Nesta segunda-feira (29), foi celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, data que marca a importância da diversidade, e dá relevo às lutas e conquistas das pessoas transexuais, travestis e transgêneros. A programação da Universidade de Brasília contou com hasteamento da bandeira trans na entrada da Reitoria e com roda de conversa na Casa do Estudante Universitário, no campus Darcy Ribeiro.
O debate aberto à comunidade reuniu representantes de coletivos da UnB, membros da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) e estudantes de diferentes cursos e níveis de graduação, para promover o diálogo sobre direitos desta população. “Essa semana da visibilidade trans tem como objetivo realmente amplificar a voz dessas pessoas”, pontuou Célia Selem, coordenadora LGBTQIA+ na SDH.
“Vejo que, apesar dos avanços, as pessoas trans ainda sofrem os efeitos da cisheteronormatividade, como falta de acesso às políticas de saúde, educação e trabalho”, destacou. “No contexto universitário, o rompimento dos vínculos familiares e comunitários, que são decorrentes da transfobia, tem como consequência prejuízos acadêmicos e evasão”, discorreu Célia.
A coordenadora relembra a relevância de criar políticas específicas, como, por exemplo, o Programa de Atenção à Diversidade (PADiv). Implementado pela UnB há alguns anos, ele possibilita a destinação de auxílio emergencial a estudantes em situação de rompimento de vínculo familiar, independente da renda.
HISTÓRIAS – Mesmo com as ações da UnB contra a transfobia e a discriminação, a caminhada de pessoas trans ainda é difícil. Vivência de preconceitos, de práticas transfóbicas e de violências foram compartilhadas durante a conversa. Além delas, expectativas de melhorias e possibilidades para o futuro.
Estudante de Música, Liam Alves leciona em escola de educação básica, por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) da UnB. Como trans masculino, ele relatou sua experiência.
“Ser um professor trans dando aula pra criança é complicado, pois muitas vezes elas reproduzem os preconceitos que veem em casa”, conta. Para ele, esse tipo de diálogo é de total importância. “Não tem muitas pessoas trans no meu departamento, por isso, esse encontro me ajuda a lembrar que a gente não está sozinho, que temos rede de apoio, que há pessoas que passam pelo que eu passo”, reflete o estudante.
“Eu faço Geologia e vejo como um dos desafios, enquanto uma mulher trans, a falta de diálogo sobre o tema em muitos cursos, além de não haver presença de outras pessoas trans também ”, comenta a estudante Anu Rodrigues. “Essa data nos permite conhecer umas às outras, pois, na maior parte do tempo, ficamos num lugar obscuro, sem poder compartilhar nossas questões e cicatrizes, que vão muito além de uma bandeira”, afirma a discente.
MARCO – O Dia Nacional da Visibilidade Trans, que completa duas décadas de existência em 2024, representa um marco na luta por respeito e cidadania para pessoas trans, travestis e não-binárias. No entanto, apesar dos avanços, persiste a necessidade de progresso significativo para combater as violências e as violações de direitos humanos enfrentadas por essas comunidades.
A pesquisa anual Dossiê: Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras, realizada pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), revelou dados alarmantes de 2022. O Brasil foi, pelo 14º ano consecutivo, o país lider em assassinatos de pessoas trans, totalizando 151 mortes, sendo 131 por homicídio e 20 por suicídio. Além disso, foram registradas 142 violações de direitos humanos.
A expectativa de vida de transexuais, conforme destaca a Antra, é de aproximadamente 35 anos, menos da metade da média nacional, que era de 75,5 anos em 2022, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esses números reforçam a urgência de ações efetivas para combater a discriminação e promover uma sociedade inclusiva e respeitosa, de fato.