Marina Simões e Raquel Almeida, ambas estudantes da UnB, subiram ao pódio do Prêmio de Fotografia Ciência & Arte elaborado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). As pesquisadoras conquistaram, cada uma, em 2021 e 2022, respectivamente, o segundo lugar na categoria que contempla imagens feitas por instrumentos especiais.
A premiação seleciona fotos que unem ciência e arte, para popularizar o conhecimento científico. A participação é destinada a estudantes de graduação e pós-graduação. Há também uma categoria para imagens produzidas por câmeras fotográficas.
DE FLORES A JUSTICEIRAS – Com a fotografia nomeada Flor de cravo: do jardim dendrítico, Marina Simões conquistou prêmio em 2021. A estudante conta que se deparou com o retrato durante sua pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Patologia Molecular (PPGPM), da Faculdade de Medicina (FM).
A pesquisa aborda a resposta inflamatória do sistema imunológico em um tratamento contra câncer de pele. A foto premiada foi produzida por microscópio eletrônico de varredura (MEV), capaz de produzir imagens em alta resolução.
A imagem foi batizada de flor de cravo, em razão da semelhança com a planta. Trata-se, em realidade, de uma célula dendrítica que pode ser encontrada na pele e no canal sanguíneo humano e é responsável por identificar corpos estranhos.
Raquel Almeida levou o segundo lugar na edição de 2022 com a fotografia intitulada Macrófago Ceifador: Na Mira da Morte. O resultado foi divulgado agora, no fim de junho. Na imagem, vê-se uma célula do sistema imunológico encarregada de proteger o corpo humano infectado por uma bactéria.
“Eu criei na minha cabeça uma narrativa em que essa célula seria uma justiceira imunológica e, por isso, coloquei a caveira [observável na foto a partir da seleção de cores adotada por Raquel]. As bactérias estariam na mira da morte, pois essa é a função da célula", explica. A foto inscrita na premiação faz parte da dissertação de mestrado de Raquel em Ciências Biológicas, sobre sistema de secreções bacterianas.
Hoje doutora em Biologia Molecular, Raquel Almeida ressalta a dificuldade de encontrar em uma foto científica uma representação que extrapole o objeto real registrado. Para ela, ter se deparado com uma imagem artística de forma não proposital foi um presente.
A pesquisadora conta como foi o processo de colorir a imagem: “coloquei a cor vermelha porque queria mostrar sangue, para representar a ação do ceifador. O verde para conferir contraste visual e mostrar que a caveira está viva. As bactérias, em amarelo, para as pessoas conseguirem visualizá-las”.
OLHAR CRIATIVO – O conhecimento em edição de imagens compartilhado pelas duas foi adquirido na disciplina Photoshop aplicado a imagens científicas, do PPGPM/FM. O professor responsável, José Raimundo Corrêa, explica que a matéria é destinada a estudantes que não conhecem o software.
Para ele, criatividade e percepção individual são diferenciais no momento da edição. “Estimulo o olhar crítico sobre a imagem para a divulgação científica. Para que vá além de uma imagem de dados científicos para inclusão em artigos e teses”, comenta.
O docente destaca que as imagens que concorrem à premiação só podem ser alteradas minimamente. Os participantes podem apenas mudar as cores para aprimorar a visualização das fotografias, de forma que fiquem mais interessantes ao público. A aplicação da coloração, segundo José Raimundo, deve se dar para que as fotos comuniquem, por si só, uma ideia.
A UnB FAZ, A SOCIEDADE VÊ – Raquel Almeida destaca satisfação em devolver para a comunidade, na forma de divulgação científica, a pesquisa desenvolvida na UnB. Ela se junta ao docente José Raimundo Corrêa na avaliação de que as vitórias consecutivas na premiação do CNPq são uma maneira de ampliar o alcance da ciência produzida nas universidades, chegando até o público fora do ambiente acadêmico.
*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.