JUBILEU DE OURO

História do Campus vai ser contada em site e documentário

Jornal-laboratório da UnB é o mais antigo em circulação do Brasil. Arte: Divulgação

 

Reunir disciplinas de jornalismo em um laboratório único e recriar a experiência vivida em uma redação de jornal. Uma ideia, que parece simples, foi uma revolução, há 50 anos, quando o jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação (FAC) da UnB, o Campus, foi criado.

 

Para celebrar esta data marcante, estudantes da FAC colheram, ao longo de dois meses, depoimentos de ex-alunos para serem divulgados nas redes sociais e compilados em site. O material também irá compor um documentário e um suplemento especial, a ser lançado no próximo dia 10. As celebrações poderão ser acompanhadas no canal do jornal Campus no YouTube.

 

SURGIMENTO – O Campus, que é o jornal-laboratório mais antigo em circulação no Brasil, foi criado em 1970 pelos professores Luiz Gonzaga Motta, Salomão Amorim e Manoel Villela Magalhães, num esforço de criar uma convergência entre as disciplinas práticas do jornalismo, no então chamado Curso em Bloco de Jornalismo.

 

"Tínhamos dificuldade para fazer o Campus porque as disciplinas eram isoladas entre si. Cada uma tinha sua existência própria e muito orgulhosa de si. Havia um programa de ensino e era complicado fundir essas disciplinas para que os alunos pudessem trabalhar numa situação real de vida do jornal”, conta Salomão Amorim, que, além de ser um dos fundadores do periódico, é professor emérito da UnB.

Salomão Amorim é um dos criadores do Campus e professor emérito da UnB. Foto: Heloíse Corrêa/Secom UnB

 

Vencida a barreira da criação do bloco de disciplinas, surgiram situações mais específicas referentes à estrutura necessária para a implementação de um jornal-laboratório. “Era necessário ter uma redação, máquinas de escrever, máquinas fotográficas, um laboratório fotográfico e não fazia parte da cultura da Universidade ter esse tipo de recursos”, relembra Amorim.

 

>> Saiba mais: Palmas para aquele que ensina

 

As dificuldades de recursos e equipamentos não impediram que o Campus fosse destaque por seu jornalismo de excelência, reconhecido por prêmios como o Ayrton Senna de Jornalismo, em 1998, e o Líbero Badaró, em 2001.

 

ATUALIDADE Para Solano Nascimento, um dos professores responsáveis pelo jornal desde 2007, as premiações estão diretamente ligadas ao investimento em grandes reportagens. “Esse investimento vem de muitas décadas. As reportagens que renderam prêmios são todas reportagens em profundidade, que foram pensadas e planejadas. Muitas delas implicaram viagens. Ou seja, é um investimento no modo básico e tradicional de fazer jornalismo por meio da reportagem”, conclui.

 

Para Solano, mesmo fora do cenário dos grandes prêmios, o jornal se destaca pela qualidade das reportagens produzidas. “Em 2009, na celebração dos 30 anos da anistia no Brasil, fomos ao Ceará procurar um torturador da polícia federal que era o recordista em denúncias de tortura. Nós o encontramos, descobrimos que estava trabalhando em um cargo público, e fizemos toda uma série de entrevistas com pessoas que o acusavam de ter comandado torturas contra elas e todo um levantamento muito grande em relação ao período da ditadura militar”, relembra.

 

TRANSFORMAÇÕES – Apesar de guardar o modo tradicional de fazer reportagens, o Campus acompanha as mudanças e transformações do tempo em que está inserido. Sejam transformações sociais, políticas e mesmo de tecnologia. “O Campus cobriu a campanha das Diretas. Entrevistou o Lula quando ele era deputado constituinte, entrevistou o Fernando Henrique quando ele era senador”, lembra a professora Márcia Marques, que entrou na Universidade em 1997 para ministrar a disciplina do jornal-laboratório.

 

“Tínhamos um computador e uns 300 disquetes, todos com vírus, que era onde a gente fazia o jornal. A minha chegada para a redação do Campus coincide com a informatização do jornal, que eu e [o professor] David Renault fizemos juntos”, conta. Na época, assim como na criação do periódico, recursos para a criação de laboratórios com equipamentos de comunicação eram inexistentes e a iniciativa era o que ditava os caminhos para se conseguir o material necessário.

 

“Não tinha grana para informatizar, mas como é que se cria uma redação informatizada sem computador? A gente descobriu que tinha uma norma da Receita Federal, em que era possível pegar materiais que fossem apreendidos de contrabando. Com isso, conseguimos ganhar um monte de cacarecos nos lotes, onde vinham coisas que queríamos e coisas que não serviam para nada. Um servidor da FAC, chamado Júnior, conseguiu trocar todos os cacarecos e nós transformamos sucata em 40 computadores e construímos a redação”, relembra Márcia.

Solano Nascimento é um dos professores responsáveis pelo Campus desde 2007. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Junto com as transformações tecnológicas, chegaram as mudanças sociais, numa universidade que viu seu corpo discente se transformar com a chegada das políticas de cotas raciais e sociais.

 

“Temos visto, nos últimos anos, um reflexo muito grande dessas mudanças sociais nas pautas do Campus. A questão das cotas raciais e, mais recentemente, os temas sociais trouxeram uma variedade de pautas muito grande para o Campus. O olhar do jornal para grupos excluídos, para minorias e para problemas de cidades-satélites é muito mais presente do que era anos atrás”, observa Solano Nascimento.

 

ESTUDANTES – A experiência transformadora do jornal-laboratório na vida dos jornalistas está reunida em séries de depoimentos que estão publicadas nas redes sociais criadas em comemoração aos 50 anos do Campus: Instagram (@campus50anos) e Facebook.

 

A jornalista Giuliana Morrone conta que entrevistou, em 1987, o senador Antônio Carlos Magalhães, mas a equipe não ficou satisfeita com a entrevista. “A gente achou que ficou meio ‘chapa branca’, entendeu? Queríamos ter pressionado mais, ter apertado mais o ACM”, relembra.

 

Já a jornalista Ana Rita Cunha conta que a primeira vivência na função de editora foi no jornal. “Foi muito interessante ter essa experiência de, pela primeira vez, editar o texto de alguém, entender o que é editar. Ter contato com um projeto inteiro de jornalismo te dá coragem para também fazer os seus próprios projetos”, elabora.

  

Leia também:

>> Livro de professor da UnB com análise sobre desigualdade racial e acesso à renda é premiado 

>> Iniciada segunda rodada da pesquisa social com a comunidade acadêmica acerca do semestre remoto

>> Inscrições abertas para jornada França-Brasil de jovens pesquisadores

>> Reitora Márcia Abrahão fala sobre conquistas do primeiro mandato e desafios para os próximos quatro anos

>> Apoio institucional: estudantes seguem produção de conhecimento durante semestre letivo remoto

>> UnB manterá aulas em modo remoto no próximo semestre

>> Fórum avalia reorganização institucional decorrente da pandemia de covid-19

>> Projeto vinculado ao Coes lança revista em quadrinhos para divulgar medidas de combate à covid-19 na UnB

>> Programa de extensão lança campanha de Natal para fomentar a solidariedade em tempos de pandemia

>> Técnicos da UnB contribuem para manter a UnB ativa em tempos de pandemia

>> UnB tem 25 pesquisadores entre os mais influentes do mundo

>> Artistas apoiam mobilização da Universidade de Brasília por recursos contra a covid-19

>> Em webinário, DPI lança portfólio e painéis com dados sobre infraestrutura de pesquisa e inovação da UnB

>> Cientista político e cofundador do Ceam, Nielsen de Paula Pires é novo emérito da UnB

>> Com criatividade e inovação, docentes reinventam ensino e pesquisa na pandemia

>> Professoras em licença-maternidade terão prazo maior para credenciamento e recredenciamento na pós

>> Relatório apresenta resultado de autoavaliação da Universidade de Brasília em 2019

>> Campanhas de solidariedade da UnB continuam contando com você

>> Webinário apresenta à sociedade projetos de combate à covid-19

>> Copei divulga orientações para trabalho em laboratórios da UnB durante a pandemia de covid-19

>> Coes publica cartilha com orientações em caso de contágio pelo novo coronavírus

>> UnB cria fundo para doações de combate à covid-19  

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.