A pandemia do novo coronavírus fez instituições e profissionais pensarem em formas diferentes de atender os pacientes sem que eles precisem sair de casa, evitando os riscos de contaminação. Mas e a população indígena, será que tem acesso aos serviços de saúde? Foi pensando nesse público que o Hospital Universitário de Brasília (HUB) criou um programa de telessaúde para atender as comunidades indígenas do Distrito Federal, incluindo os alunos da Universidade de Brasília.
Com febre, dor de cabeça, coriza e falta de ar, o estudante de Ciência Política da UnB Danilo Tupinikim, de 20 anos, procurou o teleatendimento na última segunda-feira (27). "Eu estava desesperado, porque moro sozinho e não tinha informação alguma. Me senti muito acolhido, principalmente porque estavam dispostos a me escutar", avaliou ele.
Por apresentar sintomas de covid-19, Danilo foi orientado a ir ao HUB, onde realizou o exame RT-PCR para diagnóstico da doença e recebeu orientações para ficar de repouso, em isolamento por 14 dias. Até a liberação do resultado, ele continuará sendo monitorado pelos profissionais com novas ligações, como a que ocorreu no dia 30 de julho.
A iniciativa é coordenada pelo Ambulatório de Saúde Indígena do HUB e conta com orientações sobre covid-19 e outras doenças, teleconsultas em várias especialidades, espaços para troca de conhecimento entre as comunidades e discussões virtuais em grupo, com equipe multiprofissional. "Com esse projeto, conseguimos ampliar a oferta de serviços de saúde com segurança e garantimos o atendimento universal", afirma o chefe da Divisão Médica do HUB, Luciano Talma.
Para a coordenadora do ambulatório, Graça Hoefel, o indígena pode passar por sofrimento e adoecimento psíquico durante a pandemia, pois não está habituado ao isolamento e deixou de realizar o ritual comunitário de passagem nos casos de morte pelo novo coronavírus. "A covid chegou nas comunidades indígenas, que estão muito fragilizadas, com pouco recurso e poucas informações. Esperamos conseguir dar apoio e atenção à saúde dessa população", explica.
A auxiliar de serviços gerais Renalda Tupinikim, de 50 anos, mora na Aldeia de Caieiras Velha, que fica no Espírito Santo. Ela ficou sabendo do serviço pela sobrinha, que é estudante da UnB. "Gostei muito do atendimento e estou feliz por ter conseguido a consulta. Tirei todas as minhas dúvidas. Farei alguns exames e devo ter um retorno na semana que vem", conta ela, que se queixava de dores nas costas.
FUNCIONAMENTO – A teleconsulta é realizada por chamada de vídeo, de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h. O indígena que precisa de qualquer orientação ou atendimento de saúde deve agendar pelo telefone (61) 2028-5422, que também funciona como Whatsapp. Primeiro, ele passa por um acolhimento virtual com equipe interdisciplinar, formada por estudantes, professores e profissionais de diversas áreas, como enfermagem, farmácia, medicina, odontologia, saúde coletiva, psicologia e serviço social.
Com essa visão ampla das necessidades de saúde, o paciente é encaminhado para o cuidado que precisa, podendo ser teleatendimento em saúde mental com psicólogos e psiquiatras, grupos virtuais para troca de experiências com outras comunidades indígenas, cursos on-line para formação de lideranças sobre como lidar com a pandemia e teleconsultas em várias especialidades médicas, como neurologia, cardiologia, pneumologia e reumatologia.
A estudante indígena da UnB Suliete Baré agradece a iniciativa. Ela é formada em engenharia florestal e atualmente faz mestrado em direitos humanos. "Nesse momento de isolamento social, muitos indígenas estão longe de suas famílias. Além da covid-19, temos uma preocupação muito grande com a saúde mental do nosso povo. Esse atendimento sem precisar se deslocar veio em um momento muito importante", conta.
AMBULATÓRIO DE SAÚDE INDÍGENA – O HUB é referência no atendimento à população indígena do Distrito Federal. Desde 2013, o hospital conta com o Ambulatório de Saúde Indígena. O serviço é formado por profissionais de saúde, professores e alunos UnB, a maioria indígena. Eles são responsáveis pelo acolhimento e acompanhamento nas consultas, procedimentos e internação. Esse trabalho facilita o contato entre médico e paciente, já que reduz as dificuldades causadas pelas diferenças culturais.
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