1º/2025

Aula inaugural recebeu calouros, veteranos, professores, servidores e público externo para refletir sobre gênero, sexo e poder

Com plateia atenta e engajada, Rita Von Hunty marcou a história das aulas inaugurais da Universidade de Brasília. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB

 

Nesta quinta-feira (27), o auditório, em capacidade máxima, da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), campus Darcy Ribeiro, recebeu a drag queen Rita Von Hunty para conduzir a aula magna Inspira UnB do 1º/2025. A convidada falou aos presentes sobre o tema Subalternidade e produção de conhecimento, uma reflexão sobre sexo, gênero e poder.

 

Com língua afiada, bom-humor e muita reverência, a palestrante revisitou momentos da história e citou autores e autoras renomadas, da sociologia, filosofia, letras e antropologia, para apresentar uma aula sobre a construção ocidental de conceitos (e mecanismos de controle) sobre gênero, sexo e poder. E explicitou como essas formas de conhecimento geram subalternização, exploração e destruição de povos e grupos tidos como inferiores ao olhar hegemônico. 

 

“Construir o conhecimento epistemológico tem sido utilizado para legitimar algumas experiências no mundo e deslegitimar outras. Epistemicídio, termo cunhado por um intelectual português, fala sobre a estratégia da qual você deslegitima, destrói, eclode e apaga o meio e o modo de saber de outro povo, para assim exercer uma forma de controle”, explicou.

 

Rita listou exemplos de como o controle e subalternidades são forjados. Para destruir e acabar com povos, conhecimentos e culturas é necessário destruir a herança e as fontes de uma população. Nesse sentido, citou Heinrich Heine, que disse: ‘Onde queimam-se livros, acabarão queimando pessoas também’.

 

“Para nos destruir é precisa queimar bibliotecas", disse. Ao explicar que a aniquilação do conhecimento dos subalternizados é ferramenta de controle para aqueles que querem impor poder. Contudo, os subalternos são maioria e é a partir disso e da organização social que, cada vez mais, está difícil apagar o subalternizado, como as pessoas da comunidade LGBTQIA+ (além de mulheres, pessoas negras, deficientes etc.)."Agora temos mais uma estratégia para não morrer antes dos 35 anos. Agora damos aula na universidade, publicamos pesquisa. Está mais difícil queimar nossos livros”, declarou.

Mesa de abertura da aula magna do 1º/2025 com a convidada Rita Von Hunty. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB

 

A aula foi embasada em metodologias de estudos de discurso. A partir disso, Rita propôs que a plateia observasse os discursos (entendidos como formas de controle e poder) e fizessem três perguntas essenciais: "Quais sujeitos produzem os regimes discursivos? Sob quais tensões? Como o estudo da ideologia presente no discurso pode situar a crítica?".

 

Rita encerrou a fala estimulando a criatividade e a imaginação, como formas de projetar novas estruturas e relações, superando as construções que sedimentam a subalternidade: a revolução é caminho para vencer o poder que subalterniza.

 

A mesa de abertura da palestra foi composta pelo decano de Ensino de Graduação, Tiago de Souza; a decana de Assuntos Comunitários, Camila Areda; os representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Maktus Fabiano e Salva Ferreira.

 

DIVULGADORA CIENTÍFICA – Rita Von Hunty tornou-se amplamente conhecida a partir de seu canal no YouTube Tempero Drag. Crítica cultural, professora, pesquisadora, colunista e educadora popular, já atuou em universidades, escolas e movimentos sociais no Brasil e no exterior. Contribuiu com textos em mais de 15 livros no Brasil, além de artigos e colunas para diversos portais e periódicos. Foi criada pelo professor e ator Guilherme Terreri com o objetivo de quebrar estereótipos sobre drag queens. 

 

O EVENTO – O InspiraUnB é o ápice da programação de boas-vindas do semestre letivo, que iniciou esta semana. O auditório, com seus 520 lugares, estava lotado. Muitas pessoas não conseguiram entrar devido à lotação máxima.

 

Para os estudantes, Rita Von Hunty é um ícone que inspira e desperta a sede de conhecimento. É o caso de Mariana Gonçalves, de 18 anos. Caloura de História, teve acesso ao conteúdo da Rita ainda no primeiro ano do ensino médio e se impactou com as falas. Ela se reconheceu em uma posição privilegiada, sem luxos, mas com acesso a tudo necessário, percebeu que estava em uma bolha, pois muitas pessoas estão em situação de pobreza no Brasil.

 

Inspirada, começou a se informar mais e decidiu cursar história. “Hoje foi um outro momento histórico para mim, essa conversa me marcou. A Rita deixou claro que o mundo sempre esteve e sempre vai estar em formação e, infelizmente, estamos em um momento de transformação política muito brusca."

 

>> A transmissão da palestra está disponível no perfil do Diretório Central dos Estudantes no Facebook

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