PERTENCIMENTO

Evento no Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares reuniu gestoras da UFRB e da UFSB e reitor da UFS, como parte da programação do Novembro Negro na UnB

Reitores Valter Santana (UFS), Georgina Gonçalves (UFRB) e Joana Guimarães (UFSB) participaram de mesa de debate ao lado de Ronald Aciolli, gerente executivo da Geap, e Marcos Moreira, coordenador do Neab/Ceam. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB

 

O debate Reitorias negras pensam o papel da universidade em 2024, atividade da programação unificada Novembro Negro na UnB: Por uma educação antirracista, reuniu os gestores máximos de três universidades federais nesta quinta-feira (23). O encontro foi realizado no auditório do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) e debateu dificuldades comuns e perspectivas futuras.

 

O bate-papo foi mediado pelo vice-diretor do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), Marcos Moreira. Ele norteou a conversa a partir de três eixos: trajetória até chegar ao cargo, desafios da gestão negra e propostas para atuação.

 

Ao compartilhar sua história de vida, a reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Joana Guimarães, externou a indignação que sente ao ser questionada sobre ser a primeira mulher negra eleita reitora de uma universidade federal no país.

 

“Eu fico triste quando me perguntam, porque deveriam existir muito mais gestores negros. Gostaria de olhar para o lado e ver pessoas como nós e isso ser considerado normal, não uma exceção”, afirmou Joana.

 

“Eu ajudei a criar do zero a UFSB e já era vice-reitora. Mesmo assim, quando fui eleita houve bastante questionamento sobre meu papel ser na cozinha e não na reitoria. Foram sete meses até eu ser nomeada”, compartilhou.

Reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Joana Guimarães deseja um futuro onde negros não sejam perguntados como é ser o primeiro em algo. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB

 

Assim como a conterrânea, Georgina Gonçalves, reitora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), também enfrentou dificuldades para assumir o cargo. Em 2019, ela foi eleita, mas não empossada pelo governo anterior. A posse veio apenas em 2023. Em sua fala, ela pontuou que, apesar das dificuldades, é possível ver que o perfil da universidade mudou.

 

“Nos anos 1980, quando eu estava na universidade, os negros eram menos de 1%. Só de olhar podemos ver que o perfil é outro e que aos poucos estamos avançando”, discorreu. “Temos orgulho da UFRB ter mais de 80% dos estudantes autodeclarados negros. É uma quebra de barreiras muito grande, mesmo alguns ainda dizendo que uma instituição de pretos não pode dar certo”, disse a reitora.

 

Segundo ela, o surgimento das universidades brasileiras foi tardio e a inserção de negros, lenta. Mas políticas afirmativas como a Lei de Cotas para o Ensino Superior e o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) ajudaram a mudar esse cenário, permitindo cada vez mais o ingresso de negros, indígenas e pessoas de baixa renda no ambiente acadêmico.

 

Entre os desafios da gestão negra, o reitor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Valter Santana, citou as polêmicas envolvendo ingressos irregulares pelo sistema de cotas raciais e o caso do professor negro impedido de tomar posse na UFS, como exemplos para criar novos caminhos.

 

“Esses foram desafios que enfrentei logo quando assumi a gestão. Mas deles surgiram oportunidades não só para solucionar os problemas, mas também para criar uma universidade mais plural, que garante direitos e seja instrumento de modificação social”, disse.

 

PROPOSTAS – Com o olhar para o futuro, baseado em ingresso, permanência e ascensão de cada vez mais pessoas negras, os gestores compartilharam as ideias sobre o cenário ideal, perspectivas e ações que são necessárias. 

 

"Realmente necessitamos entender o que fazer com esse novo perfil de estudante. Não temos apenas aquele jovem com disponibilidade de tempo. Temos a mãe solo que já passou dos 25 anos e trabalha. Como vamos garantir a renda dela e de tantos outros para que eles permaneçam na universidade?", refletiu Georgina.

Reitor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Valter Santana reconhece nos desafios enfrentados oportunidades de evolução para si e para a instituição. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB

 

"Temos que permear a discussão e pensar quais mudanças as pessoas negras realmente trazem, no sentido de fazer algo novo, de mudança. Desejo que esses novos estudantes mudem o fato de ser notícia uma mulher negra ser reitora, por exemplo", projetou Joana. 

 

"Se não fizermos o trabalho hoje, com ações integradas em rede e todas as universidades unidas, vamos perder força.Temos que ter uma organização efetiva, sair do discurso e ir para a prática, para não haver retrocessos", atestou Valter. 

 

Entre as propostas imediatas, está a proposta de articulação para a criação de uma renda mínima a ser paga aos estudantes com dificuldades financeiras, para a continuidade dos estudos.

 

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