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Inaugurado no último dia 5 de setembro, o novo Complexo de Atletismo Mário Ribeiro Cantarino Filho modernizou a infraestrutura esportiva do Centro Olímpico da UnB (CO), com investimento de cerca de R$18 milhões. As duas pistas, uma para competições e outra de aquecimento, somam quase 29 mil m² e seguem os padrões mundiais do esporte.
Além da estrutura, o complexo conta com sistema de iluminação que contribuirá para atividades desportivas no período noturno e equipamentos para lançamento de peso, dardo e martelo, saltos em altura, em distância e com vara. O objetivo é possibilitar a formação de atletas de base e o aperfeiçoamento de atletas de alto rendimento, além de contribuir para o aprendizado do corpo discente.
Estudante de Educação Física há dois anos, Henrique Araújo conta que acompanhou de perto a reforma. “Quando eu entrei para o curso, a obra começou a evoluir de fato e eu vi todas as transformações. Espero que toda a comunidade da UnB possa fazer proveito, pois vai melhorar a qualidade de aprendizado dos alunos e trazer competições de alto nível para Brasília”, afirma o discente.
Aluno de Biotecnologia na UnB e duas vezes medalhista de bronze nacional sub-20 em atletismo, Lucca Campbell participou da corrida de inauguração. “Todos os atletas adoraram ver a nova pista. Só temos uma outra em Brasília com os mesmos padrões e ela é de difícil acesso, por ser do exército”, comenta Lucca.
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“Eu treinei no dia da inauguração e a estrutura é maravilhosa, tanto para os estudantes, quanto para os atletas da cidade. Vai dar muita visibilidade para o esporte e um fôlego novo para nossa Federação [de Atletismo], que estava decadente”, externa o universitário, que iniciou no esporte por influência do pai, também atleta e professor universitário. Ele afirma que hoje treina onde dá, mas pretende utilizar o espaço em sua preparação atlética.
Atleta há 11 anos, o estudante de Educação Física e presidente do Clube de Atletismo da Universidade, Abner Felipe Costa, ficou feliz com a revitalização do espaço. “Treinei lá por muitos anos, até fechar a pista. Hoje treino no Guará, mas pretendo voltar a me preparar lá no CO”, revela o quatro vezes finalista dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) pela UnB.
“Vejo a reforma da pista como uma melhora dos nossos padrões. A UnB tem um número grande de atletas profissionais na área e, às vezes, com a demanda do curso não conseguimos sair para treinar. Com essa pista, ter alto rendimento será mais fácil e podemos até sediar grandes competições”, expõe Abner.
"Achei as pistas muito lindas e foi a primeira vez que vi uma pista de cor azul. Tenho muita vontade de treinar lá, pois seria uma opção mais perto para mim", diz Higor Caldeira, atleta surdo e estudante de Educação Física na UnB. Ele diz que iniciou no esporte aos quatro anos por influência do pai, ex-atleta de atletismo da seleção do Canadá, onde Higor iniciou no esporte.
No Brasil, passou a competir pela seleção brasileira, tendo ficado em 3° lugar nos 110 metros de barreiras, no mundial de atletismo dos surdos, na Polônia, em 2021. "Fiquei feliz pois, pela primeira vez, a largada foi com sinalizador, forma mais justa e adequada, sem o som de pistola", relembra o estudante. Ele destaca que a acessibilidade da nova pista tem pontos que precisam melhorar. "Falta piso tátil e sinalização para cegos e rampas para cadeirantes", enumera.
UTILIZAÇÃO – Essa é a primeira reforma desde a inauguração do CO, há 52 anos. Foram dez anos de obras. Após a inauguração oficial, as atividades ainda não foram totalmente liberadas. A equipe responsável está finalizando a elaboração das Normas de Utilização e do Regimento das Pistas de Atletismo, para aprovação do Conselho da Faculdade de Educação Física (FEF). As normas serão disponibilizadas no site do CO.
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“Já estamos recebendo os pedidos de autorização para o uso das pistas e construindo parcerias com os atletas da cidade. As solicitações podem ser encaminhadas para a Secretaria do CO e as pistas devem ser liberadas em cerca de um mês”, explica Alexandre Rezende, professor da FEF e colaborador no processo de criação do projeto, das parcerias e do modelo de gestão.
“Também estamos construindo parcerias com a Federação de Atletismo do DF (FAtDF) e com a Gerência de Desporto da Secretaria de Educação. Além da Secretaria de Esporte e Lazer, que tem o projeto Futuro Campeão, a Escola de Esporte e os Centros Olímpicos, para que montem uma turma específica de atletismo e agendem treinamento dos atletas na UnB”, diz Alexandre.
Segundo o docente, as pessoas da comunidade externa poderão utilizar o complexo mediante o recolhimento de taxa de uso das instalações esportivas do CO, que inclui as pistas de atletismo. Para a comunidade interna, atividades acadêmicas e comunitárias, o uso será gratuito, desde que tenha a supervisão de um professor ou profissional de educação física.
Outro ponto de destaque são os eventos competitivos, que devem ser realizados ao menos uma vez por mês. A Federação de Atletismo do Distrito Federal já encaminhou uma expectativa de calendário anual, que inclui o Campeonato Brasiliense Loterias Caixa de Atletismo em diversas modalidades.
Também farão parte da agenda os Jogos Escolares do DF e os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), que dependem da UnB se candidatar e ser escolhida como a sede.
“Temos ainda a proposta de criação de um Centro de Treinamento Esportivo em Provas de Fundo, Meio-Fundo e Marcha Atlética, provas nas quais Brasília tem tradição e condições especiais de treinamento, com altitude acima de 1.000 metros, em parceria com a Confederação Brasileira de Atletismo e a Federação de Atletismo do DF. E também a expectativa de criação de um Centro de Iniciação Desportiva (CID) de Atletismo na UnB, em parceria com a Secretaria de Educação do DF”, afirma o professor.
Acostumado com a rotina de formar atletas de excelência e descobrir novos talentos, o fundador do Centro de Atletismo de Sobradinho (CASO), João Sena, diz que sonha em utilizar as pistas da UnB para ampliar as oportunidades de desenvolvimento de atletas na capital.
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“Já pedimos a liberação para treino nas pistas e vamos fazer parte dos trabalhos do complexo. Essa pista pode receber um campeonato mundial, o que me deixa empolgado, mas o mais importante é utilizá-la com frequência e enchê-la com atletas”, comemora o treinador.
HOMENAGEM – O complexo recebeu o nome de Mário Ribeiro Cantarino Filho, em honraria ao pioneiro do esporte no Distrito Federal, ex-presidente da Federação Brasiliense de Atletismo e docente da UnB. Falecido em 2012, ele completaria 93 anos na data da inauguração do complexo ao qual deu nome.
O professor também é fonte de inspiração para o egresso Lucas Scaravelli. Graduado em Pedagogia e Educação Física e mestre em Educação Física pela UnB, ele escreveu a dissertação de mestrado sobre o homenageado.
“Cantarino é um dos pioneiros a questionar a educação física de rendimento que prima por resultados, recordes e medalhas, proclamando uma educação física escolar que tenha linguagens sociais e uma formação cidadã crítica para os jovens e crianças”, salienta Lucas.
Atleta nas categorias de base e profissional de competições de atletismo por 28 anos, Lucas destacou-se como um dos quatro primeiros do país em provas de longa distância e marcha atlética, foi hexacampeão brasileiro universitário (JUBS) das provas de 5 e 10 mil metros rasos e ainda é o recordista brasileiro e sul-americano universitário na prova de 5 mil metros rasos.
Aposentado há sete anos, Lucas hoje é professor e pesquisador em São Paulo. “As pistas de atletismo da UnB foram por muitos anos meu lar esportivo, as pistas de carvão antiga e as trilhas de grama e terra do CO foram onde eu fiz diversas preparações para competições nacionais e internacionais", revela emocionado.
"Falar da UnB é falar de uma relação socioemocional e de uma parte considerável da minha existência, por isso, hoje treino para ser professor da UnB”, compartilha o egresso.