“Honestino presente, hoje e sempre!” Foi o brado dos estudantes do movimento estudantil da UnB no dia histórico em que foi entregue, postumamente, o diploma de geólogo a Honestino Guimarães. A cerimônia, aprovada pelo Conselho Universitário da UnB (Consuni) em junho, foi realizada na última sexta-feira (26) e lotou o Auditório da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), no campus Darcy Ribeiro, Asa Norte. A UnBTV transmitiu a cerimônia.
O estudante é um ícone da luta contra a ditadura militar, da defesa da democracia, dos direitos estudantis e da autonomia universitária. Expulso da UnB em 1968, antes de concluir a graduação, foi perseguido e preso e, em 1973, entrou na lista dos desaparecidos políticos.
Após revogar a expulsão, a UnB concedeu a primeira diplomação post mortem de sua história. A cerimônia contou com a presença de familiares, amigos, colegas de turma de Honestino, além de autoridades, estudantes e professores.
“Essa é uma reparação, é um ato de justiça por tudo que Honestino foi e ainda representa. Essa cerimônia engloba todos os que lutam pela democracia e obtenção de direitos”, proferiu o professor José Geraldo de Sousa Junior (reitor da UnB de 2008 a 2012), no discurso de apresentação da solenidade.
“O simbolismo desse ato transcende os aspectos relacionados à pessoa e compõe uma mensagem da Universidade para deixar explícito o compromisso com a justiça, a democracia e a história”, discorreu o orador. E finalizou o discurso com uma fala do próprio homenageado: “ainda que nos prendam, ainda que nos matem, mesmo assim, voltaremos e seremos milhões”.
“A UnB pede desculpas à família de Honestino Guimarães”, afirmou a reitora da UnB, Márcia Abrahão, que também preside o Conselho Universitário. Ela reforçou que o diploma é completo e “simboliza não apenas um reconhecimento acadêmico, como também o compromisso da Universidade com a democracia”.
Ela ainda destacou o papel de resistência da instituição e a importância de continuar defendendo a democracia contra qualquer ameaça que se levante. Comovida, a reitora entregou o título para o primo e representante de Honestino, Sebastião Lopes Neto, que aproveitou a ocasião para contar um pouco da história do estudante.
“O meu tio, pai do Honestino, tinha uma garrafa de vinho português guardada para quando ele se formasse, pois era algo valioso naquela época. Ela perdeu-se com o tempo, mas fiz questão de trazer outra para brindarmos, pois ele finalmente se graduou”, celebrou Sebastião, emocionando os presentes.
O diretor do Instituto de Geociências (IG), professor Welitom Borges, falou da alegria da comunidade de geociências do Brasil inteiro em conceder o título de geólogo a alguém que ensinou “que a verdadeira liderança é servir aos outros, que coragem é enfrentar a opressão de outros e que a vitória é conquistada quando lutamos pelo bem comum”.
Já o secretário da Educação Superior do Ministério da Educação, Alexandre Brasil, frisou que “a vida de Honestino foi tirada pelo Estado, que usou de violência contra alguém que ousou questionar a violência daquele Estado”.
COMITIVA – A comitiva do homenageado foi recepcionada no palco pela mesa de honra e aplaudida pelo público do auditório. Compuseram o grupo de familiares a ex-esposa e mãe da filha de Honestino, Isaura Botelho; os sobrinhos de Honestino Guimarães, Mateus, Nathália, Norton e Gabriel Guimarães; e a ex-companheira Shoshana Furtado.
Também compuseram a comitiva a secretária de Direitos Humanos da UnB (SDH), Deborah Santos; a amiga e escritora do livro Paixão de Honestino, Betty Almeida; o amigo e professor Juarez Maia; os ex-colegas de turma José Alberto Veloso e Tercio Pina de Barros; a ex-deputada Maria Maninha; e a presidente do Centro Acadêmico (CA) de Geologia do Instituto de Geociências da UnB, Rebeca Santos.
O sobrinho Gabriel Guimarães destacou a importância da cerimônia de entrega do diploma e afirmou que o reconhecimento “faria muita diferença para a pessoa que receberia, assim como faz para toda a sociedade que o admira como uma liderança”.
A ex-esposa também expressou a profunda emoção de participar da diplomação. “Não tenho muitas palavras, apenas quero dizer que é um momento justo, pois ele amou essa Universidade e foi ela que o ajudou a se constituir na pessoa que foi”, declarou Isaura Botelho.
LEGADO – Durante o evento, Laís Cantuário, representante do Diretório Central de Estudantes (DCE) da UnB, proferiu um discurso em que destacou a importância da luta pela justiça e democracia.
“Sua trajetória é uma lembrança dolorosa, mas essencial, do preço da luta pela justiça e pela democracia. Ele foi preso e torturado somente por ousar lutar por liberdade, democracia, educação emancipadora, dignidade e esperança de uma sociedade radicalmente diferente”, afirmou.
A estudante enfatizou a importância da resistência estudantil. “O DCE orgulhosamente carrega o nome de Honestino e somos eternamente honrados em manter o seu lugar. É nosso papel organizar as indignações dos estudantes e garantir que os nossos corredores inspirem a luta pela democracia, contra qualquer tipo de opressão e tentativa de censura”, pontuou.
Na cerimônia, Manuella Mirella, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), destacou a resistência e a coragem dos estudantes e professores das universidades públicas.
“Nós chamamos ele de nosso eterno presidente, pois foi eleito num momento difícil do nosso país e nos deixou o legado de não ter medo, mas coragem de enfrentar qualquer um que atente contra a democracia e a liberdade”, frisou.
A líder estudantil ressaltou o papel histórico da UnB como “um território de resistência, onde estudantes e professores defendem uma universidade transversal, libertadora, emancipadora”.