Para abordar os desafios e as perspectivas de diferentes unidades acadêmicas e administrativas, a Secretaria de Comunicação entrevista gestores da Universidade de Brasília. O diretor da Faculdade de Planaltina (FUP), Marcelo Bizerril, traça os planos para o campus.
Quais são os desafios da Faculdade de Planaltina?
Esse campus é o mais velho dos três. Completou dez anos em 2016. Em termos de infraestrutura e de estrutura física, basicamente atingiu o que foi planejado com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). A gente sabe que vive um momento de dificuldade de recursos. O que os campi têm de diferente são as oportunidades de vivência integral com a Universidade. O campus da FUP está inserido na cidade. Seus estudantes, professores e servidores são moradores da região. Por isso, nós nos envolvemos muito profundamente com a comunidade. E, talvez, por isso conseguimos desenvolver discussões que, às vezes, são complicadas em um âmbito maior, como no campus Darcy Ribeiro.
Desafios seriam avançar na interdisciplinaridade para que a lógica interdisciplinar perpasse nas práticas pedagógicas. Investimento em discussão pedagógica é nossa prioridade. Outro elemento estruturante para este ano é o Plano Diretor do campus. Temos uma área muito grande. O Plano Diretor foi originalmente produzido para a viabilização inicial do campus. Agora já temos condição de fazer projeção maior, de forma mais participativa, e podemos ver uma estrutura de campus sustentável, que é o que desejamos para cá, até pela vocação dos cursos. Tanto pela nossa prática quanto pela reserva de cerrado. Vamos investir nisso para este ano.
Além disso, queremos fortalecer a integração comunitária. Nós tradicionalmente temos uma extensão muito forte, mas queremos expandir mais. E temos um projeto com os estudantes para discutir a construção de um centro acadêmico (CA) planejado. Esse é um projeto mais audacioso. São cinco cursos que convivem muito bem. Pensamos em discutir a possibilidade de construir uma estrutura que lembre as instituições acadêmicas de fora. Um espaço que seja não só ocupado pelos estudantes, mas usado para atividades que se esperam de um CA. Também tem a questão da sociabilidade dos cursos – que eles avancem nos termos de projetos, de discussões políticas, de pautas de ação da Universidade na sociedade. Penso que sem infraestrutura para trabalhar não se atraem outros estudantes para participar, nem se viabiliza que as discussões ocorram de fato. Tudo isso está em projeto ainda e será pensado com os estudantes.
Quais são os pontos fortes da FUP?
A interdisciplinaridade não é só uma ideia. Estamos estruturados para isso. Não temos departamentos. Temos cerca de 110 professores trabalhando com a possibilidade de circular pelos cinco cursos numa estrutura mais leve do que a departamental. Isso permite que as pessoas se encontrem mais para participar de projetos. Todas as partes do campus fazem parte da vida dos professores. Talvez essa seja a nossa principal experiência que podemos até desejar expandir para outros âmbitos da Universidade. A ideia de redução de departamentos, para nós, é muito exitosa.
Estamos fortalecendo a pós-graduação. Acho que estamos equiparados aos demais campi, até considerando a idade da FUP. Temos quatro programas de pós e temos doutorado já. Destaco também a experiência de integração com a comunidade. Inclusive pelo perfil dos nossos estudantes e da área de abrangência de ação do campus. Temos projetos em diversas partes do país, mas, sobretudo, aqui na região do Goiás – e também com a comunidade quilombola e com assentamentos. Temos estudantes oriundos de toda a diversidade cultural de Planaltina. Acho que é uma vivência diferenciada. O próprio curso de Educação do Campo, que tem a experiência de alternância com alojamento e com estrutura para isso, é único na Universidade.
E quando falo de sustentabilidade, essa é uma demanda global da UnB. Não está só no campo das operações, da gestão de água, resíduos e energia etc. Isso tem de ser feito. Mas a concepção de sustentabilidade como prática política perpassa as relações, as organizações, a participação na gestão, as práticas pedagógicas. É nessa perspectiva que pensamos que o campus pode ser gerador de boas ideias.
Qual a expectativa em relação à nova gestão da UnB?
É uma equipe muito institucional e deve ser assim na UnB. Espero compreensão e sensibilidade para as demandas específicas de cada espaço da Universidade e apoio para as ideias de inovação na gestão. Tenho muita confiança de que nestes anos, apesar do que está indicando o cenário do país em termos de recursos, vamos ter muita atividade na UnB e espero que ela vá recuperar muito de sua energia. Acho que a participação na gestão é o principal fator para envolver todos, e há muitas cabeças na Universidade para fazê-la se movimentar. É importante que a reitoria provoque isso. Acho que a gestão está acenando que vai chamar a comunidade para participar e isso é fundamental.
Como o corte de gastos deve impactar a Faculdade de Planaltina?
Acho que todos os campi do país que foram criados nesta década vão sofrer bastante em termos da finalização, pelo menos na estruturação da primeira etapa. Na FUP está um pouco mais tranquilo, por termos começado antes e estarmos parcialmente construídos já. Acho que os outros campi de Brasília também estão nessa situação, mas não tenho dúvida de que a PEC 55 vai influenciar para pior a situação do desenvolvimento que foi projetado para a expansão da universidade no Brasil. Sabemos que dificilmente vamos ter recurso para prédio, mas há criatividade. Penso que algumas obras importantes possam acontecer, sim. Mas é hora de dirigirmos os esforços para a organização do nosso trabalho, para as questões pedagógicas, de gestão. Não podemos colocar todo o trabalho de gestão universitária em função de obras e de compras, apesar de serem muito importantes. Tem de haver criatividade e recursos. Os recursos que existem precisam ser gastos. Mas temos de aproveitar todo o recurso que há. Devolver é que não pode.
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