O webinário de encerramento da 20ª Semana Universitária da UnB (Semuni) trouxe as noções de democracia, cidadania, justiça social e poder econômico para o centro do debate, transmitido pelo canal da UnBTV no YouTube. Com o título Estado democrático na construção de um país mais justo e igualitário, os pesquisadores convidados traçaram um panorama destes elementos na constituição do cenário atual no Brasil e delinearam possíveis caminhos para o futuro. Mediada pela jornalista Renata Mielli, do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), a mesa virtual teve mais de 1.200 visualizações ao vivo.
A historiadora, cientista política e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Heloísa Starling deu início aos debates e apresentou sua percepção sobre a falta de comprometimento do país com as consequências do passado escravista do Brasil.
“[O país] não pode abandonar a oportunidade que nós precisamos enfrentar, de encarar os resultados de uma modernização que forneceu apenas uma camada superficial externa de valores democráticos e civilizatórios para recobrir essa sociedade fundada na escravidão, e que é uma sociedade autoritária, violenta, desigual e hierárquica.”
De acordo com a pesquisadora, o Brasil hoje passa pelo problema que ela chamou de “falta de imaginação de futuro”, decorrente da falta de um projeto de país. Para Heloísa, está em curso um sistema que tem como objetivo enfraquecer as instituições democráticas e de gestão pública, “seja pela ação de figuras medíocres alçadas a cargos de chefia e cargos administrativos estratégicos, ou por cooptação”, explicou.
Para conter este enfraquecimento, a solução apresentada por Starling é a reação da sociedade. “Como as instituições não se defendem sozinhas, se não há reação da sociedade, as nossas alternativas não são boas: as instituições podem se apequenar, a paralisia se manter indefinidamente, ou, no limite, as instituições podem se comportar no sentido oposto àquele para as quais elas foram criadas”, frisou.
ELEMENTO CENTRAL – A socióloga e pesquisadora Sabrina Fernandes apresentou a questão da cidadania como central quando o assunto é democracia. “Frequentemente quando vamos definir democracia e estado democrático de direito, se passa pela ideia de quem é o cidadão, quem tem cidadania. Por mais que tenhamos uma constituição que estabelece quem é cidadão, a maioria da nossa população nunca foi digna de receber o status de cidadão, porque o acesso não lhe é garantido”, disse.
Apesar de estabelecer uma relação direta entre cidadania e poder econômico, a socióloga frisou que o acesso a um emprego estável, por exemplo, por si só, não é garantia de acesso à cidadania. “Eu diria até que quem pensa que tem acesso a sua cidadania porque tem um emprego estável, também não consegue conduzir os rumos da sociedade. Então, se não podemos conduzir o rumo da sociedade, temos uma limitação do que é considerado cidadania,” concluiu.
PODER ECONÔMICO – O escritor e economista Eduardo Moreira estabeleceu uma relação direta entre as medidas econômicas tomadas pelo governo atual e a manutenção do projeto de poder daqueles que detêm o acúmulo de capital.
"O sistema financeiro no Brasil existe para criar um fosso entre aqueles que têm capital e os que não têm. Porque independente da taxa de juros, o pobre pega dinheiro emprestado sempre numa taxa de juros maior do que o que ele consegue gerar de riqueza tendo capital, logo ele nunca vai poder comprar sua fatia de capital e poder produzir. Como você pode comprar uma terra para produzir nessa terra e ser dono da sua própria terra, se o dinheiro que você pega emprestado vem a 50% ao ano e o que você consegue produzir vem a 15, 20, 30% ao ano? A conta não fecha. Você é obrigado a trabalhar para o dono da terra, nas condições que ele exige.”
De acordo com Eduardo, medidas como as reformas trabalhista e da previdência e a diminuição do estado objetivam aumentar a oferta de mão de obra e reduzir a capacidade dos trabalhadores terem melhores condições de trabalho.
“Primeiro, interrompe-se a capacidade do estado investir, para que tudo vá para a iniciativa privada. Depois, tira-se a possibilidade de as pessoas usarem a mão de obra como instrumento de barganha, com uma reforma trabalhista. Enfraquece-se os sindicatos, dificulta-se as greves, míngua a justiça trabalhista. Por fim, você passa uma reforma da previdência, fazendo a pessoa ter de trabalhar até o resto da vida”, disse.
SEMUNI – A decana de Extensão, Olgamir Amância elogiou os esforços de estudantes, professores, técnicos e gestores na realização da 20ª edição da Semana Universitária, e apresentou os números que a edição alcançou.
“Foram mais de 1.100 ações, confirmando o compromisso da UnB com a formação do sujeito integral. Nós obtivemos 26 mil inscrições neste processo da Semuni. E já alcançamos mais de 120 mil visualizações nas nossas agendas. Os números são reveladores de que esta é uma semana universitária vitoriosa”, comemorou.
A reitora Márcia Abrahão Moura, celebrou o sucesso da Semuni e reafirmou o compromisso e os esforços da UnB para superar a pandemia de covid-19, por meio da pesquisa.
“Quero ressaltar que a Universidade tem atuado diuturnamente para que possamos ultrapassar essa situação de emergência em saúde, com base em nossa pesquisa e com a nossa solidariedade com as pessoas que têm sofrido com a pandemia”, disse.
Confira aqui íntegra do webinário de encerramento:
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