EXCELÊNCIA

Em outubro, Instituto de Psicologia oferta curso nacional de aperfeiçoamento para professores na área de altas habilidades

Primeiro curso nacional da UnB para capacitar professores de escolas públicas sobre o tema de altas habilidades, em parceria com o Ministério da Educação. Imagem: Divulgação

 

Qual problema pode haver em ser superdotado? Para muitos, parece apenas uma bênção ter altas habilidades, mas a realidade é diferente do que muitos imaginam. Falta de informação, despreparo de profissionais e estereótipos equivocados são apenas algumas das adversidades enfrentadas por essas pessoas.

Com o objetivo de ampliar e contribuir com o desenvolvimento da educação inclusiva, em outubro, o Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia (IP), em parceria com o Ministério da Educação, realiza o primeiro curso nacional de aperfeiçoamento de professores da rede pública de ensino, na área de altas habilidades e superdotação.

“A criança superdotada é público-alvo da educação especial, tanto quanto às que têm deficiência ou transtorno global de desenvolvimento. Elas têm direito de ter um atendimento adequado às suas demandas e por isso essa formação dos professores é essencial”, salienta Renata Muniz Prado, professora do IP e coordenadora do curso.

Professora Renata Muniz Prado representou a UnB na implantação da Frente Parlamentar de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente com Altas Habilidades/Superdotação, na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Foto: Arquivo Pessoal

 

O curso de 180h será à distância e terá a duração de seis meses, com a oferta de 500 vagas em âmbito nacional. Os interessados podem se inscrever por meio do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA), até o dia 8 de outubro.

A aula inaugural acontece em 10 de outubro, com palestra da professora Denise Fleith, primeira sul-americana a assumir a cadeira da presidência do Conselho Mundial para Crianças Superdotadas e Talentosas (WCGTC, sigla em inglês).

SUPERDOTAÇÃO – São definidas pessoas com superdotação aquelas que apresentam um elevado potencial intelectual, acadêmico, de liderança, psicomotor ou artístico, de forma isolada ou combinada. Mas, há outros aspectos que devem ser levados em consideração para a avaliação, que não estão ligados à inteligência acima da média ou ao QI elevado.

“A teoria mais utilizada para avaliação de um superdotado é a dos Três Anéis de Renzulli, que compreende três componentes: habilidade acima da média, criatividade e envolvimento na tarefa”, diz Denise Fleith.

Mas, para entender o que de fato são as altas habilidades, é preciso dizer que ela não é deficiência, transtorno ou uma condição neurológica, neurodivergente, neuroatípica ou de neurodesenvolvimento. Além disso, não é um fenômeno inato.

“Você não nasce e permanece a vida inteira assim, sem a ajuda de um processo, sem recursos para o desenvolvimento dessa habilidade”, afirma a docente. “A superdotação envolve, sim, as características do indivíduo, mas também do ambiente. Esse talento necessita ser alimentado e desenvolvido, por meio de estímulo e incentivos”, reitera a professora associada do IP.

Entre estereótipos e desafios, Renata aponta que a inclusão, identificação e acolhimento, principalmente no contexto escolar, são muito importantes. “Imagina como é difícil para alguém que quer aprender mais, que está motivada para aprofundar seus conhecimentos, ter que ser limitada ou precisar seguir um currículo escolar único, que pouco atende às diversidades”, exemplifica.

“A sociedade não valoriza nossas conquistas, qualidades e realizações. Por isso, muitas pessoas escondem suas habilidades com medo de serem excluídas”, expõe Renata. Segundo ela, os desafios da criança superdotada não são inerentes à superdotação, mas sim ao ambiente que não sabe lidar com suas características e necessidades, por isso a importância da formação.

Referência no assunto em escala nacional, o curso é apenas uma parte do trabalho de décadas dentro da temática. A Universidade é parceira antiga da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF), que conta com salas de recursos, onde profissionais capacitados incentivam o potencial dos que se encaixam no fenômeno.

Enquanto o órgão possui ações para os alunos, a UnB oferta grupos de apoio aos pais, palestras e cursos, capacitações de profissionais e pesquisas. “Essa parceria é de fundamental importância para que as ações na área não sejam pautadas em senso comum, estereótipos e intuição”, analisa a coordenadora.

“Essa cooperação facilita a tomada de decisão dos educadores e gestores, evitando ambiguidades na identificação das melhores práticas para sua instituição, contribui para o avanço na área, por meio pesquisas e estudos”, reforça. A Universidade possui diversos projetos de pesquisa, ensino e extensão junto à SEEDF, como o Dia Distrital da Pessoa com Altas Habilidades e o UnB Kids.

A professora Maria Luz e os três filhos, avaliados com altas habilidades. Eduarda tem superdotação principalmente na área artística, Murilo em na liderança e Enrico na área acadêmica. Foto: Arquivo pessoal. 

 

NA PRÁTICA – “É verdade que ainda há falta de informações e de profissionais qualificados. Muitas famílias têm avaliações equivocadas, o que dificulta a avaliação e às vezes impossibilita o acesso às condições necessárias para o desenvolvimento do potencial deles”, afirma Maria Luz, mãe de três crianças superdotadas.

A trajetória dela teve início com a primogênita, Eduarda, de 16 anos, que sempre apresentou precocidade na fala e no desenvolvimento artístico. Mas, a avaliação só veio com o segundo filho, Murilo, de 13 anos. “Quando ele tinha oito anos a escola sugeriu que ele fizesse uma avaliação para a possibilidade dele ter déficit de atenção, pois não parava quieto”, relembra.

“A psicóloga constatou a superdotação, mas se eu tivesse encontrado outro profissional, poderia ter um diagnóstico errado e estar trabalhando um transtorno e não a potencialidade”, expõe. Hoje, os dois fazem atendimento na sala de recursos e o caçula, Enrico, de 8 anos, fez aceleração, outro recurso possível para manter a estimulação de superdotados.

“A UnB realmente é referência no assunto e me ajudou muito no início. As famílias não conseguem entender essa complexibilidade sem apoio”, relembra. “Eu participo de um grupo de mensagem criado pelas professoras (Denise e Renata) e também do acolhimento na Universidade, que teve encontros, palestras, leitura de livros e muito apoio”.

Palestra no Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep), com professora da SEEDF, em comemoração ao Dia da Pessoa com Altas Habilidades. Foto: Arquivo Pessoal

 

POTENCIAL – Segundo as professoras, o Brasil pode ter um potencial ainda não descoberto de superdotados. No país há apenas 0,1% de crianças identificadas como superdotadas, mas o número real pode ser ainda maior.

“Como é um grupo em que se predomina muito estereótipo e ideias errôneas, é imprescindível a formação de profissionais da educação que certamente irão lidar com esse público, que pode chegar a até 10% da população”, revela Renata Muniz, que coordena o curso de formação de professores.

Ela aponta que, dos cerca de 48 milhões de matrículas na educação básica brasileira, apenas 48.133 foram registrados como superdotados no Censo Escolar de 2020. Já em 2022, apenas 26.815 alunos possuíam matrícula na educação especial.

As pesquisadoras apontam que os números estão sub-representados, sendo que muitos alunos são invisibilizados ou não identificados corretamente. “Muitos professores não percebem essas habilidades e na avaliação, muitas vezes, o profissional faz o diagnóstico de hiperatividade, déficit de atenção ou até mesmo TEA, quando na verdade é altas habilidades”, sugere Denise.

 

O que é superdotação?

 

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