A reitora Rozana Naves participou do painel Quando elas lideram: visões transformadoras para uma nova sociedade, durante o último dia do Festival Curicaca, realizado em Brasília. O bate-papo também contou com a presença da atriz Cláudia Campolina e da influenciadora Nathalia Arcuri, que compartilharam experiências sobre os desafios e as conquistas das mulheres em posições de liderança. O evento ocorreu no sábado (11), na Arena BSB, no palco NIB, o principal do festival.
Durante o painel, a reitora Rozana Naves destacou o protagonismo feminino na ciência, na gestão e nas ações desenvolvidas pela instituição no Festival Curicaca. “A Universidade de Brasília trouxe 63 projetos e mais de 15 mil pessoas circularam pelas nossas atividades ao longo da semana. As mulheres que formam a UnB estão desenvolvendo ciência, tecnologia e inovação”, afirmou.
Rozana Naves ressaltou os avanços e desafios da presença feminina nas universidades. “As mulheres já são maioria na graduação e na pós-graduação, mas ainda enfrentam obstáculos para alcançar a equidade.” A reitora observou que as diferenças persistem nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, em que as mulheres ainda representam apenas cerca de 30% do total.
A reitora defendeu que a busca por igualdade de gênero precisa envolver toda a sociedade. “A equidade não é um tema apenas das mulheres, é uma transformação social necessária para romper o machismo estrutural e ampliar oportunidades”, disse. Ela citou iniciativas da UnB, como o edital Meninas e Mulheres na Ciência, que estimula a participação feminina em áreas tecnológicas e inspira meninas em escolas a seguirem caminhos científicos.
Rozana também chamou atenção para a sobrecarga feminina e a necessidade de políticas de corresponsabilidade no cuidado. “Mais de 70% das horas dedicadas à família são realizadas por mulheres. Não podemos naturalizar isso. Precisamos dividir o cuidado com os homens, para que todas tenham condições iguais de avançar no trabalho e na liderança”, concluiu.
A atriz Cláudia Campolina trouxe ao debate uma reflexão sobre o poder da arte como instrumento de transformação social. Em tom bem-humorado, ela retomou uma fala de sua personagem no espetáculo Mundo Invertido, em que interpreta uma sociedade na qual os papéis de gênero são trocados. “Quando a personagem diz: ‘Deus me livre, homem CEO’. É uma inversão de perspectiva que escancara o absurdo do machismo naturalizado no nosso cotidiano”, explicou.
Cláudia destacou que o trecho nasceu de uma fala real, dita por um homem em posição de liderança, e que o contraste serve para expor o quanto as desigualdades de gênero ainda são aceitas socialmente. “Durante muito tempo, acostumamo-nos a ver apenas homens em cargos de liderança. Quando há uma mulher nesses espaços, ainda há quem ache estranho. O que deveria causar estranhamento, na verdade, é a ausência de mulheres”, ponderou.
Para a atriz, essa inversão de olhar é justamente o papel essencial da arte. “A arte nos faz enxergar de outro ângulo, nos faz repensar o que foi naturalizado. Ela desperta empatia, faz a gente sentir na pele do outro e compreender dores e realidades que muitas vezes passam despercebidas no dia a dia”, disse.
A influenciadora e educadora financeira Nathalia Arcuri destacou a importância da autonomia econômica das mulheres como elemento central da emancipação e da liderança. Ela observou que grande parte ainda se sente distante do universo financeiro. “Muitas mulheres dizem: ‘Ah, eu sou de humanas’ ou ‘na minha casa era meu pai quem cuidava do dinheiro’, como se não pudessem assumir esse papel”, contou.
Nathalia explicou que utiliza o entretenimento como ferramenta pedagógica para aproximar o público do tema e desmistificar a relação com o dinheiro. “Já interpretei personagens como o ‘gerente de banco mal-intencionado’ para mostrar, de forma leve, que é preciso entender a lógica das instituições e tomar as rédeas das próprias finanças. Não é sobre demonizar ninguém, mas sobre abrir os olhos e assumir o controle”, explicou.
Ela celebrou o avanço das mulheres nesse campo. “É uma revolução silenciosa. Mulheres e até adolescentes estão cuidando do dinheiro da casa e ensinando seus pais e companheiros a investir”, relatou. Para Nathalia, o principal desafio ainda é cultural. “Muitas deixam de aceitar cargos de liderança não por falta de capacidade, mas pelo receio de desestabilizar relações, especialmente quando passam a ganhar mais que o marido. É preciso romper essas barreiras e entender que cuidar do dinheiro não é questão de exatas, é questão de comportamento e autoconhecimento”, concluiu.
