Atenta às demandas de recuperação do meio ambiente, em 2022 a Universidade de Brasília passou a integrar o projeto Regenera Cerrado, que leva práticas de agricultura regenerativa no Cerrado a doze produtores rurais do município de Rio Verde, em Goiás.
O projeto conta com o apoio de empresas privadas, é coordenado pelo Instituto BioSistêmico (IBS) e envolve outras dez instituições de ensino e pesquisa além da UnB, como as federais de Viçosa (UFV) e de Lavras (UFLA), a Unicamp, a Universidade de Minnesota e a Embrapa.
A agricultura regenerativa é um método que procura recuperar a biodiversidade local, enquanto mantém a produção agrícola com menos impacto.
"Consiste em melhorar a qualidade do solo, melhorar a qualidade do ambiente produtivo, para que a biodiversidade possa ocorrer novamente em áreas degradadas", sintetiza Pedro Togni, professor do Departamento de Ecologia da UnB. Ele representa a Universidade no projeto, ao lado da professora do Departamento de Zoologia Marina Frizzas.
O professor Pedro Togni conta que a agricultura regenerativa surgiu na década de 1980, em resposta a problemas em plantações de soja e milho e ao esgotamento do sistema de agricultura orgânica, que vinha sendo a única opção sustentável desde meados de 1940.
A agricultura regenerativa pode funcionar em qualquer lugar do país. O bioma Cerrado foi escolhido como campo do projeto devido à sua presença no agronegócio e pelas ameaças causadas pela expansão agrícola. “É uma região que concentra grandes produtores e que possui áreas bastante degradadas. Obtendo êxito ali, podemos demonstrar como as técnicas de recuperação podem funcionar em cenários muito ruins”, observa Togni.
Os pesquisadores da UnB integram o grupo de trabalho de entomologia, dentro do Regenera Cerrado, com objetivo de avaliar os impactos da agricultura regenerativa sobre pragas, predadores e parasitas. “Nosso papel é focar nos insetos que combatem os insetos. E entender como essas práticas estão favorecendo a biodiversidade de insetos benéficos, favorecendo o manejo de pragas”, explica Togni.
Marina Frizzas ingressou no projeto em março de 2023, para analisar especificamente o comportamento de besouros rola-bosta. O trabalho realizado por ela compreende a triagem de material recolhido nas fazendas. "As equipes fazem as coletas com armadilhas. Os besouros caem no potinho e, depois de 48 horas, são retirados do campo, armazenados em um frasco com álcool 70 e armazenados para análise em laboratório”, detalha.
A entomóloga avalia a agricultura tradicional como desarmoniosa. Para ela, o trabalho do Regenera Cerrado surge como uma maneira de fazer agricultura com um pensamento no futuro, evitando, entre outros resultados nocivos, os impactos do uso excessivo de inseticidas.
“Eu acho que a agricultura regenerativa é o caminho. Talvez não seja em si mesma uma solução, pois ainda teremos que agregar conhecimentos de outras áreas para realmente poder fazer uma agricultura mais sustentável, mais adequada, e mais viável a longo prazo.”
O Regenera Cerrado conta atualmente com a participação de 24 bolsistas de pós-doutorado e 13 profissionais de suporte, nenhum deles ligado à Universidade de Brasília. “Os bolsistas estão todos alocados na região de Rio Verde, que é onde a sede do projeto está. No modelo atual, os bolsistas precisam morar por lá”, explica Pedro Togni.
Mas há previsão de participação de alunos da UnB para a próxima safra, também com a possibilidade da abertura de estágios em conjunto a equipe do projeto, para os cursos de como Ciências Biológicas e Agronomia, entre outros.
*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.