Serviços como limpeza, tratamento de cárie e canal foram oferecidos no Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB/Ebserh) a cerca de 170 pacientes do Projeto Diabetes, do Departamento de Odontologia (ODT/FS/UnB), entre fevereiro e meados de março. O Mutirão de Atendimento Bucal contemplou pessoas diabéticas que necessitavam de assistência odontológica e haviam sido previamente cadastradas. Ao longo do semestre, os atendimentos seguirão, dado que o mutirão ocorreu para diminuir fila de espera preexistente.
O Projeto Diabetes atua nas áreas de pesquisa e de extensão. Multidisciplinar, envolve pesquisadores e cirurgiões-dentistas de diferentes especialidades da Odontologia e da Enfermagem, além de estudantes de graduação e pós-graduação. É coordenado pelas professoras Maria do Carmo Guimarães, responsável pela parte de extensão; Nailê Damé Teixeira, responsável pela pesquisa; e Solange Baraldi, vice-diretora da Faculdade de Ciências da Saúde (FS/UnB) e representante do Departamento de Enfermagem no projeto.
“A ação tem propósito de investigar e tratar as complicações bucais do diabetes mellitus, integrando conhecimentos da ciência básica e da prática clínica. Já o Mutirão de Atendimentos é uma iniciativa de extensão que visa aprimorar o cuidado dos pacientes, para proporcionar alta odontológica a aproximadamente um terço dos participantes cadastrados durante a fase de recrutamento para o estudo”, explica Nailê Teixeira. Além disso, a atividade cria oportunidade aos estudantes de graduação e pós-graduação para participar de atividades para além dos seus cursos.
É financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), desde 2017. Naquela época, foram avaliados 52 pacientes por análise salivar. Os resultados identificaram caracterizações específicas de pacientes com diabetes e deram base a um financiamento maior para mais estudos. Agora, é financiado via Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), por meio do HUB.
PESQUISA & EXTENSÃO – A parte clínica visa oferecer atendimento para a comunidade como forma de complementar o conteúdo aprendido em sala de aula. Já o atendimento dos pacientes, em especial a coleta dos dados de saúde e de tratamento, possibilita a realização de pesquisas. “A gente alia a extensão via o atendimento desse paciente diabético, que precisa do tratamento odontológico, convidando-o a se inserir em alguma das pesquisas da nossa linha de pesquisa”, ressalta a docente Maria do Carmo.
Ponto muito positivo também para os estudantes, que têm a oportunidade de multiplicar o aprendizado de sala de aula diretamente na prática. Permite ainda o ingresso na área de pesquisa. “Já ouvia falar do projeto quando entrei na Odontologia. Eu me interessei pela pesquisa científica e minha orientadora, a professora Nailê, me convidou para participar. Me apaixonei pela pesquisa e agora estou estudando sobre influência da perda dentária na diminuição do consumo de fibras e no aumento do consumo de carboidratos com consequente alteração de triglicerídeos em pacientes de diabetes tipo dois”, compartilha Júlia Munduri, estudante do 6º semestre de Odontologia.
FONTE DE DADOS DE PESQUISA – Os integrantes do Projeto Diabetes realizam trabalho em grupo dividindo as responsabilidades para coleta e gestão das informações, que se tornarão dados para as pesquisas: do acolhimento inicial do paciente, com questionário e exames preliminares, durante os procedimentos e após a alta.
“Temos pessoas no projeto que estão realizando pesquisa sobre alimentação dos pacientes, outras que estão pesquisando saúde bucal. É um trabalho grande, então, tudo que coletamos é usado para pesquisa. Eu, por exemplo, estou pesquisando sobre a ureia, mas a minha participação é a coleta dos dados antropométricos”, compartilha Israel Lacerda, estudante do 9º semestre de Enfermagem e aluno do Programa de Iniciação Científica (ProIC).
As atribuições são divididas entre professores e estudantes dos cursos de Odontologia, Nutrição e Enfermagem. “Inicialmente, o paciente é acolhido pela equipe de professores da Odontologia e docentes e discentes de Enfermagem para realizar as medidas de sinais vitais, controle antropométrico e glicêmico relacionados à possibilidade da condição de diabetes, pré-diabetes ou ausência de comorbidades prévias. A pessoa sana dúvidas e recebe orientações sobre aspectos relevantes para o autocuidado, como dicas sobre a dieta a ser seguida”, detalha a professora Solange.
Larisse Alves, aluna do programa de pós-graduação em Odontologia, é uma das estudantes que está fazendo pesquisa enquanto participa do projeto. Como também é formada em Nutrição, contribui com orientações sobre alimentação aos participantes e une as duas áreas em sua pesquisa.
“Analiso o consumo dietético dos participantes e associo com perdas dentárias e lesões não cariosas. Ano passado, conseguimos fazer análise estatística com metade da amostra e observamos que pessoas com menos de 20 dentes acabam consumindo mais carboidratos. O que é um problema, pois o aumento deste consumo pode levar a mais cáries e resultar em mais perdas dentárias”, destaca. Sendo assim, o tratamento odontológico realizado pelo programa ajuda também a prevenir futuros prejuízos à dentição.
COMO PARTICIPAR – A atividade traz mudança de vida para quem participa, graças a toda atenção e orientação, que vão além do cuidado bucal. “As minhas condições financeiras não me permitem realizar o tratamento na rede particular. Então, foi muito bom quando vim aqui. Estou realizando todo o tratamento aqui, e tem sido essencial para a minha alimentação como pessoa diabética. O tratamento tem sido muito importante para a minha saúde e a dos outros que são atendidos”, conta a paciente Ducilne Bispo, de 40 anos.
Essa edição do mutirão atendeu 170 pessoas que foram convocadas em 2023. Os participantes foram recrutados através da demanda de pessoas com diabetes que procuraram a Unidade de Saúde Bucal e por convites realizados com auxílio da Gestão de Pesquisa e Inovação do HUB, que apoia o projeto. Entre os serviços ofertados estão a remoção de focos infecciosos para devolver a saúde bucal. “Fazemos tratamentos de gengiva, restaurações de cárie e outras lesões dentárias, hipersensibilidade dentária, extrações e tratamentos de canal. Alguns pacientes que apresentaram alterações nos exames de saliva também foram convidados para receber tratamento experimental de estímulo das glândulas salivares”, descreve Nailê.
Um novo mutirão está previsto para junho deste ano para atender parte de pacientes do grupo de 2023. Novos pacientes devem entrar em fila de espera e serão chamados conforme abertura de novas vagas. Interessados em participar devem se direcionar à recepção da Ala Odontológica do HUB e deixar o nome na fila.