NOVOS ALVOS TERAPÊUTICOS

Em artigo internacional, cientistas levantam a hipótese de uma alternativa que pode diminuir a capacidade inflamatória na superfície das células infectadas

A fosfatidilserina, composto expulso para a membrana externa das células infectadas, seria responsável por ativar cascata de coagulação nos vasos sanguíneos e causar inflamação aguda. Imagem: Reprodução

 

Um artigo científico publicado recentemente por pesquisadores do Laboratório de Neurovirologia Molecular (Neuroviromol), vinculado à Faculdade de Ciências da Saúde (FS) da Universidade de Brasília, na revista Cell Communication and Signaling aponta para a descoberta de um padrão em células humanas infectadas pelo novo coronavírus que pode influenciar no tratamento da covid-19.

 

O trabalho, intitulado Fosfatidilserina de dentro para fora: um possível mecanismo subjacente nas anormalidades de inflamação e coagulação de COVID-19, aborda os principais mecanismos envolvidos no desenvolvimento de inflamação e na origem de anormalidades da coagulação decorrentes da infecção pelo Sars-Cov-2.

 

>> Leia aqui a íntegra do artigo

 

A pesquisa é de autoria dos professores do Departamento de Farmácia da FS Gustavo Adolfo Argañaraz e Enrique Roberto Argañaraz, e da estudante do curso de Farmácia Julys da Fonseca Palmeira. Também tem a participação de outros membros do Neuroviromol, que realiza pesquisas nas áreas de neurologia e virologia molecular, tendo como foco o estudo de mecanismos patogênicos relacionados à neurodegeneração e inflamação.

Enrique Argañaraz vê a hipótese levantada no estudo como um novo caminho para a identificação de outros alvos terapêuticos contra a covid-19. Imagem: Reprodução/UnBTV 

 

DIFERENCIAL DO ESTUDO – Enrique Roberto Argañaraz, um dos coordenadores do Neuroviromol, destacou que o vírus desenvolveu estratégias que possibilitam o aumento de sua infecciosidade, juntamente às complicações clínicas que são características da covid-19, como inflamação aguda grave, conhecida como tempestade de citocinas (ativação desregulada do sistema imune), e anormalidades da coagulação, caracterizadas pela formação de trombos e uma coagulação intravascular disseminada. O que, para os autores do artigo, resultou em obstáculos significativos para o desenvolvimento de terapias moleculares mais eficazes para o tratamento da doença.

 

O estudo observou um padrão nas células infectadas dos pacientes com covid-19: a expulsão da fosfatidilserina (PtdSer), um composto derivado de aminoácidos que normalmente é localizado na membrana interna de células saudáveis. A hipótese dos pesquisadores é a de que, quando movida para o lado externo da membrana celular, a PtdSer manifesta-se como um possível mecanismo subjacente à resposta imunológica inflamatória e ativaria a cascata de coagulação e a inflamação aguda.

 

As condições que auxiliariam nessa movimentação da PtdSer para o lado externo da célula podem ser a ativação de plaquetas, anoxia (diminuição na quantidade de oxigênio presente no sangue), senescência de hemácias, ativação ou morte celular e infecções bacterianas e virais. Segundo Argañaraz, é um mecanismo que aumenta a infecciosidade de vários vírus envelopados e com RNA, como os vírus HIV-1, Ebola e flavivírus – a exemplo da dengue e do zika.

 

“Sugerimos que a infecção de células endoteliais [que revestem internamente os vasos sanguíneos] pelo Sars-Cov-2, outro vírus RNA envelopado, induziria à exposição da PtdSer ao lado externo da membrana celular, e assim, ativaria a cascata de coagulação e a inflamação aguda", aponta Argañaraz.  

 

Esse processo resultaria na expressão aumentada da protease ADAM17, conhecida por desempenhar um papel na liberação de uma grande variedade de componentes críticos no processo inflamatório durante a infecção por Sars-Cov-2. "A exposição da PtdSer ao lado externo da membrana celular ativaria a protease ADAM17, a qual promoveria a liberação das citocinas inflamatórias TNF-α, EGFR e IL-6R”, disse.

Esquema ilustra modelo de ADAM17 e o caminho superficial da ativação da cascata de coagulação pela externalização da PtdSer. A) A infecção intracelular leva à externalização da PtdSer para a membrana externa, fazendo com que ocorra uma interação com a sequência de ADAM17. B) A exposição da PtdSer na membrana externa pode ativar a via extrínseca da cascata de coagulação, potencializando a ativação do fator tecidual, podendo contribuir para a disseminação da coagulação intravascular observada em pacientes com covid-19. Imagem: Reprodução/Neurovirmol

 

“Por outro lado, a ativação de ADAM17, mediada pela translocação, também poderia agravar a diminuição da expressão da molécula ACE2, essencial na manutenção do sistema renina-angiotensina (SRA) e na proteção dos tecidos cardíaco e pulmonar, contra a inflamação aguda e a coagulação intravascular disseminada”, completou o docente. A proteína ACE2 é a principal receptora do vírus Sars-Cov-2, além de ser muito importante na proteção tecidual contra processos inflamatórios agudos.

 

HIPÓTESE – Com isso, o artigo levanta a hipótese que a inibição da expressão e/ou interação da fosfatidilserina com outras moléculas em superfícies de células infectadas pelo Sars-Cov-2, como a protease ADAM 17, poderia resultar na diminuição da resposta inflamatória aguda e da predisposição à formação de trombos. Logo, pode ser uma alternativa para reduzir a morbidade e mortalidade em pacientes infectados.

 

O grupo envolvido no estudo destaca que ainda estão sendo realizados trabalhos que têm o objetivo de confirmar a hipótese levantada. Para Argañaraz, a ideia abre um caminho de pesquisa na identificação de novos alvos terapêuticos contra a covid-19.

 

>> Confira também: Proteína alfa-antitripsina tem potencial preventivo e terapêutico contra covid-19, apontam pesquisadores da UnB

 

Os integrantes do laboratório também foram responsáveis por outro estudo, publicado na revista Reviews in Medical Virology, sobre a proteína alfa-1-antitripsina (A1AT) na prevenção e no tratamento contra a covid-19. Uma das observações dos cientistas diz respeito a seu potencial anti-inflamatório e protetivo, sobretudo em um dos quadros mais severos da doença: a síndrome respiratória aguda grave.

 

Leia também: 

>> Editais de auxílio alimentação e de apoio à inclusão digital recebem inscrições até 5 de fevereiro

>> Departamento de Matemática promove atividades da tradicional Escola de Verão

>> HUB começa a vacinar colaboradores contra a covid-19

>> Disciplina alia ciência à busca pelo autoconhecimento

>> UnB disponibiliza ultracongeladores ao GDF

>> Mais de 81% dos estudantes pediram matrícula em disciplinas

>> Procap encerra 2020 com mais de 1.300 servidores da Universidade de Brasília capacitados

>> Estudantes da UnB criam projeto que oferece aulas gratuitas para o PAS

>> Pai da futura vice-presidente dos Estados Unidos atuou na UnB 

>> HUB recebe 15 pacientes de Manaus com covid-19

>> Consuni aprova a indicação de novos decanos para gestão 2020-2024

>> Especialistas comentam: as vacinas contra covid-19 são seguras?

>> UnB divulga guia de recomendações para prevenção e controle da covid-19

>> Cepe aprova resolução com regras para o próximo semestre

>> Iniciada segunda rodada da pesquisa social com a comunidade acadêmica acerca do semestre remoto

>> Artistas apoiam mobilização da Universidade de Brasília por recursos contra a covid-19

>> Em webinário, DPI lança portfólio e painéis com dados sobre infraestrutura de pesquisa e inovação da UnB

>> Webinário apresenta à sociedade projetos de combate à covid-19

>> Copei divulga orientações para trabalho em laboratórios da UnB durante a pandemia de covid-19

>> Coes publica cartilha com orientações em caso de contágio pelo novo coronavírus

>> UnB cria fundo para doações de combate à covid-19  

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.