MOMENTO HISTÓRICO

Inédita na instituição, a concessão foi aprovada pelo Consuni. Solenidade contou com a participação de amigos, familiares, estudantes, políticos e professores

Após a anulação do ato que expulsou o estudante da UnB em 1968, Honestino Guimarães, representado pelo primo Sebastião Lopes Neto, recebeu diploma post mortem de geólogo. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

“Honestino presente, hoje e sempre!” Foi o brado dos estudantes do movimento estudantil da UnB no dia histórico em que foi entregue, postumamente, o diploma de geólogo a Honestino Guimarães. A cerimônia, aprovada pelo Conselho Universitário da UnB (Consuni) em junho, foi realizada na última sexta-feira (26) e lotou o Auditório da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), no campus Darcy Ribeiro, Asa Norte. A UnBTV transmitiu a cerimônia.

 

O estudante é um ícone da luta contra a ditadura militar, da defesa da democracia, dos direitos estudantis e da autonomia universitária. Expulso da UnB em 1968, antes de concluir a graduação, foi perseguido e preso e, em 1973, entrou na lista dos desaparecidos políticos. 

Reitor da UnB entre 2008 e 2012, o professor José Geraldo de Sousa Junior proferiu o discurso de apresentação da solenidade. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Após revogar a expulsão, a UnB concedeu a primeira diplomação post mortem de sua história. A cerimônia contou com a presença de familiares, amigos, colegas de turma de Honestino, além de autoridades, estudantes e professores.

 

“Essa é uma reparação, é um ato de justiça por tudo que Honestino foi e ainda representa. Essa cerimônia engloba todos os que lutam pela democracia e obtenção de direitos”, proferiu o professor José Geraldo de Sousa Junior (reitor da UnB de 2008 a 2012), no discurso de apresentação da solenidade.

 

“O simbolismo desse ato transcende os aspectos relacionados à pessoa e compõe uma mensagem da Universidade para deixar explícito o compromisso com a justiça, a democracia e a história”, discorreu o orador. E finalizou o discurso com uma fala do próprio homenageado: “ainda que nos prendam, ainda que nos matem, mesmo assim, voltaremos e seremos milhões”.

 

“A UnB pede desculpas à família de Honestino Guimarães”, afirmou a reitora da UnB, Márcia Abrahão, que também preside o Conselho Universitário. Ela reforçou que o diploma é completo e “simboliza não apenas um reconhecimento acadêmico, como também o compromisso da Universidade com a democracia”.

 

Ela ainda destacou o papel de resistência da instituição e a importância de continuar defendendo a democracia contra qualquer ameaça que se levante. Comovida, a reitora entregou o título para o primo e representante de Honestino, Sebastião Lopes Neto, que aproveitou a ocasião para contar um pouco da história do estudante.

Sebastião Lopes Neto, primo de Honestino Guimarães, relembrou fatos da vida do estudante, como a origem humilde, a dedicação aos estudos e a aprovação em primeiro lugar no primeiro vestibular para Geologia da UnB. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

“O meu tio, pai do Honestino, tinha uma garrafa de vinho português guardada para quando ele se formasse, pois era algo valioso naquela época. Ela perdeu-se com o tempo, mas fiz questão de trazer outra para brindarmos, pois ele finalmente se graduou”, celebrou Sebastião, emocionando os presentes.

 

O diretor do Instituto de Geociências (IG), professor Welitom Borges, falou da alegria da comunidade de geociências do Brasil inteiro em conceder o título de geólogo a alguém que ensinou “que a verdadeira liderança é servir aos outros, que coragem é enfrentar a opressão de outros e que a vitória é conquistada quando lutamos pelo bem comum”.

 

Já o secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, Alexandre Brasil, frisou que “a vida de Honestino foi tirada pelo Estado, que usou de violência contra alguém que ousou questionar a violência daquele Estado”.

 

COMITIVA – A comitiva do homenageado foi recepcionada no palco pela mesa de honra e aplaudida pelo público do auditório. Compuseram o grupo de familiares a ex-esposa e mãe da filha de Honestino, Isaura Botelho; os sobrinhos de Honestino Guimarães, Mateus, Nathália, Norton e Gabriel Guimarães; e a ex-companheira Shoshana Furtado. 

 

Também compuseram a comitiva a secretária de Direitos Humanos da UnB (SDH), Deborah Santos; a amiga e escritora do livro Paixão de Honestino, Betty Almeida; o amigo e professor Juarez Maia; os ex-colegas de turma José Alberto Veloso e Tercio Pina de Barros; a ex-deputada Maria Maninha; e a presidente do Centro Acadêmico (CA) de Geologia do Instituto de Geociências da UnB, Rebeca Santos.

Em clima de emoção, a comitiva do homenageado foi aplaudida pelo público presente e cumprimentada pelo representante de Honestino na cerimônia, seu primo Sebastião Lopes Neto. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

O sobrinho Gabriel Guimarães destacou a importância da cerimônia de entrega do diploma e afirmou que o reconhecimento “faria muita diferença para a pessoa que receberia, assim como faz para toda a sociedade que o admira como uma liderança”.

 

A ex-esposa também expressou a profunda emoção de participar da diplomação. “Não tenho muitas palavras, apenas quero dizer que é um momento justo, pois ele amou essa Universidade e foi ela que o ajudou a se constituir na pessoa que foi”, declarou Isaura Botelho.

 

LEGADO – Durante o evento, Laís Cantuário, representante do Diretório Central de Estudantes (DCE) da UnB, proferiu um discurso em que destacou a importância da luta pela justiça e democracia.

 

“Sua trajetória é uma lembrança dolorosa, mas essencial, do preço da luta pela justiça e pela democracia. Ele foi preso e torturado somente por ousar lutar por liberdade, democracia, educação emancipadora, dignidade e esperança de uma sociedade radicalmente diferente”, afirmou.

Representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE), que leva o nome de Honestino Guimarães, apresentou um poema em homenagem a ele. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

A estudante enfatizou a importância da resistência estudantil. “O DCE orgulhosamente carrega o nome de Honestino e somos eternamente honrados em manter o seu lugar. É nosso papel organizar as indignações dos estudantes e garantir que os nossos corredores inspirem a luta pela democracia, contra qualquer tipo de opressão e tentativa de censura”, pontuou.

 

Na cerimônia, Manuella Mirella, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), destacou a resistência e a coragem dos estudantes e professores das universidades públicas.

“Nós chamamos ele de nosso eterno presidente, pois foi eleito num momento difícil do nosso país e nos deixou o legado de não ter medo, mas coragem de enfrentar qualquer um que atente contra a democracia e a liberdade”, frisou.

 

A líder estudantil ressaltou o papel histórico da UnB como “um território de resistência, onde estudantes e professores defendem uma universidade transversal, libertadora, emancipadora”.

 

 

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