O anfiteatro 10 do Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília foi pequeno para acomodar todo o público interessado em ouvir, na manhã desta segunda-feira (25), a médica, professora universitária e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Margareth Dalcolmo.
Convidada para falar sobre A visão da ciência no enfrentamento da pandemia e o futuro da saúde no Brasil no primeiro dia de atividades da 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ela traçou um panorama sobre a atuação brasileira no caso da covid-19. Além desta, outras atividades dedicadas ao tema da ciência, tecnologia e inovação ganharam destaque na programação do dia.
>> Assista à palestra na íntegra
“Acho que a comunidade acadêmica brasileira teve uma participação muito pujante a despeito de todas as adversidades e dificuldades que tivemos que vencer”, opinou Margareth. “O Brasil foi o país que mais colocou voluntários nos estudos de fase 3 de vacina. Começamos atrasados, mas conseguimos alcançar uma taxa de cobertura de 80% da população vacinada acima de 60 anos, o que é uma coisa muito boa.”
A pesquisadora da Fiocruz e uma das porta-vozes da ciência no período da pandemia ressaltou que o grande desafio do momento é vacinar as crianças. Além disso, chamou atenção para as consequências da doença, que ainda não são completamente conhecidas.
“Além da tragédia com a alta mortalidade como tivemos no Brasil, temos hoje o grande desafio da covid longa, das sequelas de covid-19, que vão exigir grandes investimentos e organização em serviços de saúde multidisciplinares para tratar dessas pessoas que têm sequelas da doença”, afirmou.
“O Brasil está no momento de reconhecer que o investimento em pesquisa e inovação é a coisa mais nobre que podemos fazer prevendo as novas gerações e profissionais de saúde, pesquisadores e o futuro do Brasil”, arrematou a pesquisadora, que foi ovacionada ao final da palestra.
Miriam Braz, que cursa Agronomia na UnB, gostou de ouvir de Margareth Dalcolmo que é preciso investir em mais pesquisas para contemplar aqueles que tiveram covid-19 e hoje sofrem com sequelas. É o caso dela, que após se consultar com diversos médicos, descobriu que seus lapsos de memória fazem parte do repertório de consequências do coronavírus.
“Fui ao médico há pouco tempo e ele falou que tinha certeza que eu estava com problema neurológico, quando na verdade não era um problema que eu já tinha, foi adquirido como um sintoma pós-covid: o esquecimento. E, por falta de conhecimento, acaba que ficamos com um diagnóstico completamente errado. Acho que a gente precisa explorar mais essa área”, comentou a estudante de 21 anos.
Aluno do curso de Agronegócio na Universidade de Brasília, Ullysses Cruz ressaltou o trabalho excepcional dos pesquisadores envolvidos na produção das vacinas. Segundo ele, foi muito rápido e é preciso continuar estudando para abarcar as novas cepas e doenças correlatas que surgem.
“As pessoas olham e pensam: ‘beleza, estamos na terceira fase dos testes de vacinas para covid’. Mas vamos ter que fazer praticamente do zero porque a covid tem outros sintomas, tem outras anomalias, assim que você tem que estudar", ponderou.
OUTRAS VACINAS E POLÍTICAS – A atuação do país no combate a outras doenças, como as infecções parasitárias, também foi pano de fundo da mesa-redonda Contribuições da ciência brasileira para o desenvolvimento de vacinas antiparasitárias, que reuniu pesquisadores das universidades federais do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, de Ouro Preto e de São Paulo.
Os caminhos da inovação no Brasil e as políticas de ciência, tecnologia e inovação também foram abordadas em outras duas palestras da SBPC.
Para a presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader, que participou de mesa-redonda relacionada aos assuntos na tarde desta segunda (25), é preciso dar mais atenção à formação de pesquisadores no país, porque eles acabam saindo do Brasil em busca de melhores condições de estudo e trabalho.
“O Brasil tem poucos pesquisadores por milhão de habitantes, é dos piores números entre os grandes países da América Latina. Chile, Argentina, Colômbia estão melhores que nós. Preocupa, porque é um impacto no futuro”, afirmou a pesquisadora.
“Mas sou muito otimista. Estou velhinha, mas continuo acreditando que vamos conseguir reverter o quadro. Temos que ter política de Estado, principalmente porque Educação e Ciência são de longo prazo”, finalizou Helena Nader.
>> Quer ficar por dentro do que está rolando na SBPC? Acompanhe o Instagram da UnB
>> Veja imagens do que ocorreu nesta segunda (25) na SBPC
AINDA EM DESTAQUE – O tema da covid-19 seguirá em voga durante a 74ª Reunião Anual da SBPC. Na quarta-feira (27), Pedro Hallal, professor nos programas de pós-graduação em Educação Física e Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), ministra conferência que discutirá o futuro da ciência e tecnologia no Brasil após a pandemia e as políticas e abordará a necessidade de investimento nas áreas.
Já na quinta-feira (28), o assunto será tratado pelo infectologista e pesquisador da Fiocruz Júlio Croda a partir de análise sobre as vacinas desenvolvidas e das novas tecnologias para combater variantes recentes.
PARTICIPE – A programação do maior evento científico da América Latina segue até sábado (30), com atividades on-line, transmitidas ao vivo pelos canais no YouTube da UnBTV e da SBPC, e presenciais, nos quatro campi da UnB: Darcy Ribeiro (Asa Norte), Ceilândia (FCE), Gama (FGA) e Planaltina (FUP). O melhor da ciência, tecnologia e inovação desenvolvidas no Brasil estará em destaque em mais de 200 atividades abertas ao público, entre conferências, mesas-redondas, painéis, webminicursos, exposições e sessões especiais.
>> Confira a programação por grandes temas
Eventos paralelos e atrações culturais também movimentam a Universidade, como a SBPC Vai à Escola (programação destinada aos estudantes e professores da educação básica), SBPC Jovem (exposição voltada para estudantes do ensino básico e público em geral), a ExpoT&C (mostra de ciência e tecnologia), a SBPC Cultural (apresentação de atividades artísticas regionais e discussões sobre temas relacionados às artes e à cultura), Sessão de Pôsteres (apresentação virtual), além da SBPC Afro e Indígena, SBPC Educação e a SBPC Inovação. Venha à UnB e participe!
Confira um balanço do primeiro dia de SBPC:
Leia também:
>> Financiamento da ciência e defesa da democracia são destaques de abertura oficial
>> Na Trilha da Ciência: um guia pela UnB durante a SBPC
>> Administração Superior apresenta ações ao Conselho Comunitário
>> Cultura e arte para celebrar o progresso da ciência e da educação pública na SBPC
>> Sexagenário da UnB ganha destaque na 74ª Reunião Anual da SBPC
>> 74ª Reunião Anual da SBPC traz à UnB nomes de destaque da ciência
>> O que você precisa saber sobre a SBPC
>> Protocolos auxiliam na notificação de casos de covid-19
>> Guias ajudam a garantir a segurança da comunidade no retorno presencial