Entusiasmo. Essa é a característica lembrada pela docente do Instituto de Ciências Biológicas (IB) Sarah Caldas ao definir a ex-aluna da Universidade de Brasília Victória Luz. Recém graduada em Biotecnologia, a jovem de apenas 22 anos conquistou uma bolsa de mestrado pelo programa Erasmus Mundus e viaja em agosto para a Europa, onde dará prosseguimento a suas pesquisas em sustentabilidade, na Alemanha, na Bélgica e na Suécia.

Com uma trajetória marcada por dificuldades financeiras e sociais, Victória sempre acreditou na educação como um caminho. “Acho que o primeiro passo foi eu acreditar que o Enem poderia me trazer pra Universidade", conta. Oriunda do ensino público, a estudante veio do Jardim Lago Azul, bairro do município de Novo Gama, no Entorno do Distrito Federal.

“Eu pegava duas horas de ônibus, ou mais, todos os dias, para chegar ao campus Darcy Ribeiro. Muitas aulas começavam às 8h e era muito difícil conseguir chegar, mesmo pegando o primeiro ônibus”, relembra, ao contar a saga da graduação. Victória conta que os programas de assistência estudantil da Universidade foram essenciais para superar as dificuldades.

A história dela com a UnB começou antes do ingresso no curso superior. A vontade de estudar Biotecnologia surgiu ainda na escola, aos 14 anos. "Tem um projeto de extensão aqui da UnB que se chama Formancipa. Eu fui até eles e eu ainda estava no começo do ensino médio, mas me deixaram ter aulas mesmo assim.”

O projeto Formação Integrada e Emancipadora de Acesso à Educação Superior (Formancipa) é uma iniciativa da Faculdade de Educação (FE) que atua na democratização do acesso à educação superior. Coordenado pelo professor da FE Erlando Rêses, o projeto atua na região de Pedregal e Novo Gama.

Depois de finalizar o ensino médio, Victória foi estudar na Universidade Federal do Ceará (UFC). Só depois veio para o curso de Biotecnologia da UnB. Com foco para driblar as adversidades, a estudante aproveitou todas as oportunidades oferecidas pela Universidade.

Participou de projeto de extensão, empresa júnior e foi diretora de marketing da Liga Nacional dos Acadêmicos em Biotecnologia (LiNA Biotec). O grande destaque obtido na graduação foi a liderança da equipe UnB/Embrapa que venceu uma competição internacional de Biologia Sintética, em 2021.

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“Eu fui aos poucos, ali, fazendo um currículo que eu achei que fosse possível para conseguir alcançar esse sonho de estudar no exterior”, diz, ao admitir que já vislumbrava a conquista mais recente.

VIVÊNCIA INTERNACIONAL – Após a vitória no concurso, sentiu a necessidade de continuar seus estudos em sustentabilidade e se inscreveu para o programa UNLEASH Global Innovation Lab, que investe em jovens talentos para atuar na área de desenvolvimento sustentável.

“Dentre as 20 mil aplicações, fui uma das jovens selecionadas para ir à Índia. Lá conheci mais pessoas envolvidas no tema e pesquisamos tecnologias para tratamento e aproveitamento de água para uso na agricultura, como alternativa à escassez hídrica na Índia.”

Sempre em busca de expandir seus conhecimentos, a estudante, ainda na graduação, atuou como professora em uma escola do Peru, por meio de um intercâmbio voluntário. As aulas eram direcionadas a crianças de baixa renda, e abordavam a busca em ensinar a respeito da sustentabilidade em suas rotinas e gerir os recursos naturais.

Victória integrou também a equipe da empresa estadunidense Pine Biotech, como estagiária. Para conseguir conquistar a vaga, ela submeteu algumas de suas produções acadêmicas, como a publicação Empreendedorismo Feminino em Bio: investimento além da pecúnia, em uma revista do Equador, a Catálisis Revista Digital, e um artigo a respeito da invisibilidade de mulheres na ciência, na revista MIT Technology Review.

SUPERAÇÃO – “Eu sempre ouvi muito que eu tinha sorte de ter sido alfabetizada saindo do lugar que eu saí. Então, mesmo com todas as coisas que eu fiz durante a graduação, a gente fica com aquela sensação de que talvez não vá conseguir”, reflete Victória. Durante o curso, a estudante ainda enfrentou problemas de saúde. A descoberta de um tumor na hipófise foi mais uma das dificuldades com que precisou lidar. Mesmo debilitada, a prioridade de continuar sua jornada acadêmica permaneceu.

A docente Sarah Caldas acompanhou de perto a trajetória de Victória na Universidade e frisa como ela sempre se destacou pela organização e dedicação. “Tudo o que ela se propõe a fazer é de excelência. A Victória é um exemplo de que, quando você tem um ideal no qual acredita, as dificuldades podem ser superadas pela persistência”, elogia a professora.

Agora, Victória mantém um site para reunir contribuições financeiras que a ajudem a custear sua estadia na Europa. A estudante irá em agosto para o mestrado, onde ficará pelos próximos dois anos. Por meio do programa Erasmus Mundus, que permite a mobilidade entre universidades, a jovem irá para a Ghent University na Bélgica, a Uppsala University na Suécia, e a TU Freiberg na Alemanha.

A egressa destaca a pluralidade de alternativas dentro da Universidade como algo que fez a diferença em sua vida. “Acredito que a UnB pode ser um trampolim para gente ir para lugares, porque aqui temos uma liberdade muito grande para deixar a nossa mente criar novos projetos, se conectar com os professores dos laboratórios, propor novas ideias, escrever projetos de missão científica. Isso traz uma sensação de que é possível ser independente”, avalia.

ERASMUS MUNDUS – O Erasmus Mundus é um programa de cooperação internacional da União Europeia que oferta, entre outras oportunidades, mestrados integrados e de alto nível, projetados e entregues por uma parceria internacional de instituições de ensino superior (IES). Um mestrado da Erasmus Mundus envolve pelo menos três IES de três países diferentes.

Em 2018, a Universidade promoveu encontro do UnBCoopera+ para apresentar oportunidades de mobilidade na Europa a estudantes da instituição, no contexto do Plano de Internacionalização da UnB. Houve grande destaque para as possibilidades no contexto do Erasmus Mundus.

*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.