Josenaide Engracia, quem propôs a mudança. 

 

>> Confira artigo da Dasu/DAC sobre a TCI na UnB

 

A disciplina está na grade curricular da UnB desde 2020 e foi adaptada para o formato remoto no período da pandemia de covid-19. A oferta presencial tem ocorrido em três dos campi – Darcy Ribeiro, Gama e Ceilândia – desde o início de 2022. Este será o primeiro semestre em que a disciplina é ministrada presencialmente na FUP.

EXPERIÊNCIA – O estudante do último semestre de Gestão Ambiental Luan Sales integrou o projeto e continuou a participar da Terapia Comunitária Integrativa quando tornou disciplina. O discente ressalta que a adesão na época das restrições sociais decorrentes da pandemia foi essencial para conseguir manter-se na Universidade.

"No momento pré-pandemia, eu já estava pensando no meu TCC e tudo mudou", relata o discente, que considerou trocar de curso para um da área da saúde diante do apreço pela participação na disciplina. "Eu não consegui lidar com o [ensino no] formato a distância, tive problemas para conciliar a vida pessoal com a acadêmica, mas sempre mantive a TCI", compartilha.

Ao lembrar das dinâmicas da prática, Luan frisa que era recomendado não oferecer conselhos ao ouvir um problema partilhado. “O que serve para um não serve para o outro, fazer uma pergunta que faça a pessoa refletir é mais benéfico”, explica o estudante, que produziu um artigo no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) sobre as experiências da TCI no formato on-line durante a pandemia.

>> Leia o artigo na íntegra

ABORDAGEM CIENTÍFICA – Especialistas estarão na UnB entre 1º e 3 setembro para debater a TCI no XII Congresso Brasileiro e IX Congresso Internacional de Terapia Comunitária Integrativa. O evento será sediado no Centro Cultural da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), no campus Darcy Ribeiro, e tem o propósito de dividir experiências e conhecimentos relacionados ao cuidado solidário e inclusivo na abordagem terapêutica e na promoção da saúde mental entre a comunidade.

As inscrições para participação estão abertas pelo site do evento.

 

Matéria alterada em 01 de setembro de 2023, para inclusão de informações. 

 

*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.

 

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