Atividades de integração e reflexão começaram a ter espaço já no início da manhã desta segunda-feira (29), no campus Darcy Ribeiro, neste primeiro dia da 22ª edição da Semana Universitária (Semuni).
No Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas (Maloca), por exemplo, estudantes de diferentes cursos apareceram para conhecer os jogos pedagógicos indígenas que a professora Altaci Corrêa Rubim se propôs a ensinar.
Originária do povo Kokama, situado na fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, a docente do município de Santo Antônio do Içá, no Alto Solimões (AM), ofereceu ambientação com música tradicional tocada por estudantes, contação da história O jabuti e o veado e produção dos jogos pedagógicos.
“Essa atividade está relacionada à nossa prática pedagógica do ensino de português do Brasil como segunda língua para indígenas. Eu trabalho esses jogos com minha turma de Tópicos Interculturais. A partir da narrativa dos alunos, eles criam jogos para ensinar a língua”, afirma a professora Altaci Rubim.
“Hoje estou socializando essa prática com outros estudantes. Estão aprendendo a história do jabuti e do veado em língua indígena kokama, tikuna e português para que possam, a partir dessas histórias, se inspirarem para fazer esse tipo de atividade, que é lúdica, fácil de fazer com pedrinhas. Eles criam personagens do cotidiano, como gato e rato, tubarão e peixes, e por meio do jogo aprendem a vencer as dificuldades a partir do coletivo”, conta a docente, que também compartilhou com os presentes comida típica feita com banana da terra e carne.
“A presença dos estudantes me surpreendeu, achei que teriam poucos. Isso é a temática indígena sendo cada vez mais vista dentro da Universidade e procurada para ser conhecida”, acredita Altaci.
Laís Vitória Cunha, que está perto de se formar no curso de Línguas Estrangeiras Aplicadas, aprovou a atividade e a metodologia. “Foi bem legal, fizemos roda, cantamos e começamos a construir o próprio jogo”, rememora.
“Foi bem interessante, porque não tinha nada pronto, tivemos que criar o próprio tabuleiro, as pecinhas, entender como funciona, tentar trabalhar em coletivo para ir mais rápido na criação das pecinhas e podermos jogar. É muito interessante a história e o jogo, porque é um jogo cooperativo; a professora não dá todas as regras e precisamos chegar ao resultado por nós mesmos, é muito Paulo Freire”, avalia a estudante.
ACESSO E PERMANÊNCIA – A participação individual e coletiva também foi exaltada na mesa de debate organizada pelo grupo de integrantes do Programa de Educação Tutorial (PET) de Direito para tratar sobre a Lei de Cotas, que em 2022 completa dez anos.
Seis estudantes cotistas e uma egressa se uniram para falar sobre a legislação desde seu início, as dificuldades que se enfrenta até hoje sobretudo para a manutenção das políticas afirmativas nas universidades e as possibilidades que existem na revisão da lei, prevista para este ano.
A aluna Isabela Carvalho explica que esse processo estava marcado para ocorrer até o fim de agosto, mas a discussão não foi feita até o momento. Ela ressalta que é necessário acompanhar de perto e ser atuante para que o entendimento sobre as ações afirmativas não seja contrário à sua manutenção.
“Boa parte das pessoas que refletem sobre o tema entendem que [o fato de] essa revisão não ocorrer não significa que a lei será abolida. Mas existem congressistas que defendem que se a lei não for revisada, as universidades podem deixar de aplicá-la”, alerta.
“Isso mostra o cenário incerto em que estamos. Temos que estar muito presentes em todos os momentos, em todos os estados, temos que promover esse debate. Por isso o PET decidiu promover esse tema da Lei de Cotas na Semana Universitária, porque precisamos estar ativos nessa questão. Vai ter uma revisão e precisamos pressionar os congressistas da importância de que essa lei se mantenha porque a Universidade já está mais diversa, mas é preciso estar mais ainda”, opina Isabela.
O indígena da etnia Arapaso Marcelo Lima, oriundo de São Gabriel da Cachoeira, conhecida como a cidade mais indígena do Brasil, concorda. Para ele, é preciso estar ativo e atento para não deixar oportunidades passarem e para que os povos tradicionais ganhem espaço na universidade.
Conhecido como Diakó, que significa “filho das águas”, Marcelo é o primeiro estudante indígena a compor a diretoria da Olímpia, Associação Atlética Acadêmica do Direito da UnB, e também integra o grupo de Hermenêutica.
“Fico muito orgulhoso de dar esse pontapé inicial para tanta gente saber que somos capazes de estar e permanecer dentro de uma vaga ocupada algumas vezes só por gente branca”, diz.
“Acho muito importante pessoas de dentro das universidades estarem lutando na revisão de cotas, porque é muito fácil deixar na mão de gente branca, de alta classe, que nunca frequentou um colégio de ensino médio público, nunca soube o que é passar um dia de fome. Estar lutando, estar revisando juntamente com eles, saber o que precisa mudar, o que precisa ampliar, principalmente. O que precisamos é ampliar e tornar a Lei de Cotas uma lei permanente”, avalia o discente.
FALA PELO CORPO – Na Faculdade de Educação, o primeiro dia da Semuni contou com a presença de 88 estudantes de uma escola pública do Distrito Federal para participarem da prática do Teatro dos Oprimidos. Graduandos não apenas do curso de Pedagogia tiveram oportunidade de aplicar as técnicas do jogo pedagógico teatral com crianças do quinto ano do ensino básico.
“A partir do jogo, elas passam a falar como estão se sentindo, o que elas representaram, como é estar nesse lugar. A experiência aqui foi de integração, não deu pra aprofundar temas como quando vamos nas escolas”, explica a professora Simone Lisniowski, que é também coordenadora de Extensão da Faculdade de Educação.
“A avaliação da atividade é muito positiva. Para os estudantes de graduação, foi um momento de experimentar e aprender sobre a aplicação dos jogos e ver como é desafiante também estar lidando com 40 crianças ao mesmo tempo. Mas deu certo. E para as crianças foi bem divertido, puderam ter noção do que é o jogo teatral, fazer um personagem, um movimento, controlar o seu corpo intencionalmente, desmecanizar o seu corpo para uma outra intencionalidade que não é do dia a dia”, declara a docente.
SEMUNI E DARCY – A 22ª Semana Universitária terá vasta programação nos quatro campi até sexta-feira (2). Serão mais de mil atividades presenciais, gratuitas e abertas para todos os públicos, como minicursos, oficinas, workshops, palestras, exposições, rodas de conversa, entre outras. Públicos de todas as origens e de todas as idades são esperados para conhecer mais sobre a Universidade e a riqueza acadêmica e científica. As inscrições para participação seguem abertas até o último dia de programação, enquanto houver vagas disponíveis.
Ao longo da semana, duas atividades, além da abertura e do encerramento da Semuni, trarão à tona o centenário de Darcy Ribeiro, as políticas de democratização do acesso à universidade e a questão indígena: Centenário de Darcy Ribeiro e a importância das políticas de inclusão na UnB, nesta quinta-feira (1º), e a mesa-redonda Temporalidades: Marco temporal e o centenário de Darcy Ribeiro, na sexta-feira (2).
>> Confira a programação na íntegra e participe!
Leia também:
>> Corrida celebra 60 anos da UnB e 50 anos do HUB
>> Semuni começa nesta segunda (29)
>> Semana Universitária terá programação na Quinta Cultural
>> FCE e FGA completam 14 anos
>> Série de atividades promove saúde e bem-estar durante a Semana Universitária
>> Reitora recebe embaixador do Paquistão
>> Encontro de Extensionistas terá batalha de rap e apresentação de produtos
>> Medidas garantem segurança da comunidade acadêmica
>> Protocolos auxiliam na notificação de casos de covid-19
>> Guias ajudam a garantir a segurança da comunidade no retorno presencial