INCLUSÃO

Iury Moraes também foi protagonista no ingresso à instituição e graduou-se em Língua de Sinais Brasileira – Português como Segunda Língua

Cerimônia de colação de grau de Iury Moraes foi realizada por videoconferência em agosto e presidida pela diretora do IL, Rozana Naves. Foto: Arquivo pessoal

 

"Como fui o primeiro surdocego, tive que lutar para conseguir meus direitos, para que outros também possam [entrar e graduar-se na Universidade]", afirma Iury Moraes, o primeiro estudante surdocego a ingressar na Universidade de Brasília, em 2016. Ele conquista agora mais uma realização, sendo também o primeiro com a deficiência a se formar na UnB, pelo Instituto de Letras (IL).

 

Em função da pandemia de covid-19, a cerimônia de colação de grau foi realizada por videoconferência, em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Para o recém-graduado, a satisfação é muito grande, pois foram muitos os desafios para conseguir ser aprovado no curso de Língua de Sinais Brasileira – Português como Segunda Língua.

 

"Não foi fácil concluir os quatro anos de faculdade, mas participei de várias atividades e organizei meu próprio cronograma para acompanhar a turma", assegura.

 

Apesar das dificuldades, Moraes reconhece a oportunidade de ingressar em uma instituição pública quando prestou o vestibular. "É importante ter objetivo, foco e responsabilidade para cumprir as disciplinas e obrigações do curso." Sobre o sentimento que ficou durante a colação, ele diz: "me senti muito feliz e alegre porque venci esta etapa".

 

Iury Moraes quer ser professor para pessoas com deficiência e ouvintes que sabem Libras. Em sua opinião, ele está preparado para atuar profissionalmente e o curso foi muito produtivo, mas considera que ainda é preciso ter mais intérpretes e guias, assim como Libras tátil.

 

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"No meu futuro, espero continuar estudando, tentar o mestrado e doutorado, mas conciliando com o trabalho de professor", almeja o graduado. Uma ideia de pesquisa é estudar e aprimorar métodos inclusivos de avaliação para todos os tipos de deficiência.

A mãe Elemregina Moraes é também intérprete e grande incentivadora de Iury. Foto: Arquivo pessoal

 

ACESSIBILIDADE – Para Iury Moraes, como primeiro surdocego da instituição, foi preciso reivindicar algumas ações para ter seu direito garantido. "Entendo que a minha chegada exigiu novas demandas, então tive que ter um pouco de paciência para aproveitar a oportunidade e promover atitudes. Lutar gera mudanças", reflete.

 

O suporte da Coordenação de Apoio às Pessoas com Deficiência (PPNE) a suas necessidades foi fundamental. "Para garantir a inclusão no ensino superior, há que se estimular maior participação de pessoas com deficiência, organizando melhor os programas de apoio. É importante também que os universitários tenham mais contato com surdocegos e intérpretes", opina.

 

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Como mensagem para aqueles que desejam seguir seus passos, Moraes destaca que "o universitário precisa participar dos projetos da Universidade, interagindo socialmente e buscando se autoincentivar. O mundo oferece possibilidades de encontrar o caminho certo".

 

Diretora do IL, Rozana Naves considera que a formação de Iury possibilitou à instituição um envolvimento efetivo para enfrentar os desafios cotidianos da acessibilidade em todas as suas dimensões: linguística, pedagógica e de infraestrutura humana e física. "A vitória dele é, também, dos estudantes surdocegos que chegaram depois e já encontram um corpo docente, discente e técnico mais capaz de lidar com a inclusão da pessoa com deficiência", sintetiza a docente.

 

DEFESA EM LIBRAS – No mês em que se comemora o Dia Nacional dos Surdos, conhecido como Setembro Azul, a estudante Luísa Bandeira Coelho defendeu dissertação em Libras, pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura (PPGPsiCC). Com o título A saúde é para todos? Experiências de pessoas surdas no acesso à saúde, a recém-mestre conta que todo o trabalho foi realizado de forma bilíngue (Libras/Português).

 

"Eu sou surda, perdi parte da minha audição ao longo da vida e me comunico em português e em Libras, também uso aparelho auditivo e faço leitura labial", conta. Orientada pela professora Larissa Polejack, atualmente diretora de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária do Decanato de Assuntos Comunitários (Dasu/DAC), Luísa Coelho afirma que foi acolhida desde o primeiro momento e incentivada a fazer a pesquisa qualitativa usando um método que permitia acessar as experiências dos usuários surdos dos serviços de saúde inteiramente em Libras.

"A diversidade é um grande ganho para a ciência e para a Universidade", pontua a estudante Luísa Coelho. Imagem: Reprodução

 

Em função de sua experiência como psicóloga surda e bilíngue, foi possível pensar em inovações metodológicas a partir do uso de imagens e do psicodrama. "O maior desafio foi traduzir o discurso dos participantes para a língua portuguesa, já que existem muitas diferenças gramaticais e a expressão faz parte da narrativa, pois dá o tom e a ênfase do que está sendo falado", explica.

 

"Estudei o acesso de pessoas surdas usuárias de Libras à saúde, investigando as experiências dos participantes em qualquer nível de cuidado. A barreira linguística e a falta de comunicação direta dos usuários com profissionais de saúde podem se desdobrar em múltiplas consequências e podem, inclusive, colocar a vida em risco", comenta sobre as principais conclusões do trabalho.

 

Com relação à importância de ter conquistado o título de mestre, a psicóloga salienta a visibilidade e a representatividade: "Quando um surdo, ou qualquer outra pessoa com deficiência, conquista um título de pesquisa, garantimos que a ciência realizada sobre nós também seja feita por nós. Isso combate estigmas e faz com que sejamos vistos e ouvidos nos meios de comunicação e que a semente da promoção de acessibilidade esteja na formação de novos profissionais".

 

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