O papel da comunicação pública na promoção, defesa e qualificação das ações das universidades federais e sua disseminação por diferentes e novas mídias para a esfera pública de debate foi a tônica do Seminário de Comunicação, realizado pela Comissão de Comunicação da Andifes e pelo Colégio de Gestores de Comunicação das Universidades Federais (Cogecom) na quarta-feira (7), em Brasília.
O Seminário reuniu os gestores de Comunicação das universidades federais filiadas à Andifes para o compartilhamento de experiências, planejamento e avaliação dos processos comunicacionais de difusão e defesa das ações e produções das instituições públicas federais de ensino superior, especialmente frente a um período recente de ataques e deslegitimação das universidades e até da democracia.
“Vivemos recentemente um período desafiador para a comunicação e para as universidades, fomos atacados sem parar, e percebemos que falar não só para dentro, mas saber falar para fora se tornou quase que uma questão de sobrevivência para o sistema universitário. A comunicação é profissional, tem uma ciência e um saber que precisa ser ouvido, e é estratégico no dia a dia da gestão das universidades. Sobretudo nesse momento da mais aguda crise orçamentária das universidades, saber comunicar faz a diferença”, afirmou na abertura do evento o presidente da Andifes, reitor Ricardo Marcelo Fonseca (UFPR).
As universidades foram escolhidas como alvo de ataques por representarem a ciência e o pensamento crítico, avaliou a reitora Lúcia Pellanda (UFCSPA), presidente da Comissão de Comunicação da Andifes. “Faz alguns anos que observamos estes ataques sistemáticos às universidades, com ferramentas bem definidas e investimento consistente. Estudos mostram disparo em massa de notícias contra as universidades dois dias antes do bloqueio orçamentário em 2019. Estávamos estudando esses mecanismos quando veio a pandemia e tudo mudou, mas as universidades foram fundamentais, uma reserva de confiabilidade nos meios de comunicação”, lembrou a reitora da UFCSPA.
“Neste seminário, encerro um período de quatro anos à frente do Cogecom e fico muito orgulhosa de ver todo o caminho que percorremos juntos para chegar até aqui. Foi um período com muitos sobressaltos, notas, posicionamentos e campanhas conjuntas. É muito significativo estarmos aqui encerrando o ano com um seminário de comunicação após um período tão atribulado, mostra o apoio e fortalecimento que a Andifes tem dado ao Colégio de Gestores de Comunicação”, afirmou Rose Pinheiros, membro da coordenação do Cogecom de 2019 a 2022.
“O trabalho feito sob a coordenação da Rose permitiu que chegássemos hoje com uma equipe motivada e estruturada, e com nosso colégio em condições de propor ações, que é reflexo de tudo o que foi constituído nos últimos quatro anos. Espero que possamos estar alinhados e dedicados coletivamente em prol da comunicação pública, tão importante para mostrar nossa luta e o trabalho das universidades”, afirmou Maira Bittencourt, que assume a coordenação do Cogecom a partir de janeiro de 2023.
O Seminário ocorre em um momento em que as universidades não podem pensar a comunicação apenas pelo viés do jornalismo técnico, mas pensar de uma maneira politicamente estratégica, afirmou a coordenadora de comunicação da Andifes, Lívia Leite. “Esse seminário é um marco para a comunicação da Andifes e das nossas universidades. Reunimos aqui muitos profissionais capazes de produzir um conteúdo rico e a troca de experiências que teremos aqui vai se refletir em bons resultados daqui para frente. A Andifes e as universidades são referência e as estratégias que desenvolveremos aqui reforçam esse compromisso de fazer uma comunicação que seja estratégica e eficaz”, disse.
Após as falas de abertura, foram anunciados os vencedores do Prêmio Andifes de Jornalismo 2022.
Na sequência, foi realizada a primeira mesa, com o tema As universidades nas disputas simbólicas da esfera pública contemporânea, mediada pelo reitor Sandro Cerveira (Unifal-MG), que salientou a importância da comunicação em todo o processo universitário. “A comunicação não é um pedaço do que fazemos, ela está presente em tudo o que estamos fazendo. O que é a pesquisa científica se não a comunicação entre pesquisadores do mundo inteiro, o que é a extensão universitária se não o nosso diálogo com as instituições que não estão dentro das universidades, o que é o ensino se não comunicação?”, questionou o reitor.
Para Janine Rocha, coordenadora de Comunicação Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), há uma conexão intrínseca entre democracia e comunicação. “A que a comunicação serve à democracia? É o provimento de informações, qualificação da vida pública, promoção e proteção de direitos conquistados, produção de visibilidade, assimilação das diferenças”, frisou Janine, acrescentando que a comunicação das universidades também auxilia o processo democrático no “combate à desinformação e aos negacionismos, no preenchimento dos vazios informacionais, na reconstrução das imagens institucionais, prestação de contas, transparência ativa e dinamização do debate público”.
Já Maurini de Souza, diretora de Gestão da Comunicação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), lembrou que as universidades têm por responsabilidade manter a democracia nos tempos atuais. “Por isso necessitamos nos unir com as instituições que formamos nesse país. Precisamos de democracia para a comunicação poder fluir e fazer o seu melhor. Democracia e fundamental para eu não permitamos o abandono, mas possamos, juntos, construir o melhor dos tempos”, disse Maurini.
A coordenadora da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Universidade Federal do ABC, Mariella Mian, destacou em sua fala o papel das redes sociais como esfera de debate. “Hoje não tem como falar de esfera pública sem falar das redes sociais Como instituições públicas demoramos demais para entender como funcionam essas redes. Mas é importante dizer que o espaço das redes não é público, é privado e controlado. Como universidades e instituições públicas, temos que nos apropriar do que está nas redes, que são um espaço em disputa, e estamos também lutando por esse espaço. Se for de uma forma coletiva teremos mais sucesso”, afirmou Mariella.
A disputa de narrativas, a desinformação e a universidade também foi o tema da fala de Thaiane Moreira de Oliveira, superintendente de comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF). “A desinformação tem sido usada como componente político. Décadas de construção sólida do conhecimento e de inciativas em ciência, saúde, meio ambiente e educação tem sido rapidamente desmontadas e perdidas. A capacidade de definir as agendas de pesquisa é um ponto central do processo de disputa de autoridades de conhecimento. As universidades eram anteriormente as únicas autoridades, agora elas disputam esse processo. Esse processo de contestação das instituições é uma forma de deslegitimá-las para ocupar esses espaços informativos e deliberativos”, alertou Thaiane.
Encerrando a primeira mesa, a diretora da unidade de divulgação científica da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) discorreu sobre comunicação pública da ciência e o papel das instituições públicas de ensino superior. “A maior parte das falas sobre ciência durante a pandemia trazem um tom autoritário que pode afastar as pessoas da ciência. Temos que trabalhar um papel da comunicação também entendida como diálogo, com por exemplo com a indústria. Como podemos trabalhar para um impacto social cada vez maior, e mais abrangente. Não podemos falar só dos resultados das pesquisas, mas temos que falar também dos processos de produção de ciências. Esse é um dos desafios”, salientou Mariana.
A segunda mesa do seminário teve por tema Comunicação como atividade finalística estratégica das universidades, e foi mediada pela reitora Angelita Pereira (UFG). “A comunicação como atividade finalística só pode acontecer como processo de diálogo e educação, e método, como nos ensinou Paulo Freire. Só acontece se entendermos também a comunicação como meio, de fortalecer, facilitar e consolidar a atividade fim da universidade, que é o ensino. A comunicação é estratégica no seu fim enquanto ensino, e na razão final que é formar pessoas, com pensamento crítico, cidadão, que é ao que nós nos devotamos”, ressaltou a reitora da UFG.
Walter Teixeira Lima Júnior, diretor do Departamento de Comunicação Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), reforçou em sua fala a importância das políticas de comunicação pública e institucional. “A nova cultura de comunicação públicas nas Ifes [Instituições Federais de Ensino Superior] deve contemplar a visão de que a comunicação não é uma atividade meio, ela deve ser entendida sob nova perspectiva, de função finalística. Todos os processos na universidade devem estar voltados para a comunicação pública, contendo os princípios de transparência, e, principalmente, de esclarecimento da sociedade sobre a importância estratégica das Ifes para o país e para o seu dia a dia”, detalhou Teixeira Lima.
Fábia Pereira Lima, diretora do Centro de Comunicação Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou um mapeamento da estrutura de comunicação das Ifes. “A realidade das estruturas de comunicação das universidades é muito diferente, há equipes com quatro profissionais, e outras com 88 profissionais, a maioria não possui docentes em suas equipes, 37% tem apenas um docente. As estruturas são basicamente voltadas para as atividades jornalísticas, 59% não possuem publicitários ou relações públicas em suas equipes. Para formar uma rede precisamos entender quais as atividades formadas pelas unidades dessa rede, se tem rádio, tevê, se tem trabalhos muito especializados, se cuidam da agenda da reitoria, vão precisar de estrutura. Precisamos entender a questão da regionalidade também, para nos fortalecermos como estrutura de rede”, afirmou Fábia.
O secretário de Comunicação Social Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Ramon Fernandes Lourenço, por sua vez, ressaltou ferramentas e serviços que potencializam a comunicação integrada das universidades. “A indústria da desinformação é caracterizada por um alto volume de informações falsas, grande variedade de conteúdos e tipos de mídia, apelos para a emoção e não para a construção do conhecimento, e uso massivo das tecnologias de comunicação. Para responder a esse cenário é necessário qualidade do conteúdo, adequar discurso ao público e consistência das estratégias, e também novas ferramentas para as universidades: buscar softwares de apoio às atividades das assessorias, sistema de disparo de newsletters, trabalhar com monitoramento de indicadores de mídias digitais”, frisou Fernandes.
A terceira mesa do seminário debateu Estratégias de fortalecimento institucional das universidades em tempos de infodemia, e foi mediada pela reitora Lúcia Pellanda (UFCSPA). Nesta mesa, Mônica Nogueira, secretária de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), e Renata Neiva, diretora de comunicação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), realizaram a apresentação O papel da comunicação na gestão estratégica de crise e imagem. “A reputação corresponde a 80% do valor de uma marca, apontou um estudo de Oxford. O risco deve ser levado a sério e corrigido. É preciso fazer um mapeamento de risco, e em uma crise, a universidade precisa falar com os diversos públicos. Quem faz essa ponte são as equipes de comunicação, que na gestão de crise devem auxiliar na elaboração de declarações para a imprensa, prezando a transparência”, explicou Renata.
Deve-se evitar negar ou minimizar os impactos de uma crise, afirmou Monica Nogueira. “No caso das universidades, é preciso que se estabeleça um diálogo entre gestores de comunicação e reitores para criar significado e construir narrativa diante de uma crise. As pessoas esperam ouvir de autoridades e personagens públicos como interpretar a realidade, e precisam se sentir seguras das informações que recebem. O gestor de comunicação vai ouvir especialistas para elaborar uma resposta, por isso é importante que os gestores de comunicação participem desse momento de tomada de decisão em gerenciamento de crise”, afirmou Mônica.
Francisco Daher, diretor de Comunicação Institucional da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), lembrou que a comunicação e a informação sempre estiveram no meio das grandes crises da humanidade. “Vivemos um ambiente de hiperinformação. É um ambiente propício para a infodemia. A informação sempre transcende o campo em que foi produzida, e a comunicação não pode ter a pretensão de carregar consigo a utopia da verdade universalizante. O contingenciamento de crise ainda é um desafio. Ao elencar as principais possibilidades de risco, já deve-se ter uma mensagem pronta para a crise. Temos que responder como promover as interações em rede. Nosso futuro vai se desenhar de acordo com o que fizermos agora”, disse Daher.
Corrobora neste sentido a avaliação de Carlos Rocha, superintendente de Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Temos um relacionamento de gestor de comunicação e reitor como uma relação de confiança. Numa crise, quem responde primeiro é a linha técnica. O reitor fica como reserva de segurança. Existem situações diferentes, que exigem a definição de porta-vozes, e a decisão tem que sair sempre entre comunicação e gestão. As crises sempre vão existir, mas como as enfrentamos é o que muda. Primeiro, tem que ser rápido, honesto e transparente”, detalhou Rocha.
O Seminário se encerrou com uma apresentação de Rose Pinheiro sobre desafios a serem superados pelas comunicações das universidades, em áreas como pessoal, infraestrutura, concursos e terceirizados. Na sequência, Maíra Bittencourt e Ivanei Salgado (Unifal-MG), que assumem a coordenação do Cogecom a partir de janeiro, apresentaram o Plano de Ações do colégio para o próximo ano.
Confira matéria da UnBTV sobre o Seminário:
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