INTERNACIONALIZAÇÃO

Gabriel Manso diplomou-se em 2022 em Engenharia de Software e foi aprovado este ano para curso no exterior equivalente ao doutorado. Trajetória na Universidade abriu portas para a conquista

Gabriel em frente ao Great Dome, prédio referência do MIT, em 2019. Foto: Arquivo Pessoal

 

Recém-formado em Engenharia de Software pela Faculdade UnB Gama (FGA), Gabriel Filipe Manso Araújo acaba de ser aprovado para o PhD (equivalente ao doutorado brasileiro) em Engenharia Elétrica e Ciência da Computação no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, um dos mais concorridos do mundo. O feito incomum, uma vez que o egresso não realizou mestrado, certifica a excelência do ensino público e fortalece as pontes de internacionalização que a Universidade de Brasília proporciona.

 

Gabriel Manso inicia a sua nova etapa em agosto, quando viaja para os Estados Unidos. As aulas do curso de PhD começam em setembro e a previsão de permanência no doutorado é de cinco anos. O egresso da UnB afirma que as expectativas estão altas: “Eu acho que o que me levou ao MIT foi sempre a ambição em querer trabalhar com coisas que realmente trouxessem impacto à sociedade e ao mundo, e é isso que pretendo continuar fazendo nesta longa caminhada.”

 

TRAJETÓRIA – A concorrência para a realização de doutorado no exterior, especialmente no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, torna a aprovação uma conquista incomum, mas não impossível.

 

Enquanto aluno da graduação de Engenharia de Software, Gabriel teve a oportunidade, por exemplo, de apresentar trabalhos em conferências como na Munich Summer Institute (MSI) e no próprio MIT, o que rendeu alguns pontos para a sua aplicação ao instituto estrangeiro. Ele relembra que preparou o material para as universidades estrangeiras durante o ano de 2018, após dois anos estudando e participando de projetos na UnB.

Gabriel apresentando na 15th CSAIL Alliances Annual Meeting, no MIT, em 2022. Foto: Arquivo Pessoal

 

No processo, os professores da Universidade de Brasília escreveram cartas de recomendação e ajudaram com questões relacionadas à documentação. “Eu acho que se não houvesse esse apoio vindo do corpo docente, eu não teria conseguido chegar aonde eu cheguei”, afirma o novo doutorando.

 

O esforço rendeu resultados em janeiro de 2019, quando Gabriel começou a trabalhar remotamente para o grupo de pesquisa do MIT atualmente conhecido como FutureTech. Em junho do mesmo ano, ele foi convidado a participar das atividades pessoalmente como estudante visitante no instituto. O intuito era que o seu trabalho fosse desenvolvido apenas durante o verão, porém, devido ao seu desempenho, sua estadia foi estendida até o fim de 2019. Havia planos para que o egresso voltasse ao instituto no ano seguinte, porém as restrições causadas pela pandemia de covid-19 mantiveram as atividades de forma remota.


Agora como doutorando no MIT, Gabriel Manso quer usar a experiência própria como exemplo de que é possível realizar pesquisa fora do país: “Eu não sou uma pessoa gênia, o meu IRA [Índice de Rendimento Acadêmico] não foi 4.9, 4.8, ou sequer 4.5.”

 

Para ele, é necessário ter dedicação, além de oportunidade. “É importante que você invista o seu tempo em encontrar as informações que você precisa, porque elas estão espalhadas por todos os lugares. É um processo longo, de muita exposição, até encontrar o que faz sentido para você”, afirma Gabriel.

 

“Nesse processo, você vai avaliando muitas coisas que vão te ajudar a chegar mais longe, e outras que não. É muito importante que você encontre pessoas que possam te guiar nessa jornada. Eu tive muita sorte de, durante todo esse processo, ter tido sempre o apoio de meu supervisor lá no MIT, que me aconselhava sempre com muita maestria enquanto eu estava na graduação”, relata o egresso da UnB.

 

Orientadora de Gabriel na graduação, a professora da FGA Carla Rocha destaca a natureza colaborativa dele e afirma que incentiva os alunos a trabalharem juntos e a atuarem na pesquisa: “Eu sempre comento com os alunos que quando você colabora, você aprende o dobro e trabalha em uma velocidade que é muito maior que trabalhar sozinho”.

 

Ela conta que Gabriel, desde o começo da sua vida acadêmica, sempre correu atrás de parcerias. “Ele nunca ficou limitado ao aprendizado de sala de aula, que é um aprendizado que te dá o conhecimento básico. O conhecimento fora da sala de aula traz um diferencial muito grande de experiência, de maturidade, de senso crítico e mesmo de habilidades técnicas e não técnicas, como saber se comunicar bem, saber trabalhar em equipe e saber que seu trabalho impacta o trabalho de outra pessoa”, aponta a orientadora.

 

Carla ressalta ainda o papel da UnB em alavancar oportunidades para os estudantes que desejam seguir a carreira acadêmica, tanto no Brasil quanto no exterior. “A assinatura UnB, por ser uma instituição respeitada nacionalmente e internacionalmente, abre portas”, afirma.

 

“Nós temos vários casos de empresas que [na seleção], quando veem que a pessoa se formou na UnB, ela é colocada no topo da lista de entrevista. Existem laboratórios que já tiveram experiência com alunos da UnB e falam que possuem interesse nesse perfil. Então eu acho que o selo UnB tem um impacto muito grande”, diz.

 

DOUTORADO – A linha de pesquisa de Gabriel no MIT concentra-se em estudar os fundamentos básicos do progresso computacional: quais são as tendências mais importantes, como elas sustentam a prosperidade econômica e como podemos aproveitá-las para sustentar e promover o crescimento da produtividade.

 

Mais especificamente, os estudos do egresso, um desdobramento de seu Trabalho de Conclusão de Curso na UnB, reforçam a importância de entender as questões econômicas por trás do treinamento de modelos de inteligência artificial e as consequências socioambientais atreladas. “Hoje as pessoas falam bastante de inteligência artificial, pensam até que a inteligência artificial vai dominar o mundo e destruir a humanidade, o que não é verdade. Mas pouco se fala das coisas que estão acontecendo por trás das cortinas desses modelos”, conta Gabriel.

Shuning Ge (amiga e coautora em um dos artigos do egresso), Neil Thompson (supervisor) e Gabriel em frente ao MIT Computer Science and Artificial Intelligence Laboratory. Foto: Arquivo Pessoal

  

"O treinamento de modelos de inteligência artificial está associado a custos extremamente altos. Esses custos são tão altos que, para a gente conseguir continuar melhorando esses modelos ao longo do tempo, isso pode ser um grande impedimento”, explica.

 

Ele defendeu seu TCC em 2022, com o título The importance of (exponentially more) computing power [A importância (exponencialmente maior) do poder da computação, em português]. A pesquisa reúne evidências do impacto que o poder computação exerce sobre inteligências artificiais tidas como líderes na computação: o Computer Chez e o Computer Go. Trata-se, ainda, de um compilado de tudo o que produziu como estudante de graduação e membro do grupo de pesquisa FutureTech.

 

A orientação foi da professora Carla Rocha e do diretor do FutureTech, Neil Thompson, que auxiliou Gabriel durante o período em que trabalhou no projeto do instituto estadunidense. O egresso pretende seguir pesquisando os avanços nesta área e o quanto custa para manter essas inteligências artificiais.

 

Carla Rocha afirma que um ponto crucial da monografia é a multidisciplinaridade. “Não é somente uma pesquisa em Engenharia de Software ou em Economia, é uma pesquisa que envolve várias áreas do conhecimento e isso faz com que tenha uma maturidade grande de resultados e um grande impacto socioeconômico.”

 

Ela relembra que, pelo menos desde o final da Segunda Guerra Mundial, os computadores estão se desenvolvendo à medida que os processadores os acompanham, mas que a pesquisa de Gabriel demonstra matematicamente que esse avanço pode estar chegando ao fim. “Há 15 anos, por exemplo, você tinha redes neurais simples que não conseguiam ser executadas em computadores normais porque não tinham poder de processamento, mas, nesse meio tempo, nós tivemos uma evolução exponencial do hardware que o software acompanha”, observa Carla.

 

Na dedicatória do TCC, Gabriel escreveu aos seus irmãos e “às crianças que vivem no mundo da lua”. Ele explica: “Durante o ensino médio e dentro da graduação, eu sofri com problemas de autoestima, no sentido de que as pessoas sempre me viam como uma pessoa que não chegaria a lugar nenhum. Eu sempre escutava que vivia no mundo da Lua, sempre com esse olhar meio preconceituoso, e isso ficou na minha cabeça”.

 

“Meus irmãos estão no momento em que eu estive há dez anos, quando eu estava no ensino médio, e eles também escutam esse tipo de comentário. Então, serve também de exemplo para eles, que o que vai fazer você chegar longe não é o que as pessoas dizem, mas o quanto você está disposto a se dedicar e a fazer as coisas acontecerem”, completa Gabriel.

 

*estagiário em Jornalismo na Secom/UnB.

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