Em comemoração ao mês da Consciência Negra, a UnBTV entrevistou o decano Abimael Costa, do Decanato de Administração (DAF), sobre o seu caminho até o cargo. Professor do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais (CCA/Face) e do Programa de Pós-graduação em Ciências Contábeis (PPGCont/Face) da Universidade de Brasília, Abimael é pós-doutor em Contabilidade Pública na Universidade de Valência, na Espanha e já ocupou o cargo de Auditor-Chefe da UnB.
Criado na Ceilândia, Abimael estudou a vida toda em escolas públicas e precisava ajudar a família, além de focar no aprendizado. Agora, em um papel de destaque na Universidade, ele reforça sua crença na educação como instrumento de transformação de trajetórias. Ao longo da conversa com a jornalista Iasmin Costa, o decano falou também sobre a importância da representatividade em locais de destaque e de políticas sociais de inserção no ensino.
“Não é só dar uma oportunidade, é necessário pautar um debate para além do olhar patriarcal, além do olhar eurocentrista. Ou seja, para uma população que se estabeleceu em um país que tem seus afrodescendentes, esses precisam de espaço para ter voz e demonstrar suas capacidades”, comenta Abimael. Em uma das respostas, contou sobre seu tempo enquanto técnico administrativo da Universidade. Confira:
O senhor tem uma trajetória grande e já passou por várias áreas na UnB. Como é chegar em lugar como esse, um papel de destaque e de extrema importância, como a liderança de um decanato, sendo um homem negro?
Não imaginava, nem tão cedo, assumir um desafio tão importante e tão grande como assumir o Decanato de Administração. De certa forma, chegar à Universidade de Brasília é a concretização do meu sonho de criança. Quando eu estava com a minha mãe, empregada doméstica dos senadores e deputados, e a gente pegava um ônibus e passava pela UnB, eu ficava encantado com a visão. Ficava imaginando como eu poderia um dia chegar aqui. Eu sempre estudei na Ceilândia, a Ceilândia é minha vida. Quando minha mãe ganhou o lote lá, nós moramos em um barraquinho de madeira 4x4, de chão batido de terra. Mãe solo, com três filhos na época, eu imaginei que a educação poderia transformar nossa vida.
Desde os meus treze anos, quando já trabalhava entregando panfletos, pensava: vou continuar estudando porque essa aqui não vai ser mais minha realidade. E continuei lutando. Não consegui ingressar na UnB na graduação, foi necessário focar no trabalho e não consegui passar. Sendo assim, em 2008, ingressei como mestrando, e no final desse mesmo ano, fui nomeado contador da Universidade. Eu já era servidor da Polícia Federal e pedi vacância, pois imaginei que meu mestrado seria mais importante, além disso o meu sonho mesmo era a Universidade de Brasília. Um tempo depois, fiz o concurso e mudei para professor. Me tornar professor, por meio do Reuni, em uma Universidade que até então tinha um percentual baixo de professores pretos e pardos, de origem nordestina, da Ceilândia, filho de empregada doméstica e com formação em escola pública, foi bem desafiador. Porém, como coloquei a educação como item de transformação como um dos pilares da minha vida, eu chego na carreira como docente, e futuramente, como decano.
Para assistir a entrevista completa, acesse o vídeo abaixo: