DIREITOS HUMANOS

Reitora participou de reunião sobre o tema nesta quinta (7). A proposta deverá passar pela aprovação do conselho do Instituto de Geociências e, posteriormente, seguirá para análise na Reitoria

Estiveram com a reitora Márcia Abrahão para conversar sobre a proposta, familiares e amigas de Honestino Guimarães, produtores do filme sobre a vida do estudante desaparecido, membros da administração superior, o ex-presidente da ADUnB professor Jacques de Novion, o diretor do IG, Welitom Borges, e o ex-reitor José Geraldo de Sousa Junior. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

A reitora Márcia Abrahão realizou uma reunião para tratar dos trâmites para a concessão do diploma acadêmico post mortem a Honestino Guimarães, estudante de Geologia da Universidade de Brasília que foi desaparecido em 1973 pela ditadura militar. Participaram do encontro, nesta quinta-feira (7), no Salão de Atos da Reitoria, familiares, amigas, produtores do filme sobre a vida de Honestino, membros da administração superior, o ex-presidente da Associação dos Docentes da UnB (ADUnB) professor Jacques de Novion, o diretor do Instituto de Geociências (IG), Welitom Borges, e o ex-reitor José Geraldo de Sousa Junior.

“Quando fui procurada pelo ex-reitor José Geraldo e soube do interesse do grupo pela ação de reparação, falei que havia também a discussão no Instituto de Geociências. É muito importante o envolvimento do instituto também, porque na Universidade precisamos aprovar nos órgãos colegiados. Fico feliz com toda essa mobilização. Vamos fazer isso unidos, a UnB e a sociedade”, disse a reitora, que sugeriu fazer a entrega no dia do aniversário da UnB, em 21 abril.

O diretor do IG, Welitom Borges, explicou que passará pelo conselho de sua unidade a proposta de concessão de diploma. “Honestino foi o primeiro colocado do primeiro vestibular para Geologia. Para nós, é uma alegria nos unirmos a esse ato e integrar o grupo. Vou levar ao conselho o quantos antes. Já solicitamos o histórico do Honestino no ano passado”, disse.

Membro da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade (CATMV) da UnB, Paulo Parucker contou que foi realizada, em 2 de março, uma reunião no IG com a participação de cerca de 25 pessoas para discutir o assunto.

REPARAÇÃO – O ex-reitor José Geraldo de Sousa Junior contou que escreveu, em fevereiro deste ano, o artigo UnB diploma Honestino: ato de reparação por dano a projeto de vida, que cita a concessão de diplomas de graduação post mortem para estudantes da Universidade de São Paulo (USP) mortos pela ditadura militar.

O ex-reitor José Geraldo de Sousa Junior destacou que graduar Honestino Guimarães é uma reparação. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

“Eu fiquei bastante tocado com a notícia da USP e de saber do movimento de amigos, familiares e da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB”, disse.

José Geraldo destacou que o campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília tem o Módulo de Apoio e Serviços Comunitários Sul (MASC Sul) com o nome Paulo de Tarso Celestino e o MASC Norte leva o nome de Ieda dos Santos Delgado. Ambos são estudantes da UnB desaparecidos durante a ditadura, assim como Honestino.

A autora do livro Paixão de Honestino, Betty Almeida, informou que mantém contato permanente com Juliana, filha de Honestino, e que ela está feliz em saber da organização da Universidade para conceder o diploma. “Esse vai ser um ato por memória, verdade, justiça e reparação. Há muitas pessoas que precisam disso também. Agradeço muito a administração da UnB por ter essa receptividade e por reconhecer a competência de Honestino. É um merecimento. Ele teria tido uma carreira brilhante, mas optou por participar de uma luta em favor da nossa sociedade.”

Emocionada, a ex-deputada Maninha contou que ingressou na UnB em 1967 e foi recepcionada por Honestino, que fez as vezes de “cicerone” da caloura. “Ele me apresentava como irmãzinha dele para as pessoas. Fui sendo chamada de Maninha, Maninha do Honestino. Resolvi, então, incorporar ao meu nome e passei a ser conhecida como Maninha”, contou.

O docente do Instituto de Ciências Humanas Jacques de Novion, ex-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Honestino Guimarães e da Associação dos Docentes da UnB (ADUnB), disse que conheceu a mãe de Honestino Guimarães, Maria Rosa Leite, autora do livro Honestino - o bom da amizade é a não cobrança.

Ao lado de Maninha e Diêgo Madureira, professor Jacques de Novion fala sobre a experiência marcante de compartilhar histórias sobre a vida de Honestino em sala de aula. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

“Eu levei esse livro para a sala de aula. É um trabalho muito forte. É um trabalho que nós, que carregamos a luta dos familiares de mortos e desaparecidos, fazemos questão de levar para sala de aula, porque nos conecta com a juventude atual. É muito diferente ver o que foi a perseguição política na cidade de Brasília. É pensar um Honestino Guimarães que morava nas 400, descendo o prédio como um homem-aranha enquanto a polícia sobe para levá-lo encarcerado.”

Entre os presentes, estavam também o primo de Honestino Ubajara Leite, o sobrinho Gabriel Romeo, a Secretária de Comunicação da UnB e vice-presidente da Câmara de Direitos Humanos, Mônica Nogueira, o chefe de gabinete da Reitoria, Paulo César Marques, o cineasta Aurélio Michiles, o produtor Caetano Curi, o secretário de Assuntos Acadêmicos da UnB, Henrique Soares, o decano de Ensino de Graduação da UnB, Diêgo Madureira, e o assessor estratégico do Gabinete da Reitoria, Benny Schvarsberg.

MEMÓRIA – Honestino Monteiro Guimarães nasceu em 28 de março de 1947, em Itaberaí/GO. Ele foi o primeiro colocado no primeiro vestibular para Geologia realizado na UnB, em 1965, e presidente da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília, em 1968. No mesmo ano, o estudante foi preso na invasão militar da UnB, sendo solto meses depois, e expulso da Universidade. Entre 1968 e 1973, Honestino viveu na clandestinidade. Em 1973, foi sequestrado, aos 26 anos, não sendo mais visto. A confirmação pública de sua morte ocorreu em 1996. O corpo nunca foi encontrado.

Em novembro de 2023, o Conselho Universitário da UnB divulgou nota manifestando-se pela elucidação do desaparecimento de Honestino, cinquenta anos depois do ocorrido.