EXTENSÃO

Projeto utiliza imagens de satélite e drones para mapear região de produção de mel. Mais de 80 famílias produtoras, em Goiás e no Distrito Federal, são beneficiadas com a iniciativa

Sistema mapeia e identifica vegetação nativa ao redor dos apiários, por meio de imagens captadas por drones. Imagem: Reprodução

 

Visando solucionar um desafio para obtenção da certificação de mel orgânico, pesquisadores da Universidade de Brasília deram início ao projeto Apicultura Orgânica 4.0, em 2022. Por meio da pesquisa, está sendo realizado o mapeamento da produção de mel em duas localidades do Cerrado, beneficiando 54 famílias produtoras do Lago Leste, no Distrito Federal, e mais 30 apicultores de Anápolis, em Goiás.

O projeto conta com a participação de pesquisadores de diferentes áreas e acontece em parceria com o Instituto Federal de Goiás (IFG), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/GO) e a Universidade Estadual de Goiás (UEG). Na UnB, envolve o Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA/UnB), o Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) e as faculdades de Tecnologia (FT) e de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV).

“Para o mel ser considerado orgânico, a abelha precisa consumir apenas itens orgânicos e água limpa. Assim, num raio de três quilômetros do apiário não pode haver aterro sanitário ou qualquer outra fonte de contaminação do mel”, explica o professor do Departamento de Engenharia de Produção (EPR) Sanderson Barbalho, coordenador do projeto.

Para receber selo de mel orgânico, técnicos precisam atestar que o perímetro de 3 Km é limpo. Mapeamento é realizado por meio de imagens de drones. Foto: Arquivo pessoal

 

A dificuldade para obtenção do título pelos pequenos produtores vinha justamente dos obstáculos para mapear esse perímetro. “Como são agricultores familiares, quando o técnico vai fazer a análise para a certificação, precisa entrar nas propriedades dos vizinhos, o que gera confusão e acaba por inviabilizar o processo”, detalha Sanderson.

A solução proposta pelo projeto é o uso da tecnologia. Com o auxílio de drones, que sobrevoam a região ao redor dos apiários, os especialistas conseguem mapear a região, catalogar as espécies e determinar os tipos de floradas.

“A minha contribuição na pesquisa é justamente o uso de inteligência artificial para identificar as espécies de árvores importantes, bem como outros elementos relevantes nas áreas de apicultura, usando drone e imagens aéreas”, revela o pesquisador e professor do Departamento de Ciência da Computação (CIC) Díbio Borges.

Esse mapeamento facilita o processo de certificação, pois dá para reconhecer se a vegetação é composta por árvores nativas ou por um plantio de soja, por exemplo, que conteria agrotóxicos. Segundo os especialistas, um mel comum que é comercializado a R$ 60 passa a valer até R$ 400 a garrafa quando possui a certificação de que é orgânico.

Parte da equipe de campo do projeto, em visita às famílias produtoras rurais. Foto: Arquivo pessoal

 

PROJETO – A pesquisa está inserida no contexto da Estratégia Rotas de Integração Nacional, que estipula medidas para a avaliação, acompanhamento e criação de diversas rotas, entre elas a rota do mel, com financiamento do Ministério do Desenvolvimento Regional. Após atestada a qualificação dos produtores do Cerrado, eles integrarão a rota como o décimo polo da rede.

Além do trabalho de campo, dentro dos laboratórios há as análises físico-químicas, bioquímicas e biológicas sobre a composição do mel e do própolis seguindo padrões internacionais. Além disso, os apicultores recebem instruções da equipe de pesquisadores, a respeito de técnicas de manejo e aperfeiçoamento da produção do mel, seja por meio da apicultura (abelhas com ferrão) ou da meliponicultura (abelhas sem ferrão).

Questionado sobre os resultados da pesquisa, Sanderson afirma que o projeto está em fase de desenvolvimento e testes. "Criamos a inteligência artificial para reconhecer as espécies da mata nativa e montar a base de dados. O protótipo alfa já passou por teste e a versão beta será entregue até novembro”, afirma o docente.

Segundo o pesquisador, a iniciativa tem várias nuances, já que, além da certificação, envolve a proteção ambiental das abelhas, a catalogação de espécies do Cerrado, a viabilização da ampliação da produção orgânica e o desenvolvimento tecnológico de rede, algoritmo, voo, câmeras e sistema utilizados pelo drone.

“A expectativa é que o produtor possa baixar o aplicativo no celular e fazer a análise da sua localidade, mas ainda temos um caminho a percorrer até lá”, salienta o coordenador. “No futuro, esperamos que haja a identificação geográfica do mel produzido no Cerrado, sendo uma referência nacional, assim como acontece com o queijo da região da Serra da Canastra”, projeta, entusiasmado.

 

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